O Príncipe
Nicolau Maquiavel
Comentário:
Você que não tem tempo ou não é habituado a ler, não pode deixar de conhecer
o pensamento lúcido de Maquiavel revelado em "O PRINCIPE" .
Após ler pela primeira vez, achei tudo muito atual, verifiquei como seus conselhos são postos em prática nos dias de hoje e como são necessários para alguém que esteja no comando de qualquer empreitada e queira ter sucesso. Compreendi também porque a Igreja Católica o colocou na sua lista de livros proibidos. Ao ler pela segunda vez, notei que, para cada conselho, Maquiavel vinha com uma introdução e depois com exemplos, que poderiam muito bem ser deixados de lado. Resolvi então, podar o supérfluo e ficar somente com os conselhos que resumem o espírito do livro. Aprecie! 27/03/2000
L. Valentin
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01 - Querer conquistar é coisa natural e
corriqueira para aqueles que podem fazê-lo, e, se o fizerem, serão louvados ou, pelo menos, não serão censurados.
Porém, quando o conquistador não tem força para a conquista, se
tentar fazê-la de qualquer maneira e não tiver sucesso, será alvo
de reprovação e censura.
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02 - O Príncipe tem três
formas de manter um estado conquistado:
a) Arruinando-o
b) Indo habitá-lo pessoalmente c) Permitindo que viva regido por suas próprias leis, porém fazendo-o pagar tributo ao conquistador e sendo governado por poucas pessoas, escolhidas pelo Príncipe. |
03 - Todas as pessoas, escolhidas pelo
Príncipe para compor o Governo, deverão ser
conscientizadas de que não poderão ser mantidas na posição sem
sua amizade e seu poder; desse modo farão de tudo para não perder essa
posição.
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04 - Aquele que se apossar
de um Estado, deve verificar todas as ofensas que precisa
fazer e
fazê-las todas de uma só vez,
a fim de não ter que
repeti-las todos os dias, tranqüilizando, com isso, os homens, beneficiando-os e conquistando-os.
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05 - Deve-se considerar que não há coisa
mais difícil de fazer, de êxito mais duvidoso, e mais perigosa de conduzir, do que introduzir novas instituições legais, pois o
reformador encontra fortes inimigos em todos aqueles que se
beneficiavam das instituições antigas e tíbios defensores em todos aqueles que das novas se beneficiariam.
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06 - Existem, praticadas
pelo Príncipe, as crueldades bem usadas e as mal
usadas.
São bem usadas, aquelas
feitas, em determinadas circunstâncias, pela necessidade de se obter segurança, mas nas quais
não se insiste, substituindo-as depois, por benefícios de maior utilidade possível, em
favor dos súditos.
Mal usadas são aquelas
que, a princípio, são poucas e depois, com o tempo, crescem, em vez de desaparecerem.
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07 - Mais facilmente se conserva o domínio
de uma cidade habituada a viver livre, fazendo-a governar por
seus cidadãos.
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08 - As injúrias devem ser
feitas todas de uma só vez; os benefícios devem ser feitos pouco
a pouco,
para que sejam mais bem
desfrutados.
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09 - A ascensão de alguém a alto cargo se
faz com o favor do povo ou com o favor dos grandes.
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10 - O que sobe ao poder com
o auxílio dos grandes mantém-se com mais dificuldade,
pois se vê rodeado de muitos que lhe parecem ser seus iguais
e por isso não pode comandá-los nem manobrar à sua
vontade.
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11 - O que sobe com favor do povo, vê-se
sozinho no poder e tem a seu redor quase todos que querem que
ele os obedeça.
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12 - O homem que queira agir
sempre como bom, acabará arruinando-se em meio a
tantos que não são bons.
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13 - Deve-se satisfazer o povo, pois contra
a inimizade do povo, o Príncipe jamais pode ter segurança, por tratar-se de muita gente; contra a dos grandes, pode ter
segurança, por serem eles poucos.
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14 - Os homens, quando
recebem o bem de quem esperavam o mal, ficam mais gratos ao
seu benfeitor.
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15 - Um Príncipe prudente deve pensar numa maneira de fazer com que seus cidadãos, sempre e em qualquer
circunstância, tenham necessidade do Estado e dele, com o que
lhe serão, depois, sempre fiéis.
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16 - Em toda cidade
encontram-se estados de espírito diferentes: o povo deseja não ser
dirigido e oprimido pelos grandes e estes, querem oprimir
e dirigir o povo.
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17 - Em todos os principados novos, os
homens, acreditando melhorar, mudam de bom grado de senhor, fazendo esta
crença com que tomem armas contra o senhor
atual.
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18 - O Príncipe não deve
importar-se com a reputação de cruel, pois a aplicação de
repressões a alguns, diminuindo a
criminalidade que atinge toda a comunidade, beneficiará a maioria.
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19 - A conquista, pela segunda vez, de um
país rebelado, torna-o mais difícil de se perder, pois o
senhor diante da rebelião, tem menos escrúpulos em cuidar de sua
segurança, punindo os culpados, esclarecendo
suspeitas e fortificando os pontos débeis.
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20 - Para firmar a segurança
do domínio, em países de língua igual, basta aniquilar a casa
do Príncipe que imperava sobre este país, conservando-se as condições
antigas, não promovendo a disparidade
de costumes e não se
alterando suas leis e tributos.
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21 - Deve o Príncipe, que se estabelece em
território dominado, tornar-se defensor dos débeis, sem
porém, fortalecê-los, e enfraquecer os poderosos, além de
cuidar que ninguém mais forte que ele se estabeleça
naquele território.
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22 - Não se pode satisfazer
a todos os grandes, sem prejudicar alguns
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23 - Quando os homens constatam que
pioraram, tendem a mudar de senhor, isso porque o Príncipe
necessita sempre humilhar os homens dos quais se
tornou novo senhor, vexando-os com a presença de novos
homens de armas.
Desse modo, torna seus inimigos aqueles
a quem ofendeu, ao ocupar o principado.
Não pode contar com a ajuda daqueles
que o puseram no cargo, por não conseguir satisfazê-los do modo
como esperavam e nem pode levantar armas contra eles,
por dever de gratidão e por ser necessário contar com a ajuda
dos naturais da província a fim de
dominá-la.
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24 - Quando se trata de
Estados com províncias e costumes diferentes, uma das medidas mais
eficazes seria o Príncipe ir habitá-lo.
Em lá estando, o
Príncipe vê nascer as perturbações e pode cortá-las desde o
início. Além disso, a Província não será espoliada por
seus representantes e os habitantes poderão
recorrer ao Príncipe, resultando disso em terem eles
mais razões para prezá-lo, quando são bons, e
temê-lo, quando são maus.
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25 - Deve-se notar que os homens devem ser
ganhos com agrados ou destruídos. Se puderem
vingar-se das ofensas leves, não poderão fazê-lo com
as graves, uma vez que estarão enfraquecidos.
Assim, a
ofensa que se faz a alguém deve ser de tal forma que não
deixe margem a futura vingança.
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26 - O Príncipe não deve
preocupar-se se for taxado de miserável, pois com o passar do
tempo, os súditos notarão que suas rendas lhe bastam
para defender-se
e realizar obras sem
onerar o povo, o que lhe conferirá a reputação de liberal,
pois usou de liberalidade com todos dos quais
nada tirou, cujo número é enorme e terá sido miserável
para todos aos quais nada deu, cujo número é
pequeno.
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27 - O Príncipe deve
aprender a não ser bom e usar o aprendido de acordo com a necessidade.
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28 - O que é melhor para o
Príncipe:
ser temido ou amado? O mais seguro é ser temido.
Os homens receiam menos
ofender aquele que se faz amar do que
aquele que se faz temer.
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29 - O Príncipe não pode nem
deve manter a palavra dada,quando as conseqüências
de sua observância se voltam contra ele ou
hajam desaparecidas as razões que a
motivaram.
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30 - O Príncipe deve ser
temido sem ser odiado; e o conseguirá sempre se não atentar contra os bens
e as mulheres de seus súditos.
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31 - Os homens sempre vivem satisfeitos nas
comunidades onde não foram usurpados nem os bens, nem a honra.
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32 - Os homens são muito
simples e sempre obedecem a necessidades presentes,
logo, quem engana, sempre encontrará
alguém que se deixe enganar
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33 - Os homens esquecem mais facilmente da morte do próprio pai que da perda do seu patrimônio.
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34- Sempre que o Príncipe
possuir boas armas, terá também bons amigos.
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35 - O Príncipe deve estimar os grandes, mas
também
não se fazer odiar pelo povo.
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36 - O Príncipe deve ser
raposa para reconhecer as armadilhas e leão para afugentar
os lobos.
Os que adotam somente a natureza do leão, não conseguem êxito, pois têm força, mas não se livram das armadilhas. |
37 - O Príncipe será desconsiderado, se for
tido como leviano, volúvel efeminado, pusilânime e
irresoluto.
Portanto, deve pautar seu procedimento
através
de ações nas quais se reconheça a grandeza, força de ânimo, gravidade e
fortaleza.
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38 - Um Príncipe,
freqüentemente, é forçado a não ser bom a fim de manter o
poder. Quando a maioria do povo é corrupta, convém ao
Príncipe adotar o seu (da maioria) caráter, para
contentá-la. Nesse caso AS BOAS
OBRAS O PREJUDICAM !
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39 - O Príncipe não deve temer conspirações
quando o povo estiver a seu lado; quando porém, o
povo for seu inimigo,deve temer a tudo e a todos.
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40 - O Príncipe não deve
tomar sobre si os encargos de julgamento.Essa função deve ser
delegada a outrem. A si, deve reservar o
direito de distribuir graças.
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41 - Os homens atêm-se mais às coisas do
presente que às do passado, e, quando, nas do presente,
encontram o bem, contentam-se e vivem despreocupados.
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42 - Numa contenda entre
partes, sempre ocorrerá uma destas situações:
Nos dois casos, deve
ter sempre em mente que é mais útil tomar partido
abertamente de um dos lados do que ficar neutro.
Na primeira, ao
tomar partido, caso seu lado vença, ao Príncipe ficará o
contendor devendo obrigação e amizade; se perder, acolherá e
ajudará o contendor,
ficando à espera que
haja uma mudança da sorte.
Ao ficar neutro, a parte vencedora não vai querer amigos suspeitos, que não a
ajudem na adversidade
e a parte vencida não o
acolherá, por não ter podido
contar com seu apoio na
hora em que precisou.
Na segunda, cuidará o Príncipe para sempre apoiar
o vencedor, o qual
ficará à sua mercê e o perdedor será
aniquilado.
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43 - Os homens são ingratos, volúveis,
dissimulados, covardes e ambiciosos, e, enquanto os
beneficias, são todos teus, oferecendo-te seus bens, seus filhos,
seu próprio sangue, a vida,
desde que não se mostre necessidade disso.
Quando porém, ela
se apresenta, eles se vão,
pois as amizades baseadas no interesse,
na ocasião necessária, delas não se pode usar.
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44 - A peste das Cortes são
os aduladores, onde são encontrados em grande quantidade.
Para livrar-se desse mal, basta fazer entender a
todos que o Príncipe não se ofende com a verdade, contudo,
quando todos podem dizer a verdade ao Príncipe,
configura-se aí, um estado de quebra de respeito e
anarquia.
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45 - A escolha de ministros ajuda o povo a
julgar o Príncipe.
Quando os escolhidos são eficientes e
fiéis, o Príncipe é reputado como sábio; porém, quando os
escolhidos são o avesso disso, será feito mau
juízo do Príncipe, que não soube escolher as pessoas
certas.
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46 - O bom ministro é aquele
que jamais pensa em si próprio, mas no Estado, e não
aborrece o Príncipe
com coisas que não lhe
dizem respeito.
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47 - Para manter um bom ministro, o Príncipe
deve sempre pensar nele, honrá-lo e torná-lo rico,
fazendo-o ver que, enquanto cuida do Estado, o Príncipe
vela por ele.
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48 - O Príncipe deve
abster-se de fazer graves injúrias aqueles que lhe servem por
dever de ofício, pois tais pessoas, cedo ou tarde,
procurarão vingar-se e a proximidade ao
Príncipe é temerária.
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49 - O Príncipe será melhor servido por
aqueles que,
inimigos a princípio, sendo levados a
assumir cargos
de administração, necessitam melhorar
sua imagem pública realizando obras, do que por outros,
que sendo servidores fiéis, relaxam em sua
obrigação.
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50 - É impossível a um
Estado SEMPRE tomar partido seguro, pois, invariavelmente,
quando se tenta evitar um inconveniente, se cai
em outro.
A prudência
consiste em conhecer a natureza dos inconvenientes
e tomar como
bom, o menos mau.
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51 - O Príncipe deve mostrar-se apreciador
das virtudes do trabalho, oferecendo oportunidades aos
homens habilidosos e honrados, cuidando para afastar do
povo o temor dos confiscos e impostos exagerados.
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52 - O Príncipe deve
ocupar-se com as diversas corporações e ofícios em que se divide a
população, reunindo-se com todas, algumas vezes por ano,
para dar mostrasde seu interesse e
solidariedade.
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53 - Em épocas apropriadas, deve o Príncipe
entreter a população com festas e espetáculos.
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54 - Os bons conselhos
sempre devem nascer da prudência do Príncipe, nunca, a prudência do Príncipe, nascer dos bons conselhos.
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55 - O Príncipe prudente deve escolher
homens sábios para seus auxiliares e, apenas a estes, conceder
a liberdade de dizer-lhe a verdade, e somente a
respeito daquilo que lhes for perguntado. Afora estes, não deve ouvir mais
ninguém, ir direto aos assuntos e manter-se
firme nas deliberações.
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56 - Um Príncipe deve
aconselhar-se sempre, mas quando quiser e não quando o quiserem
outros, devendo, aliás, desencorajar qualquer um a
aconselhá-lo quando ele não lho pedir.
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57 - No principio o mal é fácil de curar e
difícil de diagnosticar, mas, com o passar do tempo, (...) torna-se
mais fácil de diagnosticar e mais difícil de curar.
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58 - As guerras não se
evitam e, quando adiadas, trazem vantagem ao inimigo. (...)
não se deve
jamais deixar uma desordem prosperar para
evitar a guerra ...
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59 - As amizades que se obtêm mediante pagamento (...) se compram, mas não se possuem...
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60 - Existem três tipos de
cérebros:
Os primeiros são
excelentes,
os segundos, bons,
e os terceiros,
inúteis.
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em outras palavras:
Existem três tipos de pessoas:
- as que não sabem e sabem que não sabem;
- as que não sabem e não sabem que não sabem;
- as que não sabem e PENSAM que sabem.
As primeiras são desejáveis, as segundas inúteis e as terceiras nocivas.
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