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20 de abr. de 2013

O Dilúvio

04/05/2006
O Dilúvio

O relato do dilúvio babilônico é um poema inserido na epopéia do herói Gilgamesh. Essa narrativa está contida na plaqueta conhecida como “Plaqueta do Dilúvio”.
Gilgamesh foi um rei que se lançou numa aventura para encontrar os segredos da imortalidade. No caminho encontra Ziusudra, o sobrevivente do grande dilúvio provocado pelos deuses. Este, então conta como foi avisado por Enki, construiu um barco e salvou toda a sua família e amigos, bem como artesãos, animais e metais preciosos.

Existem diversas grafias para os nomes próprios. Assim Umnapishtim, Utunapishtim ou Utnapishtim é a forma babilônica do sumério Ziusudra, que em grego é Xisuthros. Ea em babilônico é Enki em sumério. Ziusudra era rei de Shuruppak. Eis um resumo da narrativa:

A humanidade se tornou rebelde, não aceitando e desobedecendo aos deuses. Os homens caíram na anarquia e na revolta. Os deuses, liderados por Enlil, lamentando terem criado a humanidade, tomam a resolução de exterminá-la; todos estão de acordo; somente um deles, Ea, revela o projeto a seu servidor, Umnapishtim. Aconselha-o a fabricar um barco nas medidas que lhe indica e, depois, subir nele com os seus, levando também os animais; escapará assim à inundação sob a qual os deuses submergirão o mundo. Assim se fez; Umnapishtim, o privilegiado, subiu na embarcação.

Tudo quanto eu tinha, disse ele, embarquei nele, toda semente de vida fiz subir ao barco; toda minha família e minha parentela, o gado do campo, os animais do campo, os artesãos, a todos fiz subir. Shamash havia fixado o momento: "O senhor das trevas à tarde fará chover uma chuva de impurezas. Entra no interior da embarcação e fecha tua porta." (A. Heidel, The Gilgamesh Epic, Chicago, 1946)

O dilúvio chegou, tal como estava predito, tão violento que os deuses, mesmo Ishtar, apesar de haverem permitido o acontecimento, se arrependeram:

A tormenta do sul soprou durante um dia, enquanto ganhava força, à medida que bufava ocultando as montanhas e envolvendo as pessoas como em uma batalha. Não se enxerga nada. Não se pode reconhecer as pessoas. Os deuses se amedrontaram com o dilúvio e fugindo, subiram ao céu de Anu.

Os deuses se amontoaram contra o muro exterior como cães encurralados. Ishtar gritou como uma mulher no parto. A deusa de voz mais doce dentre os deuses, geme: “Os dias antigos se transformaram em lama, porque a maldade falou na assembléia dos deuses. Como pode a maldade ter voz na Assembléia dos deuses, ordenando uma guerra para destruir meu povo, o qual eu mesma dei a luz, semelhante a desova dos peixes, cujos filhos enchem o mar?” Os deuses Anunnaki choram com ela. Os deuses, sentados humildemente, com os lábios apertados, choram. 

O vento do dilúvio sopra por seis dias e seis noites, enquanto a tormenta do sul varre a terra. No sétimo dia, a tormenta do sul, transportadora do dilúvio, diminuiu sua força. O mar se acalmou, a tempestade acabou e parou o dilúvio. Contemplei o tempo: a calma havia se restabelecido e toda a humanidade tinha voltado a ser barro. (...) Soltei uma pomba. A pomba voou, mas voltou, pois não havia local para pousar. Então soltei uma andorinha. A andorinha voou, mas voltou, pois não havia local para pousar. Depois soltei um corvo. O corvo foi embora e, percebendo que as águas haviam baixado, se alimenta, plana no ar, grasna e não volta. Então soltei todos da arca, que se espalharam aos quatro ventos e ofereci um sacrifício. ( ... ) Os deuses se apinharam como moscas em volta de minhas oferendas. Quando, enfim, a suprema deusa chegou, levantou as grandes jóias que Anu lhe dera: “Deuses! Tão certo como estas jóias estão em meu colo, não esquecerei. Recordarei estes dias, sem jamais esquecê-los. Que os deuses se aproximem das oferendas, menos Enlil, porque, sem motivo, provocou o dilúvio e condenou meu povo à destruição.” (A. Heidel, The Gilgamesh Epic, Chicago, 1946)

Após isso, chega Enlil, que enfurecido por descobrir que alguns humanos haviam escapado da destruição tenta terminar sua obra, no que é impedido por Ishtar, que lhe censura violentamente. Ishtar é mais poderosa e Enlil, para não ficar desmoralizado, toma Ziusudra e sua mulher, leva-os ao topo do barco e os sagra deuses, ordenando que habitem a foz dos rios.


Essa é a narrativa mais antiga – DOCUMENTADA – da ocorrência do dilúvio. Todas as outras histórias sobre o dilúvio derivam dessa, inclusive a de Noé. Quase todas as culturas da terra possuem um mito sobre um antigo dilúvio. Os detalhes variam, porém o foco principal é sempre o mesmo: todos morreram, menos alguns poucos felizardos.

A história de Noé é a mais conhecida. Os antigos gregos e romanos cresciam ouvindo a história de Deucalião e Pyhrra, que salvaram seus filhos e animais embarcando num barco em forma de uma caixa gigantesca. As lendas dos irlandeses falam da Rainha Cesair e sua corte, que navegaram por sete anos para fugir das inundações que assolaram a Irlanda. Os exploradores europeus ficaram surpresos com as lendas dos índios americanos que eram semelhantes à história de Noé.

O mito, porém, acaba vencido pela ciência. Os geólogos da Universidade de Columbia William Ryan e Walter Pitman, acreditam que podem explicar a persistência em todas as civilizações da lenda do dilúvio. Sua teoria é que no final da Idade do Gelo, com os glaciares derretendo, o nível do mar subiu. Devido a isso uma muralha de água começou a pressionar o local onde hoje se situa o estreito de Bósforo, que não existia naquela época.

Ryan e Pitman afirmam que na Idade do Gelo, o Mar Negro era um lago de água doce, rodeado de terras agricultáveis. Há cerca de 12 mil anos, ao finalizar-se a Idade do Gelo, a Terra começou a esquentar. As vastas planícies de gelo que cobriam quase todo o hemisfério Norte começaram a derreter. Como conseqüência disso, os mares e oceanos, começaram a subir. Três mil anos depois, o mar Mediterrâneo transbordou.

As águas começaram a invadir o norte, na área que hoje é a Turquia. Provavelmente o estreito de Bósforo que hoje possui cerca de 32 km de comprimento por 800 metros de largura em média, terminaria, do lado do Mar Negro, com um paredão, que, ao ser pressionado pelas águas, num determinado dia, entrou em colapso, ensejando que uma imensa coluna de água se lançasse no Mar Negro, com a força de 200 vezes das cataratas do Niágara. O mar Negro começou a subir 15 centímetros por dia, e os campos agricultáveis que ficavam em suas margens foram submersos.
Se imaginarmos que isso aconteceu à noite, durante uma tempestade, estaremos diante do cenário do dilúvio. A história desse evento catastrófico ficou gravada na memória dos aterrorizados sobreviventes que a passaram adiante, tornando-se uma lenda para todas as culturas da região.

Para provar essa teoria, o explorador Bob Ballard (o mesmo que encontrou os destroços do Titanic), sob os auspícios da National Geographic Society, realizou uma expedição em 1998, visando encontrar a existência de antigas habitações no fundo do Mar Negro. Foram encontrados vários indícios de colonização humana nele, o que motivou outra expedição em 1999, onde foi encontrada, no fundo do mar, as margens do lago, antes da inundação, conchas de moluscos de água doce e vários sinais de atividade humana.

Pode-se acompanhar o progresso da expedição em
http://www.nationalgeographic.com/blacksea/ax/frame.html

A National Geographic também disponibiliza um documentário sobre a expedição, com uma hora de duração. Imperdível.
Ainda no site, pode-se ler a entrevista do Dr. Fredrik Hiebert, Arqueólogo Chefe da Expedição ao Mar Negro 2000. Dr. Hiebert é professor de antropologia e arqueologia do Museu de Antropologia e Arqueologia da Universidade de Pennsylvania, pesquisador adjunto do Instituto de Exploração e professor adjunto do Instituto de Arqueologia Náutica.
Na entrevista, ele expõe todas as provas descobertas que mostram que realmente o Mar Negro era um lago e, a 91 metros de profundidade, se encontram seus bordos e os vestígios de habitações humanas.

L Valentin
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