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4 de set. de 2016

Madre Teresa, mais uma santa nem tanto...

Fraude Teresa

L Vallejo
04/09/2016


Quando o imperador Teodósio (Flavius Theodosius [379-395]) decretou em 391 o cristianismo como religião oficial de Roma, completando o trabalho iniciado pelo imperador Constantino em 313, os sacerdotes dos cultos aos diversos deuses do panteão romano foram absorvidos pela clero da nova religião. E a igreja cristã, que crescera enormemente nesse intervalo de 78 anos, agora como religião oficial, se transformou, principalmente em sua liturgia e pompa, encampando a suntuosidade e circunstância dos  cultos pagãos espalhados por todo o império.

Quem tenha estudado a história das religiões - veja bem, eu disse “estudado” e não tomado conhecimento por ouvir dizer ou por ter visto na Televisão – sabe que religião sempre foi e sempre será um instrumento de dominação para conter e dirigir a vontade humana. Isso fica patente quando se acessa a base de conhecimento das duas religiões mais antigas do mundo que possuem documentação de seu funcionamento: as religiões da Suméria e do Egito.

A adaptação dessas religiões pelo zoroastrismo foi a fonte bebida pelos helênicos e romanos para criar seus cultos, bem como serviu de inspiração, algumas vezes com plágio descarado, para o judaísmo. O cristianismo é uma mistura de todas elas. 

No entanto, agora, o que nos interessa saber é que, depois que a escrita cuneiforme foi decifrada e os milhares de plaquetas sumérios puderam ser estudados, verificou-se que uma característica daquele povo era ser extremamente supersticioso  tendo sua vida inteiramente assolada por centenas de deuses protetores ou padroeiros. O sumério não mexia uma palha sem consultar oráculos, logicamente mediante pagamento aos sacerdotes. Além de deuses para cada dia, existiam ainda os deuses protetores para  cada iniciativa: do casamento, do nascimento, das viagens, da colheita, da construção civil, da guerra, da morte, etc. 

Essa tendência também é vista entre os hindus e  egípcios, ambos com um enorme panteão de deuses protetores.  Do Egito tal tendência se espalhou para os cultos micenos e depois para os cultos greco-romanos.

Então chegamos a 391 em Roma. O cristianismo não admite outros deuses como as antigas religiões, mas o povo estava acostumado e acreditava em seus deuses protetores. A deusa Bastet (corpo de mulher e cabeça de gato) foi adorada por mais de 3 mil anos no Egito. O simpático Lord Ganesh  (corpo humano e cabeça de elefante) ou Hanuman (corpo humano e cabeça de macaco) são adorados até hoje na Índia, em um culto que já dura mais de 5 mil anos. Será que essa nova religião deixaria o povo sem seus protetores ou padroeiros?

Essa questão importante não poderia ficar sem solução, pois se tal acontecesse, era possível que o povo se voltasse para as religiões que tinham seus deuses padroeiros. A solução encontrada foi simples: mudar o título do padroeiro. Agora, não mais seriam chamados de “deuses” mas sim de “santos”. Voilà!  E a Igreja cristã começou a fabricar “santos”; no início, comedida e criteriosamente. Atualmente, a ICAR (Igreja Católica Apostólica Romana), apostando na falta de discernimento, de cultura e de conhecimento do povo, aliado a tremendas superstição e inferência, produz santos desregradamente, com uma desfaçatez e falta de pudor que põe à mostra a sua intenção de manter no cabresto a maior quantidade de pessoas possível.

Seguindo  tal política, o atual  Papa  tem caprichado na produção de santos, que é feita - na realidade - não pelos méritos da pessoa, mas sim na quantidade de “seguidores” do personagem. Assim, hoje saiu do forno Madre  Teresa de Calcutá enquanto na fábrica,  os ingredientes estão sendo misturados para produzir em breve  um pão de ló azedo, chamado Padre Cícero.

O processo para se tornar um santo geralmente não pode começar antes de cinco anos após a morte da pessoa. Historicamente, os santos foram canonizados muitos anos depois de sua morte – São Beda teve que esperar 1.164 anos - mas, recentemente, o processo se acelerou.

Após essa espera, são recolhidas pelo seu bispo,  provas e depoimentos de testemunhas sobre a vida e as obras da pessoa. Se houver provas suficientes, o bispo pede à Congregação do Vaticano para as Causas dos Santos para abrir um processo. O candidato pode agora ser chamado de "Servo de Deus".

Se, após uma investigação, a Congregação aprova o processo, ele é passado para o papa que pode declarar que o candidato viveu uma vida de "virtudes heroicas". O candidato pode então ser chamado de "Venerável".

É necessário ser encontrado um milagre para pavimentar o caminho para a beatificação. Ele deve ter ocorrido depois que o candidato tenha morrido, mostrando que ele está no céu e tem o poder de intercessão. Somente mártires - aqueles que morreram por sua fé - podem pular esta etapa. O candidato torna-se "beato".

Para a canonização, um segundo milagre deve ser reconhecido. Feito isso, depois de uma missa especial, o Papa recita uma oração em latim que declara que a pessoa é santo.

Madre Teresa é o santo canonizado de número 640 desde 1963, refletindo um aumento enorme no número de santos criados por papas modernos. Nos 375 anos anteriores, apenas 218 santos foram canonizados.

Madre Teresa foi batizada como Anjezë Gonxhe Bojaxhiu, tendo nascido em 1910 no lugar que hoje é a  Macedônia. Se tornou freira aos 18 anos,  nas Irmãs de Nossa Senhora do Loreto (Instituto Beatíssima Virgem Maria), na Irlanda.   Em 1946 teve uma visão que disse ser de “um chamado no chamado” ou seja, um chamado para viver e trabalhar  entre os pobres. Dois anos depois se mudou para  Calcutá onde ficou até morrer. Já na Índia, a serviço dessa congregação como professora, fundou em 1952 o “Lar dos Moribundos” (House of the Dying), em Kalighat.  Mais de uma década depois, em 1965, a Santa Sé aprovou a Congregação Missionárias da Caridade e, entre 1968 e 1989, estabeleceu a sua presença missionária em países como Albânia, Rússia, Cuba, Canadá, Palestina, Bangladesh, Austrália. Estados Unidos da América, Ceilão, Itália, antiga  União Soviética, China, etc.

Madre Teresa é um exemplo do poder da mídia moderna  em convencer  o mundo de que pau é pedra e 2 + 2 são cinco. A mídia vive de heróis que apresenta ao povo que se satisfaz até com um cachorro herói. E criou o mito de Madre Teresa, que agora tem sua coroação de êxito com a canonização. A mídia diz que o mundo precisa de heróis e a Igreja, que precisa de santos.  Madre Teresa se encaixa nos dois perfis. Mas quem foi na realidade Madre Teresa?

Em 1950 Madre Teresa fundou uma ordem chamada “Missionaires of Charity” (Missionários da Caridade) contando com 12 membros. Hoje a ordem tem 5600 membros e centenas e milhares de voluntários, dirigindo orfanatos, escolas e asilos para doentes e moribundos, abrigos  para sem teto, clínicas de saúde e outros serviços em 139 países. Em 1979 recebeu o prêmio Nobel da Paz. Realmente, o tamanho da obra tem seus méritos, mas, quanto à qualidade dos serviços e quanto a autora, a pessoa, que se pode dizer deles?

A realidade  é a verdade que a mídia e a Igreja escondem, mas que jamais foram fatos ocultos e sempre estiveram à mostra para quem quisesse pesquisar. E, quem pesquisou descobriu que Madre Teresa  era “uma criatura da escuridão medieval e uma figura fantasmagórica e falsa”. Esse é o depoimento do Dr. Aroup Chatterjee, um médico que cresceu em Calcutá e vive na Inglaterra.  Diz ele: “Muitos patifes se tornaram santos católicos. O que me incomoda é a atenção que o mundo dá a esta cerimônia supersticiosa de magia negra. Está claro que o povo é enganado, pois tem a mentalidade de rebanho. Mas a mídia tem a responsabilidade de não compactuar com isso.

Em seu livro de 2003, “Mother Teresa: The Final Veredict”, Dr. Chatterjee  se baseia em dezenas de testemunhos de pessoas que trabalharam na Missionários da Caridade em Calcutá. No livro relata que o tratamento dado aos doentes e moribundos era negligente. As seringas eram reutilizadas sem esterilização, o tratamento para quem sentia dores não existia ou era inadequado e as condições de higiene eram péssimas.  É claro que Madre Teresa não estava lá: estava viajando pelo mundo afora para se encontrar com líderes políticos.

O escritor Christopher Hitchens em seu livro “The Missionary Position”, descreve  Madre Teresa como “uma religiosa fundamentalista, uma operadora política, uma pregadora primitiva e uma cúmplice do governo mundial secular".  “Sua intenção” continua ele, “não é uma postura honesta para aliviar o sofrimento, mas sim a promulgação de um culto baseado na dor, sofrimento e submissão”.

Já Susan Shields, uma ex funcionária da Missionários da Caridade, relatou que a ordem recolhia vastas somas de dinheiro, onde o grosso ficava nas contas bancárias e muito pouco era investido para melhorar as condições dos que estavam nos abrigos e clínicas da ordem.

Robin Fox, editor do periódico “The Lancet”  descreveu em 1994, a negligência e má vontade das freiras e voluntários, além da falta  de pessoal medicamente treinado nas casas da ordem.

O jornalista Donal Macintyre, trabalhou uma semana disfarçado na Missão da Ordem em Calcutá para crianças sem lar. Em um artigo para a imprensa ele descreve cenas penosas: “Na maioria das vezes, os cuidados que as crianças recebiam eram ineptos, não profissionais e em alguns casos, violentos e perigosos”.

Em 2013, um estudo da Universidade de Montreal concluiu que o Vaticano ignorou “o modo bastante duvidoso de Madre Teresa tratar os doentes, sua relação questionável de contatos políticos, sua gestão suspeita em  lidar com milhões de dólares e suas posições dogmáticas sobre o aborto, contracepção e divórcio”. A conclusão desse estudo é que a obra de Madre Teresa não pode ser classificada em nenhuma hipótese de “caridade”.

Hitchens em seu livro mostra que ela apoiava os ricos e poderosos, sem jamais criticá-los, enquanto pregava obediência e resignação aos pobres. E cita como exemplos a sua abjeta bajulação a todas as ditaduras sangrentas do mundo como os Duvalier (doaram grandes somas para a Madre), no Haiti, Enver Hoxha, na Albânia e os esquadrões da morte na Nicarágua e Guatemala. Há registros em filme de suas visitas a esses países e do modo servil como posava ao lado de seus ditadores (ou levava flores para seus túmulos, no caso Enver Hoxha, um sangrento ditador comunista).

E mais:  O modo como aceitava dinheiro e favores de ladrões e corruptos. Um dos casos mais famosos é o de Charles Keatings, do Lincoln Savings and Loan, da Califórnia. Charles era um católico fundamentalista. Foi condenado a 10 anos de prisão por roubar cerca de 252 milhões de dólares de 17.000 fundos de aposentadoria de gente humilde. Mas ele deu a Teresa mais de um milhão de dólares e lhe emprestava com frequência seu avião particular. Em troca, ele fazia uso de seu prestígio como “santa”.

As pessoas enviavam a ela milhões e milhões de dólares em donativos para que ela construísse seus hospitais. Apenas numa conta nos EUA, havia mais de 50 milhões de dólares. O resto estava espalhado pelo mundo (menos na Índia, onde ela teria que prestar conta pelo que recebia). Esse dinheiro era usado para construir novos conventos da ordem pelo mundo. Quando ela morreu, as irmãs já estavam instaladas em 150 países.

Porém havia o reverso da medalha: Seus hospitais eram, na verdade, galpões rústicos e mal equipados onde as pessoas iam para morrer. Não havia médicos nem higiene e os “diagnósticos” eram feitos por leigos, como as irmãs e os voluntários. E não havia interesse em se encaminhar os doentes para hospitais de verdade. A ideia era a de que se deitassem nas macas ou no chão e sofressem até morrer. Em todos eles havia um quadro na parede que dizia: “Hoje eu vou para o Céu”. Faltavam morfina, anestésicos e antibióticos. Apesar dos milhões nos bancos, que permitiriam a construção de hospitais-modelo, a economia era a palavra de ordem. As injeções, quando havia o que injetar, eram feitas com agulhas lavadas na torneira e que eram usadas até ficarem rombudas e provocarem enorme sofrimento nos doentes. Penalizadas, as voluntárias pediam dinheiro para comprar agulhas novas, mas as irmãs insistiam na virtude da pobreza. E quando uma irmã ficava doente? “Reze”, era a resposta.

Apesar de toda sua fortuna, Madre Teresa insistia para que a  imagem de sua ordem fosse a de irmãs pobres e mendicantes. Tudo tinha que ser mendigado a cada dia: comida, roupas, serviços. Se a coleta fosse pequena, comia-se menos.

Hitchens conclui: “Madre Teresa não foi uma amiga dos pobres. Foi amiga da pobreza. Ela disse que o sofrimento era um dom de Deus. Ela passou a vida inteira  lutando contra a única cura que existe para a pobreza, que é a emancipação das mulheres e sua libertação de um curral de reprodução compulsória”.

Hitchens foi violentamente criticado pela mídia e cristãos. Seu trabalho provocou muitas reações de repúdio. Seus críticos citaram abundantemente os Evangelhos e o acusaram de crueldade com uma mulher idosa, santa e humilde — mas em nenhum momento contestaram os fatos apresentados.

A Universidade de Montreal no seu estudo biográfico profundo sobre esta figura que a grande mídia ajudou a tornar mítica, considerou  extremo, perturbador e quase patológico a devoção e amor ao sofrimento dos seus pacientes, a sua recusa em providenciar apoio clínico ou paliativo, a sua ligação com líderes de índole duvidosa (ditadores p.e.) e a forma como tratava as suas freiras.

Segue o estudo: “O mito do altruísmo e generosidade em torno de Madre Teresa é desmontado pelo estudo de Serge Larîvée e Genevieve Chenard do Departamento de Psicoeducação da Universidade de Montréal e Carole Sénéchal da Universidade de Ottawa e Faculdade de Educação. O estudo publicado na edição de Março no jornal Estudos de Religião e Ciências Religiosas (...) Como resultado os 3 investigadores coletaram 502 documentos na vida e obra de Madre Teresa e após eliminarem os duplicados consultaram os 287 documentos para fazerem a sua análise, representando 96% da literatura sobre a fundadora da Ordem dos Missionários da Caridade". 

Fatos desmontam o mito de Madre Teresa. Neste estudo, Serge Larivée e seus colegas citam ainda uma série de problemas não analisados pelo Vaticano quando do processo de canonização.

1 -  Ela estava apaixonada pelo sofrimento e simplesmente não prestava os devidos cuidados aos doentes que procuravam em vão apoio médico
Na época da sua morte, a Madre Teresa tinha já 517 missões estabelecidas que recebiam os pobres e os doentes em mais de 100 países. As missões são batizadas de ‘Casas para os Moribundos’ por médicos que visitavam as instalações. Dois terços das pessoas recebidas por estas missões esperavam encontrar apoio médico e tratamento, enquanto um terço apenas se deitava à espera da morte sem receber qualquer cuidado. Os médicos relatam falhas de higiene significativas, condições adversas e falta de qualquer tipo de cuidado médico aos ‘internados’, comida ou analgésicos. O problema nunca foi falta de dinheiro — a Fundação criada por Madre Teresa tinha centenas de milhões de dólares — mas sim uma concepção de sofrimento e morte [quase sádica]: “Existe algo de muito belo em observar os pobres aceitarem o sofrimento, tal como Jesus fez. O mundo ganha muito com o seu sofrimento”, foi a resposta dela [Madre Teresa] às críticas do jornalista Christopher Hitchens. No entanto, quando a própria Madre Teresa precisou de cuidados paliativos, recebeu-os num moderno hospital americano.
2 -  Ela gerenciava a ajuda aos outros com mão de ferro, recebeu milhões de doações inclusive de ditadores pelo mundo afora.

Madre Teresa era muito generosa nas suas orações, mas bastante comedida no gasto dos milhões da sua fundação quando se tratava de aliviar sofrimento de qualquer espécie. Durante várias cheias na Índia ou na explosão da fábrica de pesticidas de Bhopal, ela ofereceu orações e medalhas da Virgem Maria, mas nenhuma ajuda monetária. Por outro lado, não tinha qualquer problema em aceitar prêmios (como a Legion of Honour)] e doações de ditadores (como Duvalier do Haiti). Milhões de dólares foram transferidos para as várias contas bancárias da MCO [Missões de Madre Teresa], mas a maioria das contas foi mantida em segredo, diz Larivée: “Dado o gasto parcimonioso da gestão de Madre Teresa, podemos bem perguntar onde foram parar os milhões de dólares que estavam destinados aos mais pobres dos pobres?”
3. Ela foi deliberadamente promovida pelo jornalista da BBC Malcolm Muggeridge (simpatizante da luta contra o aborto) e a sua beatificação foi baseada em falsas premissas
(...) Em 1969, Muggeridge fez um documentário elogioso da missionária promovendo-a e atribuindo-lhe o “primeiro milagre fotográfico”. Depois disto, Madre Teresa de Calcutá viajou por todo o mundo recebendo inúmeros prêmios, incluindo o Nobel da Paz. No seu discurso de aceitação [do Nobel], falando sobre as mulheres da Bósnia que eram violadas pelos Sérvios e procuravam o aborto, ela disse: “Sinto que o maior destruidor da paz dos dias de hoje é o aborto, por ser uma guerra direta, um assassínio feito pela própria mãe.”

(...) Depois de sua morte, o Vaticano decidiu dar os habituais cinco anos para abrir o processo de beatificação. O milagre atribuído a Madre Teresa foi o de cura da indiana Monica Besra, que sofria de dores abdominais intensas. A mulher testemunhou que se curou por intercessão de Madre Teresa.  Os médicos demonstram o contrário: o quisto nos ovários e a tuberculose que a mulher tinha foram curados pelos medicamentos que eles lhe deram [durante mais de um ano]. O Vaticano, mesmo assim, concluiu que se tratava de um milagre.  A popularidade de Madre Teresa era tal que se tornou intocável pela população, que já a declarara santa. “O que podia ser melhor do que a beatificação seguida de canonização deste modelo da igreja para inspirar os fiéis especialmente quando as igrejas se encontravam mais vazias e a autoridade romana estava em declínio?”, pergunta Larivée.

E o milagre que foi aceito como evidência de sua santidade é, no mínimo, suspeito, quando não, uma farsa vergonhosa: Monica Besra, 30 anos, analfabeta, da aldeia de Dangram, a noroeste de Calcutá, em 1998, um ano após a morte de Madre Teresa, se disse curada de um tumor no ovário. Ela, inicialmente relatou que um raio de luz saiu da foto de Madre Teresa que estava na parede e atingiu sua barriga curando-a do câncer. Mais tarde, contou outra história, dizendo que colocou na barriga uma medalha com  efígie de Madre Teresa e ficou curada.  Os médicos do hospital Balurghat entre eles o Dr. Ranjan Mustafi, afirmam que ela nunca teve um tumor canceroso, tinha apenas um cisto e a cura foi resultado do tratamento a que ela foi submetida, o que é atestado também por seu marido, Seiku Murmu. Em agosto de 2001 o “milagre” foi informado ao Vaticano e aceito duas semanas depois, tendo início o processo de beatificação. A irmã Betta, das Missionárias da Caridade, pediu para ver o prontuário da paciente, onde sonografias e relatórios mostravam a evolução do tratamento, e agora se recusa a devolvê-lo ou a fazer comentários. O detalhe é que nenhum médico que tratou de Monica foi entrevistado pelo Vaticano.


Esses são os fatos. E o rebanho continua a pastar docilmente, deixando-se conduzir sem resistência ao matadouro, quando o pastor assim determinar.  E Hitchens adverte: “Ela foi uma fanática, uma fundamentalista e uma fraude. E uma Igreja que oficialmente protege aqueles que abusam de inocentes nos deu outro sinal claro, mostrando ao lado de quem prefere estar quando se trata de questionamentos éticos e morais”.
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http://larepublica.pe/mundo/726978-la-madre-teresa-de-calcuta-es-un-fraude-de-la-iglesia

http://portugalmundial.com/2013/07/investigacao-biografica-expoe-a-verdade-sobre-madre-teresa-de-calcuta/#

http://www.naturalthinker.net/trl/texts/Hitchens,Christopher/MissionaryPosition.html

http://www.eurekalert.org/pub_releases/2013-03/uom-mta022813.php


O Anjo do Diabo
https://www.youtube.com/watch?v=9WQ0i3nCx60

https://www.youtube.com/watch?v=iKkcDgeYBdk


https://www.youtube.com/watch?v=NJG-lgmPvYA

20 de ago. de 2016

Fim do Mundo: Surge Mais um Enganador

Fim do Mundo: Surge Mais um Enganador

L Vallejo
20/08/2016
O pastor Ricardo Salazar, um advogado peruano que vive no Japão, planeja ter a maior igreja cristã do mundo. Em seus vídeos no youtube narra sua história.
Salazar é o líder da “Global Church of the King of Israel” (Igreja Global do Rei de Israel) sediada no Japão.  Na internet é chamada de “Global House”. Aí podemos conhecer a figura:
Este trabalho nasceu no sábado, 25 de dezembro de 2010 no centro de Tóquio, a data em que o Senhor disse que iria começar a mover seu Espírito para esta nação, o tempo em que serão vistos milagres prodigiosos no Japão. O pastor da obra é Ricardo Salazar, um homem de renome nas comunicações. Além de advogado, grande desportista, locutor de rádio e publicitário, produtor de TV, cinegrafista e editor de áudio-visual, apresentador de TV, ator de cinema, mestre de cerimônias, jornalista e recentemente, o líder espiritual desta obra do Senhor, já que a visão que tem este homem de Deus é conquistar o povo japonês com a Palavra de vida e para isso utilizar os meios de comunicação que lhes foram dados pelo céu.

Conta ele que, antes de se transformar em vidente, há dois anos, foi contatado por pessoas que lhe disseram que Deus iria usá-lo como um instrumento para divulgar o que estaria previsto para acontecer. Ele toma conhecimento desses eventos através de "sonhos, visões e vozes audíveis", de acordo com o vídeo.
O Pastor Salazar afirma conhecer a data do começo da Terceira Guerra Mundial:  A China e Rússia vão começar a Terceira Guerra Mundial contra os EUA no prazo de três meses após a Europa fechar suas fronteiras devido à crise dos migrantes, de acordo com esse Nostradamus moderno.

Ainda segundo o Pastor Salazar - o mais recente de uma linha de profetas religiosos apocalípticos - também está prevista a queda de um gigantesco asteroide para esmagar a Terra, provocando terremotos em todo o mundo e mais de 1,2 bilhão de mortes, bem como a segunda vinda de Cristo.

Ele está tão confiante que está certo, em um assunto no qual, antes dele, todos os outros auto-intitulados profetas falharam, que montou um cronograma detalhado de eventos a partir deste ano até a segunda vinda de Cristo em 2023.
Também postou um vídeo no YouTube, amedrontando as pessoas, incitando-as a comprar comida, água e medicamentos durante pelo menos um ano.

O narrador do vídeo, publicado pela “Profecias Personales”, disse: "Nós oramos, oh Senhor, que este vídeo possa despertar muitas pessoas em todo o mundo sobre o julgamento que Tu estás prestes a executar no mundo”.

Ele está exagerando ao imitar Nostradamus, com as previsões de fim de mundo que variam de asteroides, a terremotos e vulcões, dizendo ainda que o CERN criará um buraco negro que vai engolir o planeta.
E mais: o pastor Ricardo Salazar, já decretou a sorte de todos os profetas antes dele, alegando que muitos deles morreriam durante os desastres, como castigo por divulgar datas falsas. No vídeo o narrador acrescentou: "Nesse julgamento, nosso senhor vai ser muito severo contra os pastores e falsos profetas, que têm mentido para a igreja e divulgado um falso evangelho. Ele vai punir esses líderes religiosos que têm procurado o ganho econômico ao invés de pregar o evangelho. Foi revelado ao Pastor Salazar que muitos desses falsos profetas do passado vão morrer durante esses desastres e vão ser substituídos por outros que temem a Deus e fazem a Sua vontade”.

Então, qual será o nosso destino, de acordo com o Pastor Salazar?
• A Europa vai fechar as suas fronteiras aos refugiados, sendo seguida por outros países, incluindo os EUA, onde será imposta a lei marcial.
• Primavera 2016:  A China vai atacar o Japão
• abril 2016: Uma estrela se tornará visível, ficando maior a cada noite, a Rússia confirma que um asteroide está chegando.
• 15 a 17 de Maio: Às 02:20 hora local de Puerto Rico ao largo da costa, um asteroide de 5,6 milhas atingirá a Terra. Ele vai causar terremotos em todo o mundo e tsunamis que matarão inicialmente com 1,2 bilhão de pessoas, sendo que o número de vítimas continuará subindo.

• Pouco depois: Vulcões em todo o mundo, incluindo o Yellowstone, nos EUA, vão entrar em erupção, emitindo cinzas que irão bloquear o sol e causar uma era glacial que durará um ano.  Um grande pedaço da Califórnia vai desaparecer.
• 16 de junho de 2016: A Terceira Guerra Mundial irrompe quando a Rússia e a China atacarão os EUA que estarão bastante enfraquecidos.
• 25 de outubro de 2016: A aliança Rússia/China ganha a Terceira Guerra Mundial.
• Março de 2017: O Yen chinês se torna a nova moeda global.
• Final de 2018 / início de 2019: Rússia ataca Israel.
• 2020: O Anticristo chega à Terra e governará o mundo.
• 2023: A Segunda Vinda de Cristo e a salvação da humanidade.

Diante de tão específica cadeia de eventos, devemos ficar preocupado?

Bem, realmente não, já que as visões de Pastor Salazar seguem uma longa linha de profecias catastróficas daqueles que tentaram prever o fim dos dias e, até agora, nenhum deles acertou.
Os cientistas e comentaristas pediram calma e apontaram quantas profecias falsas para o fim do mundo historicamente foram feitas que nunca se materializaram.

O Professor Gary Shogren, um ex-pastor que estudou o Novo Testamento na Universidade de Aberdeen, disse: "Você jamais ficará pobre se fizer previsões sobre o apocalipse". A trilha do Pastor Salazar prova isso.

Salazar está adotando uma tática aparentemente suicida, ao divulgar datas e hora de catástrofes. É uma aposta alta, mas ele conta com o funcionamento emocional do pensamento da multidão: enquanto  erra nas profecias, o povo sem raciocínio acha normal e não vê motivos para depreciá-lo ou para deixar de escutá-lo. Continua com a fama de “homem de deus” e é respeitado. Sabedor disso, ele faz centenas de previsões, para aumentar a chance de acertar apenas uma. Os “profetas” normais fazem profecias vagas, sem data ou hora, assim fica mais fácil encaixar um fato ocorrido dentro da profecia e sair ileso quando as mesmas não se realizam. Já Salazar, marcando data e hora, se errar não perde nada, mas, se por uma incrível coincidência, acertar, ganhará uma fama retumbante e talvez se torne um guru universal. Esta é a sua aposta.

No ano passado (2015), ele previu que em 22 de julho um terremoto de magnitude 10,2 varreria todos os EUA e Japão e que em 22 de agosto, uma chuva de meteoritos iria queimar um terço das florestas do mundo. Em seguida, ele previu pânico global, depois que um asteroide explodisse acima da Terra em 8 ou 9 de outubro.

Nada disso aconteceu, então vamos esperar que seu acerto seja idêntico com o resto de suas profecias.
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Veja Mais:

Links:

"Profecias Personales"
https://www.youtube.com/channel/UCfXN1JsMsTai4vvqgFmXDiQ




5 de ago. de 2016

Santos Dumont: a fraude em que o brasileiro acredita

No País da Fraude, não Podia Ser diferente

05/07/2016
L. Vallejo


Como seria o avião moderno se o 14Bis tivesse voado

É dar murro em ponta de faca”. Assim um amigo definiu minha teimosia em querer revelar a verdade, em mostrar como somos enganados, em apontar que a realidade, ou aquilo que realmente ocorreu, quase nunca é narrado com precisão, sendo sempre apresentado como uma forma deturpada da verdade.

No mundo inteiro a mídia manipula a verdade e o povo acredita nela sem qualquer contestação. No Brasil a coisa é muito mais terrível. O brasileiro se ofende com a verdade. Ele preza seu conhecimento, mesmo aquele errado adquirido por intermédio da mídia mentirosa, como um patrimônio acima de qualquer crítica. Ou seja, jamais assume que está acreditando ou já acreditou em algo que não seja verdadeiro.  Tentar abrir seus olhos para verdade é tomado como ofensa, daí a conclusão do estrangeiro que disse em uma entrevista na televisão: “O brasileiro se ofende com a verdade”.

Resumindo, estamos no país da fraude e fomos acostumados a prezar a enganação e a mentira como sendo sinônimos de esperteza.

Hoje ocorre a  abertura das Olimpíadas no Rio de Janeiro.  Como sempre, a mídia mostra um mundo cor de rosa, enquanto na Internet, pode-se ver apenas a culminação de um trabalho de ladrões, que se afogaram nas propinas das obras, deixando que o resto – o mundo que visita o país – ficasse na situação de vexame vergonhoso que atravessa nos dias de competições.

Como se isso não bastasse, na cerimônia de abertura estava prevista a simulação de um assalto e depois a confraternização do assaltante com a vítima. As dezenas de turistas assaltados até agora, garantimos, não vão achar nenhuma graça nessa parte do show de abertura.  Depois, nadando contra a corrente mundial, os organizadores voltam a insistir em Santos Dumont, apresentando um festival de mentiras que o brasileiro acredita e venera, simplesmente por não ter estudado a vida desse enganador e ter conseguido a informação de fontes “patrioticamente” mentirosas.
Monumento a Santos Dumont erigido pelo Aero-Club de Paris. 


Alberto Santos Dumont teve a sorte de nascer em berço de ouro, em 1873. Seu pai, riquíssimo fazendeiro de café, achava que teria mais um herdeiro para continuar com seu império. Mas o menino crescia e seu pai preocupava-se. Aliás, desesperava-se, vendo a “tendência da criança em ser ‘feminina’, ter gostos de menina quando se tratava de móveis e roupas e ter comportamento semelhante ao de mulheres”.(New York Times - 13/12/2003) Não havia dúvidas: seu rebento era delicado.

Conta-se que seu pai construiu uma ferrovia para transportar o café entre a secagem e o beneficiamento. Os vagões eram puxados por uma locomotiva “Baldwin”. Essa ferrovia particular custou uma fortuna e por isso o Dr. Henrique Dumont era chamado de “rei do café”. Verdade. Conta-se ainda que o menino Alberto gostava de ser o maquinista da locomotiva, com 12 anos. Quem contou isso? O próprio Santos Dumont em seu livro “Meus Balões”. Ninguém foi pesquisar para verificar a veracidade desses fatos.

Isso é pura invenção. Para quem entende verá que é quase impossível para um menino de 12 anos controlar um monstrengo como uma locomotiva a vapor. Essa mentirada é contada por ele mesmo para mostrar sua tendência para a engenharia e mecânica. Ainda mais porque o baby era franzino, fraquinho, uma verdadeira mocinha e tinha “horror” dessas atividades.

Preocupado com a falta de interesse pelo campo, o pai o envia para as cidades para se instruir. Estudou em Campinas e em São Paulo. Porém não parava nas escolas, devido ao bullying feito pelos colegas, pois ser gay da década de 1880 era um calvário. Então, foi alfabetizado fora da escola, por uma irmã. Naquela época (1884) esse comportamento era um crime e marcava a pessoa de uma forma arrasadora e o esforço para esconder essa condição tornava a pessoa mais patética. Adolescente, foi para Ouro Preto estudar na Escola de Minas, uma espécie de curso de engenharia da época, que não conseguiu completar.

Ficou patente então que, rico, com todas as vontades satisfeitas, cheio de caprichos e traumatizado pela perseguição dos colegas, o delicado não gostava de estudar. Veja que não existe nenhum relato de amigos de infância ou de colégio. Sua vida devia ser realmente um inferno de solidão e traumas. Isso ninguém discute. Ainda estava em Ouro Preto quando fez uma visita a Paris e ficou encantado.

O pai, envergonhado, mas aliviado com a situação, tratou de fazer sua vontade e aceitou de bom grado sua imposição de ir viver em Paris. Deu-lhe, como adiantamento a sua parte na herança, “só” meio milhão de dólares e o despachou para Paris, “para que virasse homem” segundo suas próprias palavras. O “broto” tinha então 18 anos, pesava cerca de 49 quilos e não chegava a ter 1,50 m de altura. 
Sir Cayley
Os ingleses acreditam – com razão – que o pai da aviação foi Sir Cayley, pois foi ele quem descobriu as forças aerodinâmicas que atuam sobre o perfil da asa, princípio fundamental para qualquer avião voar. Os franceses dentre outros, honram Jean Marie Le Bris por resolver teoricamente os problemas de centro de massa, equilíbrio, controle, propriedades aerodinâmicas das asas, configuração do leme e dos estabilizadores Os americanos também têm vários expoentes nessa área, sendo os máximos, os irmãos Wright, pela invenção, ou seja, a realização prática das teorias de Sir Cayley e Le Bris, dos controles do avião. E a comunidade mundial vê em Blériot o “pai do avião moderno”.

Todos foram pessoas que estudaram e tiveram uma vida de trabalho duro. O “herói” brasileiro, porém, é diferente. Por ser diferente é solenemente ignorado por 90% dos estudiosos que tratam dos pioneiros da aviação. Os restantes somente o mencionam por interesses no Brasil, pois a história francesa desse “herói” não é nada edificante. Os jornais de Paris entre 1891 e 1900, traçam um perfil totalmente desabonador.

Se alguém procurar a biografia do “herói” escrita por brasileiros, somente vai encontrar elogios. É a história oficial, mentirosa e enganadora, criada pelo próprio Santos Dumont, seus parentes e pelo DIP (Departamento de Informação e Propaganda) da ditadura de Getúlio Vargas, que entre outras providências se preocupou em elaborar - e espalhar pelo mundo - uma historia heroica para a vida torta dos heróis brasileiros. A mentira e falácia são tantas, que muitos autores nacionais não mencionam que o sujeito se suicidou. Dizem apenas que “morreu”.

O reforço da patranha ocorreu em 1973, no centenário do seu nascimento, quando o regime militar fez de tudo para enfatizar e louvar o “herói”. Os brasileiros usam como fonte de consulta, apenas três obras originais (as outras todas se baseiam nelas): “Os meus Balões”, autobiografia escrita pelo próprio Dumont, “O que vi e o que nós veremos” outro livro de Dumont e “Quem Deu Asas aos Homens” de H. D. Villares. Para quem não conhece, ao ver o imenso livro de Villares – 422 páginas – pensa que ali está algo sério. Porém ao saber de todo o nome do “escritor” descobre-se que H D são as iniciais de Henrique Dumont Villares, sobrinho e afilhado de Santos Dumont, que viveu na juventude com ele em Paris. Tudo em família, pois.

Os biógrafos mentirosos, dizem exatamente o contrário, repetindo o que ele mesmo relatou em seus livros: ele era estudioso, adorava ciências, soltava pipas estudando o vento, foi terminar seus estudos em Paris, etc, etc. Mentiras, mentiras e mentiras.

Esse é o pano de fundo de uma história muito mais longa que conto em meu livro “The Cloud Hunter” – “O Caçador de Nuvens” – título jocoso que o jornal New York deu a esse fabuloso mentiroso e farsante que há mais de um século tem enganado toda a população de um país.

Mas, isso somente acontece com o Brasil. Pelo mundo afora, quando se fala em Santos Dumont, a reação é de desconhecimento ou de ridicularização. Os povos de outros países foram educados conhecendo a realidade da invenção do avião.

No Brasil, toda informação é baseada nos jornais e livros franceses da época de 1901 a 1910. Os apologistas que defendem a mentira oficial sobre Santos Dumont, como Ildefonso Silva e  Henrique Lins de Barros estão entre os principais, depois dos parentes do próprio Dumont.

As fontes de pesquisas dos nacionalistas são poucas: os livros escritos pelo próprio Santos Dumont, os livros escritos pela família Dumont, reportagens de jornais bem como relatórios oficiais franceses dessa época.

Aqui surge a dúvida: será que os escritores ufanistas brasileiros, que glorificam Santos Dumont, estão mentindo? A resposta é não. Mentirosos são Dumont e seus familiares. Os escritores relatam o que saiu nos jornais e o que obtiveram em arquivos oficiais franceses e são falaciosos em não revelar o contraditório.

Henrique Lins Barros, por exemplo, diz que escreveu seus livros baseado em mais de 10 mil recortes de jornais da época. A fama de Santos Dumont, criada pela imprensa entre 1900 e 1907 foi devastadora. São sete anos de incenso a um ídolo de pés de barro. Então não é de se admirar que existam 10 mil ou mais recortes de jornais de todo o mundo enaltecendo o farsante. Imagine como a notícia dessa falsa conquista do ar não deve ter vendido. E o mundo consumiu avidamente esse material.

Já Ildefonso Silva, no seu artigo “Santos Dumont e o Primeiro Voo de Avião” publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, volume 233, de outubro/dezembro de 1956, repetindo as mentiras de sempre, tais como o “voo do 14Bis”, que realmente não voou, nos apresenta uma lista com cerca de uma vintena de autores e periódicos, todos franceses e daquelas décadas, que apoiam  a ideia de que Dumont realmente inventou algo.

Portanto, os escritores que trabalham para criar um herói, publicam apenas o favorável - que é muito pouco - apenas testemunham a fama artificial criada pela imprensa, contra a verdade, obtida de fatos históricos, que é imensamente mais devastadora e fulminante para destruir o mito criado em torno de uma fraude.
Por exemplo, na lápide de Farman existe a seguinte inscrição:
 “Henry Farman - 26 maio 1874 - 17 julho 1958 - Precursor e pioneiro do ar, primeiro do mundo a realizar oficialmente um vôo de 1 quilômetro em circuito fechado em 13 de janeiro de 1908 em Issyles–Molineaux. Henry Farman deu asas ao mundo”
Ou seja, a França reconhece quem  voou pela primeira vez.

As homenagens prestadas a Santos Dumont foram todas feitas pelo Aero Club de Paris, uma entidade composta de milionários e pessoas ricas da alta sociedade francesa que adotaram o “pequenino” brasileiro como sua mascote e promotor de eventos. Monumentos e placas, tudo feito por este clube. Nem sequer uma simples manifestação de algum órgão sério do governo francês. E nenhuma dizendo que o enganador é o “pai da aviação”.

Finalizando, o 14Bis jamais voou. Vejamos a real história:
Só assim o 14 Bis voava
Em 12 de setembro, Dumont sofre um violento acidente testando o 14 bis, que se recusa a voar sem o balão para levantá-lo. Mas a França quer um recorde, para mostrar aos americanos. Qualquer coisa, qualquer uma, serve! De qualquer maneira, com farsa ou sem ela. A França tem que ser a primeira!

Em 13 de setembro de 1906, às 7h 30 min cerca de 300 pessoas se reuniram, juntamente com membros do Aéro-club e da imprensa, para assistir a exibição do 14 bis. Dessa vez está sem balão. As 7h 50min, aconteceu a primeira tentativa. O “aparelho” percorreu todo o campo, rodando no chão e parou na outra extremidade, sem levantar dele.

"Túnel" de testes do 14 Bis
A coisa estava tão bem combinada, que os membros do Aéro-club se deitaram no chão para ver se as rodas da cangalha se levantavam do solo. Isso prova que eles sabiam que não iam testemunhar nada prático. Queriam apenas dizer que “voaram”. Alguns centímetros sem tocar o solo já bastam. Mas não foi ainda dessa vez.

Os mecânicos pegam o “aparelho”, dão meia volta com ele e mexem no motor. As 8h e 40 min, outra tentativa. A tralha de seda balançou e começou a se deslocar no terreno. Os fiscais se deitam no chão novamente. Quando atingiu a velocidade de 30 km/h, deu um pulo. O registro oficial é de uma distância de 7 metros, a 90 centímetros de altura, numa duração de 0,84 centésimos de segundo. Em seguida arrebentou-se no solo.

Esse foi o que o governo francês, a sociedade de Paris e os patriotas falaciosos parisienses do Aéro-club chamaram de “vôo” do mais pesado que o ar. Uma piada. Uma bandalheira. O jornal de Paris, “La Nature” destacou: “Treze de setembro de 1906 será, daqui por diante um dia inscrito em letras vermelhas nas páginas da História, pois, nessa data, pela primeira vez, o homem elevou-se no ar por seus próprios meios”.

Em 23 de outubro de 1906, concorrendo ao prêmio de 10 mil dólares instituído por Deutsch e Archdeacon fez outra tentativa com o 14 bis e caiu. Na segunda, venceu o prêmio, a Taça Archdeacon. “Voou” por uma distância de 60 metros a uma altura de menos de 3 metros, e depois caiu, arrebentando o aparelho, novamente. Esse segundo pulo, durou 4,8 segundos.

A foto desse “voo” dá impressão que está voando. Nada disso. Apenas um pulo de 4,8 segundos As televisões atualmente, e também na Internet, exibem o filme desse episódio, com o vôo durando muito mais que os 4,8 segundos e sem mostrar a queda final. Claro que se trata de montagem. Mais uma farsa.

Em 12 de novembro, fez dois “vôos” de cerca de 6 segundos cada, “voando” entre 50 e 60 metros. A novidade é que operava um tipo equipamento (veja as duas placas dentro dos box-kites) que estava com rédeas ligadas a seus ombros. Os defensores de Dumont chamaram isso de “ailerons”. À tarde, subiu cerca de 4,5 metros e percorreu 215 metros despencando sobre a multidão, danificando a asa direita do aparelho. Este vôo teve a duração de 21,2 segundos. O aparelho 14 bis foi apelidado de “ave de rapina”. Último pulo da carreira do 14 Bis, durando 21,2 segundos

Observe, na foto acima que, realmente, esse imenso papagaio de seda somente se eleva do
solo e está totalmente sem controle, nitidamente desequilibrado com a asa esquerda quase
tocando o solo. Isso não é vôo. E, importante, depois de cada pulo, o trambolho não pousava, mas se arrebentava no solo. Por isso foi abandonado.

Como o 14 bis não “voou” mais que 300 metros em toda a sua história, não funcionou a colocação das placas dentro dos boxes das nas asas, amarradas com rédeas costuradas ao casaco do piloto. Foi a última tentativa desesperada de tentar utilizar uma tecnologia que os projetistas sabiam que existiam (inventada pelos Wright) mas não sabiam como construí-la. Por essas e outras é que se verifica quão acertada foi a decisão dos Wright de manter seu invento guardado a sete chaves.

Essas provas foram filmadas, mas o filme é grosseiramente editado. Existe um, que dura mais de 1 minuto e meio, mostrando o 14 bis voando nessa prova. Quatro vezes mais tempo do que o tempo real gasto. Em nenhum deles são mostradas as quedas no final dos “vôos”.
Como a imprensa divulgou o "voo", totalmente fantasioso, mas todos acreditaram
A imprensa francesa destacou enormes manchetes para esse “primeiro vôo”, e essas notícias correram o mundo. Uma farsa montada pelos ricos e nobres da sociedade parisiense, uma patriotada para tentar colocar a França à frente dos outros países, que já tinham voado muito mais e melhor que Santos Dumont.

O “grande invento”, o “avião” do farsante, o 14-bis, “voou” um total de 38,84 segundos, em todos os “vôos” oficiais que fez. Em todos não aterrissou, mas caiu. Depois desse “sucesso” foi abandonado dentro do galpão de Dumont, com pedaços espalhados pelos cantos, conforme testemunhou o repórter do New York Times, como veremos a seguir.

Resumo da ópera: um imenso papagaio, que se fosse amarrado e puxado por uma corda, também levantaria vôo, para depois cair. Uma fraude de papel de seda, deslocando-se ao contrário (o rabo era a frente da traquitana e as asas eram a traseira) mostrando que nada existia nele de científico. Uma farsa feita sob medida para a imprensa, que não durou muito e acabou quando os aviões de Wright e Blériot, bateram os recordes em vôo real, com aparelhos que foram os verdadeiros inspiradores do avião moderno.
(Vallejo, LV – “O Caçador de Nuvens” – 2009)
Monumento aos Wright nos Estados Unidos
Essa é apenas uma amostra do que contém o livro ”O Caçador de Nuvens”, a única obra em português a provar com extensa bibliografia e documentos da época a fraude do século, cujo nome é Alberto Santos Dumont.
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Veja mais:
O 14 bis jamais voou (vídeo)

Link do livro: 

28 de mar. de 2016

Problemas Resolvidos

SOLUÇÕES ARITMÉTICAS


Existe uma grande chance do leitor já ter topado com um problema matemático desse tipo:
"Uma fonte pode encher um tanque em 7 horas, uma torneira pode vazá-lo em 11 horas. Estando já 1/3 do tanque cheio, deixa-se correr a fonte e abre-se a torneira. Depois de quanto tempo os 3/4 do tanque estarão cheios?"
ou assim:

"Uma pessoa sendo interrogada por outra sobre a idade que tinha respondeu: Eu tenho o triplo da idade que tu tinhas, quando eu tinha a idade que tu tens; e, quando tu tiveres a idade que eu tenho, teremos juntos 49 anos. Pergunta-se: quantos anos tem a pessoa?"
Pois bem. Essas são amostras de tipos de problemas "esquecidos" por nosso sistema de ensino, que em épocas passadas eram "arroz com feijão" nos então existentes "exames de admissão ao ginásio". Crianças de 10, 11 e 12 anos estudavam e estavam preparadas para resolvê-los sem maiores entraves.
Hoje, a maioria dos professores de ensino fundamental quer distância desse tipo de matéria e a sua solução vai caindo no esquecimento, principalmente a solução aritmética, que obriga a pessoa a ter raciocínio e encadear o pensamento de forma lógica.
Então, para os que lidam com matemática e para quem apenas aprecia o assunto, resolvi escrever a obra aqui apresentada, com mais de duzentos problemas desse tipo e suas respectivas soluções.
Apreciem.
L. Vallejo
28/03/2016
Clique para visualizar:

Soluções Aritméticas

9 de mar. de 2016

Aprendendo Matemática

 APRENDENDO MATEMÁTICA

http://conservativetribune.com/math-1950-today/?utm_source=Facebook&utm_medium=TPNNPages&utm_content=2015-11-13&utm_campaign=manualpost

Trad. L Valentin
Enquanto isso nos EUA:

1 - Aprendendo Matemática (década de 1950)
Um lenhador vende uma carreta de madeira por $100. Seu custo de produção é 4/5 do preço de venda. Qual foi seu lucro?
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2 - Aprendendo Matemática (década de 1960)
Um lenhador vende uma carreta de madeira por $100. Seu custo de produção é 4/5 do preço de venda, ou seja $80. Qual foi seu lucro?
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3 - Aprendendo Matemática (década de 1970)
Um lenhador vende uma carreta de madeira por $100. Seu custo de produção é $80. Ele teve lucro?
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4 - Aprendendo Matemática (década de 1980)
Um lenhador vende uma carreta de madeira por $100. Seu custo de produção é $80 e seu lucro $20.
Sua tarefa: sublinhe o número 20
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5 - Aprendendo Matemática (década de 1990)
Um lenhador derrubou uma linda floresta porque é egoísta e desinteressado e não liga a mínima para o habitat dos animais ou para a preservação de nossas florestas. Ele fez isso para lucrar só $20.
O que você acha desse meio de ganhar a vida?

Assunto para discussão em classe depois de responder essa questão:
"Como se sentem os esquilos e aves ao verem suas casas sendo derrubadas?"
(Não existem respostas erradas e se você sentir vontade de chorar, está ótimo)
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6 - Aprendendo Matemática (década de 2000)
Se você tiver necessidades especiais ou apenas sentir que precisa de ajuda devido a raça, cor, religião, sexo, orientação sexual, idade, lembranças da infância, passado criminoso, então não responda que lhe daremos a resposta certa. Não existem respostas erradas
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7 - Aprendendo Matemática (2015)
Un hachero vende una carretada de madera por 100 pesos. El custo de la produccion és 80 pesos.
Cuanto dinero ha hecho?
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9 de fev. de 2016

É possível ser bom sem Deus?

Quod libet: Ser  Bom sem Deus?

R. Joseph Hoffmann
Trad: L. Valentin
Ser bom não é o mesmo que ser ético, ou virtuoso, ou fazer o bem, ou mesmo levar uma vida correta.
Vamos começar com duas histórias. A primeira vem de Voltaire que, segundo contam, teria dito a sua amante, Marguerite, "Aconteça o que acontecer, não diga aos servos que Deus não existe, senão eles vão roubar sua prataria."

Outra, contada pelo escritor Diderot, no século 18, é sobre a viagem de missionários católicos para o Taiti - um diálogo entre um chefe chamado Orou e um padre, que tenta explicar a ele o conceito de pecado.

Orou diz que muitas coisas que os europeus acham serem pecaminosas são fontes de orgulho em sua ilha. Ele não entende a ideia de adultério, já que em sua cultura a generosidade e o compartilhamento são virtudes. O casamento com um único homem ou mulher não é natural e egoísta. E, certamente, não pode haver nada de errado em ficar nu e desfrutar o prazer sexual para seu próprio bem, caso contrário, não haveria razão para a existência de nossos corpos. O padre horrorizado faz então um longo sermão sobre as crenças cristãs, e termina dizendo:
"E agora depois que lhe expliquei as leis da nossa religião, você deve fazer de tudo para agradar a Deus e assim evitar o sofrimento do inferno."
Orou responde: "Você quer dizer que, quando eu desconhecia esses mandamentos, eu era inocente, mas agora que eu conheço, eu sou um pecador culpado, que pode ir para o inferno."
"Exatamente", diz o padre.
"Então por que você me contou isso?",  perguntou Orou.
***
Essas histórias indicam algumas coisas sobre a relação entre religião e moral, ou mais precisamente, a crença de que Deus é a fonte da moralidade. A primeira história sugere que a crença em Deus é "dissuasiva". Ou seja,  a religião é vista como uma forma de prevenir certos tipos de ações que faríamos se acreditássemos que Deus não existe. Nesse caso, o tipo de Deus em que as pessoas religiosas normalmente pensam, é o Deus do Antigo Testamento, ou o Deus que dita as regras e espera que sejam obedecidas.

Nem todas as pessoas religiosas acreditam que essas regras foram dadas por Deus diretamente a Moisés ou a Maomé, mas a maioria concorda que, geralmente, é uma boa ideia não roubar, cometer adultério, odiar seu vizinho (ou invejar obsessivamente suas posses), ou matar outras pessoas. Pelo menos por mil anos teólogos preocupados tentaram colocar essas regras essencialmente negativas de uma forma mais positiva: por exemplo, dizendo que as pessoas devem agir por amor de um para o outro, ou por amor a Deus, e não por medo. A maioria dos cristãos diria que esta é a diferença essencial entre as leis do Antigo Testamento e os ensinamentos de Jesus no Novo. Mas eles estão certos apenas parcialmente. Ambos os livros da Bíblia e todo o Alcorão enfatizam o temor a Deus, o julgamento, as recompensas e punições do futuro como incentivos ao arrependimento, com o fiel levando uma vida melhor, abandonando a vida de pecados. Até mesmo os livros da Bíblia que estão contaminados com o pensamento grego - como o Livro dos Provérbios - enfatizam que "o temor do Senhor é o princípio da sabedoria." Então, é uma falácia dizer que temor e a inquietação não são utilizados para alavancar a moral em toda a Bíblia.

Israel
Os cristãos modernos, judeus e os muçulmanos que se concentram em pregar a compaixão e a misericórdia de Deus, são obrigados a ignorar uma carrada inteira de passagens onde Deus faz lembrar às pessoas, como qualquer pai da antiguidade (e não poucas mães modernas), que sua paciência está se esgotando. Jeremias  05:22 "Tu achas que não deves temer a mim? ", diz o Senhor.  "Tu achas que não deves estremecer na minha presença? A resposta é um ensurdecedor: "Sim." Lembra-te do dilúvio? Lembra-te dos primogênitos dos egípcios? Lembra-te das pragas e fome? Lembra-te de Sodoma e Gomorra?  Tu amas este Deus, porque se ignorares seus mandamentos correrás perigo. Foi Ele quem te escolheu; não tu que O escolhestes, e ele pode retirar seu favor na hora que quiser. (Como Jackie Mason costumava dizer, você olha para Israel e fica a imaginar se "talvez não seriam os samoanos o povo escolhido?").
Samoa
O tema dos livros mais antigos da Bíblia é muito claro: Deus "ama" (mais precisamente, ele vigia) os que guardam os seus mandamentos e pune aqueles que não o fazem. Uma mensagem simples que a teologia tem tido dois mil anos para manipular. Na verdade, o Novo Testamento pertence à história desse processo de manipulação. Mateus, Marcos, Lucas e João foram os primeiros “mestres manipuladores” fazendo uma reviravolta no roteiro, transformando o  vingador Javé  em um benevolente conservador. Falando claramente, o herói da história é um típico tirano do Oriente Médio: poderoso, vingativo, ciumento assumido, dono de tudo ("Seu é o mundo e tudo o que habita nele"), e embora demore para se encolerizar é temível quando sua ira é provocada, vigiando tudo de forma exacerbada (Sl 121,4). Não há amor incondicional nele. Deus não é um modelo de um pai amoroso; Ele não está interessado na autoestima de seu povo.  A mensagem de Deus  Pai é: "Faça o que eu mando"

A grande questão colocada na curta história de Voltaire é se a motivação do medo é sempre ética. Se você fizer alguma coisa, porque há uma ameaça de dor e sofrimento se não o fizer, ou se você adiar a fazer algo que você realmente gostaria de fazer - pela mesma razão - você está sendo moral?

O que Voltaire está realmente dizendo, como Nietzsche, Marx e Freud diriam mais tarde - é que a religião é útil para manter certos tipos de pessoas na linha.  A sociedade europeia  dos séculos XVIII e XIX poderia ser perfeitamente dividida entre aqueles que tinham melhor conhecimento e aqueles que serviam aos primeiros. Marx foi mais longe ao sugerir que a deferência social que as classes abastadas davam à religião era destinada simplesmente a convencer as classes mais baixas de que a religião é verdadeira; de fato,  é exatamente o que Voltaire está dizendo: A religião é um mecanismo usado pelos instruídos para manter  os ignorantes em seu lugar. Isso realmente traz vantagens sociais - o pai judeu de Marx  se “converteu” convenientemente  para a Igreja do Estado da Prússia, a fim de continuar a trabalhar como advogado. E todos nós conhecemos a mais famosa descrição do Marx filho sobre o tema: "A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração e a alma de condições desalmadas. É o ópio do povo. É necessária a abolição da religião como felicidade ilusória do povo para que alcancem a sua felicidade real."

O que está faltando nessa crítica, é claro, é a questão de saber se um "ato religioso" de alguma forma pode ser um "ato moral." Claramente, a crença em Deus (ou um tipo específico de Deus) fornece incentivos de comportamento. Como um sistema de controle baseado no medo, a religião evita que as pessoas  "sejam más", ou pelo menos façam coisas consideradas ruins pelo controlador. Mas ela faz isso de forma ineficiente. Ela oferece claramente às pessoas uma explicação de como elas devem se comportam de certas maneiras, que vão desde a "Bíblia manda fazer isso" até "Papa dixit" (O papa falou). Como forma de consolo, ela ensina as pessoas a lidar com o medo e a insegurança criada pela opressão. Mas ela faz isso totalmente à custa de auto realização. É a segurança de um relacionamento abusivo, onde o conforto consiste em ser capaz de prever e manipular erupções de violência. Na verdade, ao se analisar as origens de sacrifício da religião, este era precisamente o seu papel social. Mesmo a história da crucificação, que muitas pessoas acreditam ser uma história sobre amor e perdão, é a história de um Deus tão irritado com as imperfeições pecaminosas da humanidade que transfere sua violência para seu único filho, que se torna a vítima redentora - o preço a pagar por elas -  de pecados que não cometeu.

Vamos chamar essa abordagem religiosa de o comportamento de "ser bom". Ser bom não é o mesmo que ser ético ou virtuoso, ou fazer o bem, ou mesmo levar uma vida correta. É uma mãe apontando um dedo ameaçador para uma criança de três anos dizendo "É melhor ser bom." Isso sempre envolve ameaça e recompensa. Duas gerações atrás, a imagem teria incluído ameaças com cintos ou palmatórias ou ir para a cama sem jantar. Eu acho que, infelizmente, em alguns lugares isso ainda é feito. Mas você não vai extrair ética disso. Você somente conseguirá obediência e submissão.
***
E sobre a história de Diderot do missionário e o chefe da tribo? Se a história de Voltaire sugere que a religião seja dissuasiva e coercitiva, Diderot sugere outra razão pela qual a religião não se coaduna com a ética: A religião é prescritiva, e como a política, é localizada. Em 2000 anos de manipulações da mensagem, ela mudou, porque nós mudamos nossas mentes. A maioria das regras bíblicas sobre propriedade, bens móveis, adultério e incesto eram típicos de todo o Oriente Médio; de fato, como Freud reconheceu, os tabus contra o assassinato e incesto são a mais antiga forma de leis em algumas sociedades tribais. Mas os livros que chamamos a base da  "ética judaico-cristã" não foram escritos por tribos  - tribos não sabiam escrever. E o corpo de leis que chamamos de os Dez Mandamentos contêm grande quantidade de regras que foram discretamente colocados em baús e guardadas no sótão.

Por exemplo, todos nós aplaudimos a sabedoria do mandamento que diz: "Honra teu pai e tua mãe." Ele soa muito bem, especialmente durante as férias escolares. Mas Deuteronômio 21.20 diz que os filhos desobedientes deveriam ser apedrejados na frente dos anciãos às portas da cidade. Em  Êxodo 21.17 diz que quem insulta o pai e a mãe deve ser condenado à morte. Assim também para o adultério, que pertence a uma lei antiga de propriedade no sistema judaico, a punição é apedrejamento - normalmente só para a mulher (Deut. 22,21). Em Deut. 22.28, a pena por estuprar uma virgem solteira é uma multa de 50 shekels - além de ser obrigado a tomá-la como esposa. Há leis que protegem os direitos dos primogênitos, das esposas desprezadas quando um homem tem várias esposas (Deut. 21,15) e até mesmo leis sobre quanto tempo um guerreiro judeu deve esperar (um mês) antes que ele possa ter relações sexuais com uma mulher que capturou em batalha (21,10). De acordo com Levítico 19.23, estuprar a escrava de outro homem é punido, fazendo-se uma oferta ao sacerdote, a quem se pede que seja perdoado. Existem leis sobre quanto tempo você pode manter um hebreu do sexo masculino como escravo -6 anos - mas se você vender sua filha como escrava para outro homem, ela não pode ser libertada, a não ser depois que o dono tenha relações sexuais com ela e chegue a conclusão que ela não agrada - nesse caso  ela pode ser colocada à venda (resgate) (Êxodo 21. 7ss.).  A Lei vai, assim por diante, na Torá.

A pura ferocidade do Deus que dá, ou melhor, grita estes mandamentos para o seu povo escolhido está distante de nosso tempo. Não mais se reconhece essa voz: Não fazer o que ele manda resulta em terror: Na verdade, essa é a própria palavra que ele usa: "Trarei sobre vós o terror súbito, espalhando doença, febre recorrente, pragas que vão cegá-lo ... Aqueles que te odeiam vão perseguir-te até que não mais haja lugar para correr; Vou multiplicar suas calamidades sete vezes mais do que seus pecados merecem. ... Vou enviar feras para o seu meio e elas vão rasgar seus filhos ... Se me desafiarem, eu vos açoitarei sete vezes. ... Eu vou enviar a peste ... racionar  teu pão de cada dia, até que dez mulheres possam assar o teu pão em um único forno. ... Eu vou castigar-te sete vezes mais. ... Em vez de carne,  tu comerás teus filhos e tuas filhas". Não duvide dessas ameaças: Leia Levítico 26. Ali há talento literário. O Deus do Antigo Testamento é uma figura tridimensional - muito maior do que Zeus e duas vezes mais maligna. (Será que Zeus foi capaz de dar rédea mais livre para seus apetites sexuais, ao passo que Javé limitou-se a uma virgem galileia?) E  se você tiver condições de pesquisar,  não vai encontrar essas leis "revogadas" em livros posteriores, pelo menos, não da maneira moderna de como as leis podem ser alteradas e revogadas. Mas é absolutamente certo de que qualquer um que tentasse obedecer a essas leis no século XX, na Europa ou na América, seria jogado na prisão, e a alegação da defesa de que "A Bíblia manda isso" não seria uma defesa adequada.

Uma maneira de mapear o chamado progresso da civilização ocidental é rastrear como os valores humanos eventualmente vencem a ferocidade da lei religiosa. O tipo de moralidade que o sacerdote de Diderot representa, como a moralidade da Bíblia, e até mesmo as versões resumidas de ensino bíblico e do Alcorão que as modernas denominações religiosas defendem, não é ética. Não é  ética porque a ética não pode ser fundamentada no que eu vou chamar de "dissuasão prescritiva sem conexão." Se você me diz "Bem: ninguém acredita mais nessas coisas", então eu digo "Ainda bem que não mais acreditamos. Então é hora de parar de dizer que a Bíblia seja a fonte de autoridade moral quando a conduta do seu herói não mais condiz com nossos padrões de comportamento civil." Se você diz: "Há grande sabedoria e poesia nas escrituras, " então eu digo "Por favor, então, vamos tratá-las como outros grandes livros que expressam ideias, costumes e valores que não têm autoridade sobre a forma como nós conduzimos nossas vidas. " Não tenho nada contra quem quer apreciar a Bíblia como um produto de seu próprio tempo e da cultura - com todas as condições que regulam uma apreciação desse tipo. Minha briga é com as pessoas que querem torná-la um documento para o nosso tempo e cultura.

E suponho que minha briga se estenda a pessoas que se consideram especialistas, quando  na realidade, não passam de especialistas em interpretações que desvirtuam o que está escrito. Os teólogos liberais são imensamente talentosos em reinventar o Deus da Bíblia à luz das preocupações sociais modernas. Mas o resultado é uma obra literária, não uma questão ética. Em outro extremo, que é realmente um falso oposto, são os fundamentalistas que dizem defender a verdade literal da Bíblia, ignorando dois terços do texto e incidindo sobre a verdade "literal" contida em frases e pedaços de textos.

A Bíblia pode tornar alguém bom? Se você aceitar a estrutura, começando com Adão e Eva, e a criação de uma raça condenada a ficar perpetuamente nos três anos de idade, restringida à obediência, acho que pode.


Reduzido a sua forma básica, a tentação no Jardim do Éden é uma história sobre um pote de biscoitos e um manhoso, acusando a mãe. Mas é preciso mais do que evitar armadilhas para uma escolha  ser moral ou uma ação  ser ética. Um ato moral é aquele em que você pode exercer a dúvida livremente, onde uma pessoa confronta as escolhas humanas e as consequências humanas, pessoal e socialmente.

Para ser justo: a Bíblia e seus primos são registros importantes dessas escolhas humanas e suas consequências sociais, provenientes de uma época que não é mais relevante para nós. Para torná-la um livro para o nosso tempo é necessário abusar do livro e deixar de entender sua importância.  O que é mais deprimente para alguns, talvez  seja que, provavelmente, não existirá um livro que a substitua. Nem mesmo algum escrito por um humanista secular.  Mas, em compensação, existirá a sabedoria, razão e a decisão de escolha, e isso nos fará humanamente melhor, mesmo que não exatamente bons.

https://rjosephhoffmann.wordpress.com/2009/04/30/quodlibet-good-without-god/#comments

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Sobre o autor:
Following graduation from Harvard Divinity School and the University of Oxford, R. Joseph Hoffmann was tutor in Greek at Keble College and Senior Scholar at St Cross College, Oxford, and Wissenschaftlicher Assistent in Patristics and Classical Studies at the University of Heidelberg.
Books: “Just War and Jihad: Violence in Judaism, Christianity and Islam”(2006), “Sources of the Jesus Tradition” (2010), “Celsus On the true Doctrine”, “Jesus Outside of Gospels”, “The Secret Gospels”