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21 de abr. de 2013

Bridey Murphy

10/06/1995

Bridey Murphy
 
O caso de Bridey Murphy ficou famoso nos anais das investigações de fenômenos extra-naturais, devido ao impacto na opinião pública, durante cerca de doze meses, causado pela intensa exposição na mídia e o interesse despertado mundialmente por tal assunto; pela deflagração em nível abrangente de um novo filão a ser explorado pelos que acreditam em espíritos e no sobrenatural, e pela facilidade com que se comprovou, após uma pesquisa simplória, da grande fraude ocorrida .

Em 1952, na cidade de Pueblo, no Colorado, Estados Unidos, uma senhora cujo pseudônimo é Ruth Simmons foi submetida a sessões de hipnose por Morey Bernstein, um negociante que fazia hipnose por passatempo. Ele empregou nela uma técnica chamada de regressão e, sugestionou a paciente para que fosse voltando no tempo, inclusive numa época antes de seu nascimento. Foi nesse ponto que apareceu Bridget (Bridey) Murphy.

Para sua surpresa, a Sra. Simmons, completamente em transe, narrou que era Bridey Murphy, que havia vivido em outra época, na Irlanda, e contou toda a sua vida, inclusive detalhes de seu funeral.
Bernstein, que não era bobo, gravou as sessões e delas escreveu um livro e gravou discos. O sucesso de vendas foi impressionante. Foram vendidos quase 200.000 livros em apenas dois meses – foram 10 edições - e mais de 30.000 discos.
A editora ficou espantada, pois quem estava comprando tais “preciosidades” eram pessoas que geralmente não compram livros, mas estavam interessadas na vida após a morte e em ouvir a voz de alguém que tinha morrido no século passado.
Bernstein era um cético e nunca tinha escrito nada. Seu livro “The Search for Bridey Murphy” relata a vida de dessa suposta irlandesa.

Bridey nasceu em 1798, morava numa casa branca, de madeira, em Cork, sendo filha de um advogado chamado Duncan Murphy e de sua esposa Kathleen. Casou-se aos 17 anos com outro advogado, Sean Brian MacCarthy e foram morar em Belfast, onde Sean lecionava direito.
A senhora Simmons, no papel de Bridey, descreve a sua morte, em conseqüência de uma queda, o seu túmulo e um local para onde foi depois de morrer. Com vagas informações sobre esse período, informa ainda que nasceu de novo em 1923, nos Estados Unidos.

Ninguém colocou em dúvida a palavra da senhora Simmons, apesar de ter se mantido no mais rigoroso anonimato. De qualquer modo, a vendagem dessas publicações detonou dois eventos: o primeiro foi o surgimento da onda de “regressões” executadas não só nos Estados Unidos, mas em todo o mundo, logo abraçadas pelos espíritas como mais uma “comprovação” da vida após a morte; o segundo foi o surgimento de um verdadeiro batalhão de repórteres de publicações menos sérias, que vasculharam a vida de Bridey Murphy, inclusive com pesquisas minuciosas na Irlanda.

Eis o que foi apurado:
- Bridey diz que nasceu em Cork, em 20 de dezembro de 1898.
Fato: Não se encontram registros nos arquivos das igrejas, nem nas estatísticas demográficas do nascimento de nenhuma Bridget Murphy.
- Bridey diz que morreu em Belfast num domingo em 1864
Fato: Além de não se encontrarem qualquer registro desse evento, os jornais de Belfast não publicaram qualquer notícia do falecimento de uma Sra. Bridget MacCarthy, em TODO o ano de 1864.
- A sua família era de Cork
Fato: Nenhum anuário de Cork registra a existência de sua família. E, tais anuários estão completos desde 1820.
- Bridey diz que morava numa casa branca de madeira, chamada “The Meadows”
Fato: A madeira é muito escassa e cara na Irlanda. Em Cork, a imensa maioria das casas é de pedra e tijolos. Não há registro nos arquivos públicos de uma casa chamada “The Meadows”
- Bridey diz que se casou com um advogado chamado Sean Brian MacCarthy.
Fato: Brian é o nome, segundo Bernstein, do marido da Senhora Simmons. Bridey pronuncia SEAN, como “si-an”, explicando que na Irlanda existe essa pronúncia e outra que soa como “chó-ne”. Na verdade, esse nome na Irlanda, É SEMPRE pronunciado como “chó-ne”
- Bridey descreve uma excursão que fez a Antrim
Fato: a descrição de Antrim está correta
- Bridey diz que depois do casamento viajou para Belfast, passando por Bayling’s Cross e parando em Doby para comer bolos de batata
Fato: Um repórter encontrou indícios da existência de lugares chamados Doby e Bailles Cross no condado de Cavan
- Bridey diz que o marido escrevia artigos para um jornal chamado News–Letter de Belfast.
Fato: Existiu, em Belfast realmente um jornal com esse nome, porém em pesquisa em suas edições antigas não foram encontrados artigos de Sean.
- Bridey diz que freqüentava uma Igreja de Santa Teresa.
Fato: Há uma igreja de Santa Teresa, mas foi construída em 1911, ou seja, quase 50 anos após sua morte.
- Era freguesa de um dono de mercearia chamado Farr
Fato: Houve realmente um merceeiro chamado Farr.
- Ao citar empresas de Belfast, Bridey disse que havia uma companhia de cordas e uma casa que vendia fumo.
Fato: Havia a famosa Companhia de Cordas de Belfast, que só foi registrada em 1876 – 12 anos após sua morte – e a fábrica de fumos de Murray & Sons, fundada em 1805.

A revista LIFE tentando colocar um pouco de verdade científica sobre Bridey, entrevistou o Dr. Jerome Schneck, ex-presidente da Sociedade de Hipnose Clínica e Experimental de Nova York e o Dr. Lewis Wolberg, diretor médico do Centro de Extensão Universitária de Psicoterapia de Nova York. Suas declarações se resumem ao seguinte:
“Algumas pessoas são anormalmente sugestionáveis e, quando sob efeito de hipnose profunda, aceitam, como ordem, qualquer insinuação, por mais leve que seja. Se for dito ao paciente que ele é poeta, começara a rimar com uma precisão espantosa. É comum, por sugestão hipnótica, adultos falarem – corretamente - línguas que, conscientemente desconhecem e não entendem. Ao se pesquisar a vida dessa pessoa, descobre-se que em alguma vez na sua vida entrou em contato com tal língua, mesmo que de forma breve e sem importância. Essa fantástica habilidade da pessoa hipnotizada é explicada pelo acesso a que passa ter a toda sua memória inconsciente, utilizando todos os recursos do cérebro para cumprir a ordem.
Porém, nesses casos a ordem tem um peso tal que, o paciente chega a inventar situações fantasiosas para cumpri-la. Existe o caso de regressão em que o hipnotizador amador se divertia em fazer as pessoas regredirem a vidas anteriores. Ao dar a ordem se distraiu e trocou uma palavra. Em vez de dizer “quero que você recue no tempo para outro lugar” disse “quero que você recue no tempo para outro MUNDO”. O paciente então respondeu dizendo ser um alienígena, chamado C e viver na lua, tendo como automóvel um disco voador.”
Ficou comprovado que Bernstein insistiu e deixou inteiramente bem definido o que queria da Sra. Simmons. Somente quando sugeriu que havia em sua memória “cenas de terras distantes” e que deveria responder a suas perguntas sobre elas é que apareceu Bridey Murphy.
Investigação posterior sobre a Sra. Simmons, descobriu que ela tinha sido criada por um tio norueguês e sua esposa era de ascendência alemã. E que seus pais tinham sangue irlandês. Não existe a menor dúvida que os relatos da Sra. Simmons são produtos de conversa que ela ouviu na infância e guardou em seu subconsciente.

Mas, foram poucos que leram LIFE. A grande maioria, se satisfez com o relato do livro de Bernstein e, com fé, sem investigar e sem comprovar nada, passaram a divulgar mais uma “prova insofismável de vidas passadas e reencarnação”.

Ah! Ia me esquecendo: Bernstein ficou rico.......
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L Valentin