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8 de set. de 2013

Para Conversar

Você sabe Conversar?
L Valentin
25/08/2013

O uso da tecnologia está praticamente destruindo a característica que tornou possível o homem dominar a maior parte da natureza:  a consequência normal da fala, ou seja, a conversa.  A falta de preparo diante dos celulares e dispositivos portáteis, que ao invés de servirem ao homem, o escravizam e tornam-se senhores das suas vidas é o grande responsável  por esse evento. O tom preocupante da coisa é dado quando o servo do celular, idiotizado, declara, sempre com um sorriso boçal nos lábios: “Não vivo sem ele”,  como se fosse um vitorioso em algo.

Assim, a conversa natural vai sendo substituída aos poucos pela conversa eletrônica, feita por máquinas  que deixam seus operadores viciados e inaptos a se relacionar face a face, de viva voz.

Para piorar, a conversação sempre foi uma arte difícil de dominar. Possui uma série de regras que embora sejam simples, são sempre esquecidas e impedem que seja levada adiante com bons resultados.  Então não custa lembrar aqui alguns pontos fáceis que vão permitir que uma conversa se inicie e continue, dando prazer aos que dela participam.

Paradoxalmente, o primeiro ponto crucial  é  saber escutar.   A televisão, sendo inteiramente visual,  atrofiou inapelavelmente o restante processamento cerebral  da imensa maioria das pessoas, as quais entendem o que escuta se, e somente se,  poucas palavras estiverem associadas à imagens. Atualmente, um texto falado - mesmo no rádio - com 5 minutos de duração não é entendido por 80% das pessoas.  

O ato de ouvir exige que se faça alguma coisa a mais do que deixar simplesmente que entrem ondas de som pelos ouvidos, assim como o ato de ler exige que se faça mais do que olhar a palavra impressa. Escutar bem requer participação ativa

Um dos problemas é que pensamos muito mais depressa do que falamos. Falamos em geral na proporção de 125 palavras por minuto, mas pensamos quatro vezes mais depressa. Isso quer dizer que, em cada minuto que alguém fala conosco, nós temos normalmente disponíveis cerca de 400 palavras de tempo para pensar. Se o que estamos ouvindo não é de nosso interesse, logo ficamos impacientes; nossos pensamentos se desviam um momento para algo  diferente, depois voltam rápidos ao assunto falado. Mas, como não temos interesse, nosso pensamento começa a se desviar novamente e nesse vai e vem acabamos por nos desligar completamente de quem está falando.  Quando voltamos a prestar atenção, notamos que ela está muito adiante de nós.  Afinal, desistimos; a pessoa continua falando, mas perdeu toda a nossa atenção.

O segundo ponto, também muito importante, é saber que existem diferenças enormes entre o modo como o homem e a mulher falam.  A principal razão é que a mulher, por natureza, não é o que se pode chamar de boa ouvinte. É notório que toda criança do sexo feminino começa a falar mais cedo que os meninos. Outro ponto a considerar  é que a média das mulheres fala mais depressa que a média dos homens,  que são mais lentos e pensam mais antes de falar. Além disso, quando o assunto não interessa, a reação do comum dos homens é parar de falar, ao contrário do que acontece com a média das mulheres.  A média das mulheres ainda tem o hábito de interromper quem está falando,  além de interromper, mudar abruptamente o assunto,  impedir que a outra pessoa fale e ter pouca inclinação a guardar segredos.
Portanto, sempre ter em mente que os homens gostam de conversar com mulheres, mas não gostam de conversa de mulher e, é verdade, se fecham quando o assunto não lhes interessa.

O terceiro ponto é o não ter o pensamento dirigido pelo “raciocínio dilemático” simplista. Os linguistas informam-nos que a estrutura de todas as línguas indo-europeias tende a nos forçar ao raciocínio de dois valores. Somos acostumados a pensar em termos de contrastes tais como: limpo-sujo, comprido-curto, herói-vilão, corpo-espírito, verdadeiro-falso, bom-mau, vida-morte.  A sua utilização incorpora, quase sempre, uma falácia lógica. Os eventos geralmente possuem várias causas e não apenas duas. O pensamento não pode ficar preso a apenas dois valores contrastantes, fato esse que prejudica inapelavelmente a justiça com que se trata o assunto.
A maioria das pessoas é mentalmente preguiçosa e adota o raciocínio dilemático por comodidade e por um suposto estado de urgência que a vida moderna impõe. Isso é fatal para uma conversa inteligente.

Quais são então as características de um bom ouvinte, que irão se refletir na qualidade de uma conversa?

-  Tirar proveito da rapidez do pensamento
Enquanto ouve calado utilizar a rapidez do pensamento para analisar o que está sendo dito.  Os fatos apresentados são exatos? Quais são suas fontes?  Quais os objetivos de quem fala? Qual é a sua motivação para estar falando aquilo? Que sei eu sobre o que se está falando? Como me atinge? Etc.

- Analisar quem fala
Quem fala nem sempre põe tudo em palavras. A variação de tom e volume da voz podem ter significação, da mesma forma que as expressões da fisionomia, os gestos, os movimentos do corpo. Estudos demonstraram que numa apresentação diante de um grupo de pessoas, 55% do impacto são determinadas pela linguagem corporal - postura, gestos e contato visual -, 38% pelo tom de voz e apenas 7% pelo conteúdo da apresentação (Mehrabian e Ferris, "Inference of attitudes from noverbal communication in two channels", in The Journal of Counselling Psychology, vol. 31, 1967, pp. 248-52). Podemos concluir que não é o que dizemos, mas como dizemos, que faz a diferença. Atualmente esse estudo é posto em dúvida, mas não custa nada prestar atenção em quem fala.

- Escutar mesmo quando o assunto toca em algum preconceito ou convicção especial de quem ouve.
Enquanto ouve a pessoa apressada começa mentalmente a planejar uma refutação, formular uma pergunta destinada a embaraçar quem fala, ou volta-se simplesmente para ideias que apoiam seus próprios pontos de vista. O bom ouvinte aprende a continuar escutando. Procura não se excitar demais com as opiniões da pessoa que fala, enquanto não tem certeza de havê-las ouvido até ao fim e compreendido de que se trata. Quando tiver feito isso, verificará que sua resposta é muito mais eficaz.

- Focalizar a atenção em ideias centrais
Geralmente a ideia central de uma conversa ou palestra vem adornada por múltiplos fatos que servem de apoio ou de dissimulação. Estando atenta à ideia central a pessoa não se deixa enganar e sabe separar os fatos úteis do restante, podendo montar uma resposta sólida e eficaz.

- Não se distrair
A concentração é primordial. Um dos motivos para prestar muita atenção ao que está sendo dito é simplesmente uma questão de cortesia. E aqui vem a chave de ouro da conversa: a maneira de ouvir influi muito sobre a maneira como as pessoas falam conosco. Sempre, a qualidade da resposta depende da qualidade da atenção prestada por quem faz a pergunta ou por quem ouve. Um modo de ouvir inteligente ajuda o interlocutor a exprimir as ideias que tem e assim o habilita melhor a prestar as informações de que a pessoa possa precisar. A maneira de ouvir tem, portanto influência direta sobre o que se aprende.

- Não interromper frequentemente
Somente interromper quando é necessário esclarecer um ponto antes de passar a outro.
Quem tiver dominado a técnica de ouvir obterá um dividendo extraordinário: o fato de aprender aprestar atenção à palavra falada significará — automaticamente —que a própria pessoa aprendeu a falar melhor e de maneira mais interessante.

Desse aprendizado surgem as lições, como, por exemplo,  reconhecer um mentiroso falando. Eis algumas importantes:

a) Perguntas que estimulam uma conversa:
- Quer me explicar isso ?
- Qual é sua impressão a respeito?
- O quê  você faria?
- Por que você disse isso?
- Por exemplo?

b) Perguntas que "matam" uma conversa:
- Que é que você fez hoje?
- Como foi seu dia?
- Como foi o jogo?
- Aconteceu alguma coisa?
- Você gosta de mim?
- É mesmo?
- Você acha que vai chover?
- A festa estava boa?
- Você viu o carro novo do vizinho?

c) Como perguntar:
- Aproveite toda oportunidade que houver para fazer uma pergunta inteligente e depois... cale a boca. Quando se está falando, não se aprende nada.
- Uma pergunta ponderada vale por dez perguntas inquisitivas. A curiosidade sem propósito faz as pessoas se fecharem
- As perguntas que tocam o verdadeiro interesse da outra pessoa são as que provocam as melhores respostas, desde que ela perceba que quem perguntou está realmente interessado.
Esteja preparado para esperar. Um longo silêncio, às vezes, vale mais que uma outra pergunta.
Sempre, a qualidade da resposta depende da qualidade da atenção prestada por quem faz a pergunta.
As perguntas devem decorrer de uma vontade sincera de saber e não de tentativas de elogiar ou de esforços para manobrar o pensamento de outra pessoa.
As perguntas que se referem aos sentimentos de outra pessoa são mais estimulantes que as que se referem aos fatos.


d) Sinais de mentira numa conversa
Uma pessoa conta, em geral, três mentiras a cada dez minutos. É o que afirma o estudo realizado por Robert Feldman, professor de psicologia da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, e autor do livro "Quem é o mentiroso da sua vida?". A pesquisa indica que recorrer a inverdades é questão de hábito e uma forma de manter o bom convívio social. Eis alguns sinais que o mentiroso apresenta:

  • A pessoa fará pouco ou nenhum contato direto nos olhos;
  • Desvia o olhar enquanto conta a mentira e depois passa a olhar atentamente, querendo observar se conseguiu enganar.
  • A expressão física será limitada, com poucos movimentos dos braços e das mãos. Quem tem certeza do que diz gesticula muito
  • Não há sincronismo entre gestos e palavras
  • A cabeça se move de modo mecânico
  • O corpo ficará encolhido. É improvável que permaneça ereto
  • Observe para onde os olhos da pessoa se movem na hora da resposta de sua pergunta. Se olhar para cima e à direita, e for destra, tem grandes chances de estar mentindo.
  • Morder ou lamber os lábios pode ser um forte indício de mentira.
  • Coçar o nariz
  • Erguer levemente um dos ombros
  • Observe o tempo de demora na resposta de sua pergunta. Uma demora na resposta indica que ela está criando a desculpa e em seguida verificando se esta é coerente ou não. A pessoa que mente não consegue responder automaticamente à sua pergunta.
  • Se a pessoa ficar tranqüila enquanto você a acusa, então é melhor desconfiar. Dificilmente as pessoas ficam tranqüilas enquanto são acusadas por algo que sabem que são inocentes. A tendência natural do ser humano é manter um certo desespero para provar que é inocente. Por outro lado, a pessoa que mente fica quieta, evitando a todo custo falar de mais detalhes sobre a acusação.
  • Quem mente utilizará as palavras de quem o ouve para afirmar seu ponto de vista
  • A pessoa que mente continuará acrescentando informações até se certificar de que você se convenceu com o que ela disse
  • Em relação à história contada, o mentiroso, geralmente, deixa de mencionar aspectos negativos
  • A pessoa que mente pode utilizar as seguintes frases para ganhar tempo, a fim de pensar numa resposta (ou como forma de mudar de assunto): “O quê?” “Quem, eu?” "Porque eu mentiria para você?", "Para dizer a verdade...", "Para ser franco...","De onde você tirou essa idéia?", "Por que está me perguntando uma coisa dessas?", "Poderia repetir a pergunta?", "Eu acho que este não é um bom lugar para se discutir isso", "Podemos falar mais tarde a respeito disso?", "Como se atreve a me perguntar uma coisa dessas?"
  • Ela evita responder, pedindo para você repetir a pergunta, ou então responde com outra pergunta
  • A pessoa utiliza de humor e sarcasmo para criar um ambiente de brincadeira
  • A pessoa que está mentindo pode corar, transpirar e respirar com dificuldade e quase sempre muda o tom da voz (mais agudo) e fala mais alto.
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Fontes
Seleções do Reader’s Digest:  Nardi R. Campion
Internet

17 de ago. de 2013

Vigarices

Vigarices
01/08/08

- OH! ASSURICAN- ALABANIAN- SELAMANE- LEPATAN ! OH! OH! ALELUIA!- SIRIÁLÁLÁ - SIRIÁLÁLÁLÁÊ – SIRIÁLÁLÁLÁLÁLÁLÁ – SHURIALÁLÁLÁBAÊ - SHÊRÊLÊBÊ – LÁBÁ – CANTOSCRÊBÊ- LÁBÁ - LÁBÁ....
Não, caro leitor! Não estou senil, nem meu teclado está com defeito. Essa papagaiada desconexa acima é uma língua. Sim, apesar de quem a fala confessar não saber o que falou, mas continua a afirmar que é uma língua. E, pasmem, juntamente com ele, ninguém mais entende o que foi dito. Ele confirma e bate o pé: é uma língua, sim!
- BALA, BALA, BALA, BALA, BALA - ORICANDA – ALABASSURIANDA – ALABAIA - BALA, BALA, BALA, BALA – ORIANDA – ALABAIA - BALA, BALA, BALA, ALARABA, ABABARA, ATABARAM, SHURIALIÊ

O auditório está lotado. Um truão está ao microfone, no palco. Esse palavreado sem sentido, disparado rapidamente faz com que a multidão comece também a parlengar aos gritos, enchendo o ambiente com um barulho ensurdecedor.

Este cenário, que começou nas castas mais baixas dos cristãos pentecostais, acontece hoje nos auditórios de igrejas tradicionais, antes respeitadas por tentar coadunar uma cultura elevada com fé. Acontece que a força da fé é inversamente proporcional à cultura e ao conhecimento - à ciência. E ambas são mutuamente excludentes. Ou seja: não há modo de conciliá-las.

Desconhece-se quem foi o inventor da técnica de se repetir mantras para se atingir um nível elevado de catarse em uma multidão. Porém alguém notou que essa técnica nas congregações de castas baixas (pessoas pobres, analfabetas, residentes em cortiços e favelas) resultava num êxito formidável. Esse êxito traduz-se sempre em dinheiro. Os fiéis empobrecidos e embrutecidos, embriagados pelo “ópio do povo” abrem a bolsa e tiram comida da própria boca para sustentar o “reino celeste”.

A ciência e a cultura nunca fizeram parte da vida da imensa maioria da população brasileira e agora estão se apartando lentamente do restante dela, fazendo com isso que o parlengar de parlapatões seja acolhido por uma imensa massa como língua.

Mas, para se impingir tal idiotice ilógica, mesmo aos ignaros, deve-se arranjar uma justificativa. Entre pessoas normais, com algum senso da realidade, essa justificativa deveria ser palpável, coerente, inteligível. Porém, é impossível encontrar, pelo menos, uma que possua tais qualidades. 

A alegação principal é um sofisma sobre a fantasia descrita nos “Atos dos Apóstolos”, na passagem narrando “descida do espírito santo”, que apareceu em forma de “línguas de fogo sobre as cabeças dos apóstolos”. Nesse momento, os ouvintes entendiam o que os apóstolos pregavam, ou seja: os estrangeiros ouviam a mensagem em sua língua natal apesar dos apóstolos estarem falando em sua própria língua.
Os espertalhões usam a expressão “língua de fogo” (uma chama em forma de língua, uma chama curta e estreita, uma pequena chama) para associar esse sentido figurado com idioma, ligando-o ao restante do conto.

Então surgem as justificativas: Eis uma “explicação”, dada pelo mentor da seita Canção Nova:
“O primeiro dom que se manifestou foi o de línguas. Em pentecostes, os discípulos, junto com Maria, ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a orar, a louvar, a cantar numa língua nova, a língua do Espírito. Alguns interpretaram o acontecimento e disseram: Eles louvam a Deus, estão cantando as glórias de Deus, e nós estamos entendendo com o coração. Outros estavam ali como curiosos, brincando, zombando, dizendo que os discípulos estavam bêbados. Pedro explicou: Não estamos bêbados; pelo contrário, está se cumprindo a profecia de Joel''.
Falácia pura. Eis o que existe REALMENTE sobre tal acontecimento, em Atos-2 em diante:
"E quando se completavam os dias de pentecostes estavam todos juntos num mesmo lugar. De repente veio do céu um estrondo, como de vento que assoprava com ímpeto, e encheu toda a casa onde estavam assentados.

E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.

E, achavam-se então habitando em Jerusalém, judeus e varões religiosos de todas as nações que há debaixo do céu.
Quando a notícia correu acudiu muita gente e ficou pasmada porque cada um os ouvia falar na sua própria língua. Estavam, pois, todos atônitos, e se admiravam dizendo: Porventura não está se vendo que são galileus todos esses que falam? Como, pois, os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos? (...) Nós todos temos escutado, em nossas línguas, as maravilhas de deus que eles pregam."
  
O mentor mente e inventa essa tal de “língua nova”, catalogando-a como “língua do espírito santo”. Coloca Maria em cena, por sua própria conta. O capitulo II dos Atos dos Apóstolos, que trata da “vinda do espírito santo” é claríssimo. “Língua” referida nele significa idioma. E ali se refere ao dom de se falar “idiomas estrangeiros”, ou seja, idiomas que existem e são compreendidos pelas pessoas que os utilizam. A tal profecia de Joel diz que o Senhor realizará prodígios. Nada mais.

Observe-se ainda que o mentor, de má fé, interpreta, a seu modo, o que não está escrito no seu "livro sagrado", quando diz que os apóstolos “oravam, cantavam e louvavam” e completa, mudando radicalmente o texto original, dizendo que “falavam UMA língua nova”. Leia novamente o texto, que diz claramente “NOUTRAS LÍNGUAS ” e que eram compreendidas por todos.

Em seguida diz que todos entendem a língua com o coração(???), mas não prova o que seja isso. Veja que isso também não está no texto original. Fica claro no original que a referência é a IDIOMAS de outras nações, falados e entendidos por cada um que nasceu nelas. A narração original tem a intenção de apresentar esse acontecimento como prodígio sobrenatural. 
Continuando, a seita diz:
"O que é o dom de línguas? Quando nós somos batizados no Espírito Santo, a primeira coisa da qual nos enchemos é de oração. E por que isso? Porque o Espírito Santo é a ligação entre o Pai e o Filho. A oração é a comunicação entre o Pai e o Filho; o Filho que fala ao Pai e o Pai que fala ao Filho. A beleza da intimidade que acontece dentro da Trindade é feita pelo Espírito Santo. O Espírito Santo é oração.
Além disso, Ele é a ligação entre Deus e nós. A oração que vai e a oração que volta. Quando somos introduzidos no Espírito Santo, saímos cheios de oração, porque o Espírito Santo é oração, uma oração de fogo, infalível.
Nós damos o combustível, que é o nosso ar. Movemos nossas cordas vocais, movemos a boca, a língua, geramos sons; e o que acontece? O Espírito Santo ora, fala e canta em nós. Fornecemos a expressão palpável, mas quem dá o conteúdo, o fogo e a oração é o Espírito Santo."
Observe-se a técnica de justificativa. Primeiramente uma assertiva: “Quando nós somos batizados...” etc. Quem prova essa afirmação? Depois vêm os famosos “porquês”: "Porque o Espírito Santo é a ligação entre o Pai e o Filho...." E tome assertivas e “porques”.

Observe bem que o vocábulo “porque” é uma conjunção causal ou explicativa, usado para se dar uma explicação ou para mostrar a origem ou causa de uma assertiva anterior. O complemento do “porque” deve ser uma explicação real, verdadeira, coerente, palpável. No tipo de atividade em pauta, é usado abundantemente fornecendo explicações absurdas, desconexas, tolas, sem a menor relação com a assertiva anterior que quer justificar ou explicar.

Voltando ao trecho “explicativo”, no final diz que o “Espírito Santo ora, fala e canta em nós”. Ao se dar crédito a essa explicação defeituosa vamos perceber que transformaram um elemento da “trindade suprema” em mera oração. Pergunta-se então: se o “deus espírito santo” está no interior da pessoa, por que precisa que ela produza uma verborragia silábica sem sentido? Por que um deus precisa do grito de um ser humano? Se ele já conhece as suas necessidades, que faça o meio de campo com os outros dois deuses sem incomodar seu hospedeiro e os que estão em volta.

Depois, continuando a falácia, inverte a situação em 180º, transformando a burrice e estultice do palavreado desconexo em “inteligência”:
"Que acontece no dom de línguas? Quem entra em ação não é a nossa inteligência. Movimentamos as cordas vocais, soltamos o ar, mexemos a língua, a boca, e produzimos som; mas o conteúdo vem do Espírito Santo. Da minha inteligência? Não! Da inteligência do Espírito Santo."
Seguindo, informa-se que essa afirmação é explicada por Paulo em uma passagem pinçada de Rom-8,26:
''Do mesmo modo, também o Espírito vem em socorro da nossa fraqueza, pois não sabemos rezar como convém; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis''.
Essa explicação é bem simples: ''gemidos inexprimíveis'', quer dizer: gemidos que não podem ser entendidos, a não ser quando Deus dá a interpretação. Veja que Rom-8,26 não é bem assim como o mentor da canção nova exprime. Eis o original:
“E assim mesmo o espírito ajuda também a nossa fraqueza: porque não sabemos o que havemos de pedir como convém. Mas o espírito santo ora por nós com gemidos inexplicáveis.”
Apesar de epístola nenhuma servir de prova para qualquer coisa, veja o continuado uso do “porque” no versículo acima: Primeiramente diz que o espírito ajuda nossa fraqueza. Uma afirmação que deve ser provada. Depois vem a prova: “Porque não sabemos....” Analisando-se bem o trecho “não sabemos....etc” é outra afirmação, sem qualquer ligação com a antecedente. Ou seja, além de nada provar, ainda abre outra afirmação que deve ser provada!! E assim, com esse estilo beócio, estão as epístolas e seus seguidores.

Veja que no trecho modificado o mentor trocou “pedir” por “rezar” e “ora” por “intercede”. Está certo que são sinônimos, mas com a troca sutil, o mentor eliminou a abrangência de “pedir” e “orar” pela especificidade de “rezar” e “interceder”. Assim direciona a ligação entre a verborragia imbecil por eles praticada com o ato de “rezar”

Já o espírito, que no original apenas “ora”, na modificação, tem um papel bem mais determinado: "intercede". A oração pode conter um pedido, que será ou não aceito. Na intercessão, existe quase que uma garantia que o pedido será atendido.

Porém, a própria epístola define bem o que sejam os tais gemidos. Isso vem antes, no versículo 22, que foi deixado de lado, propositadamente. Paulo está tentando provar com argumentos sem pé nem cabeça (usando “porques” de forma abusiva e sem sentido) que os que vivem com Jesus estão isentos de condenação (???) e estão possuídos pelo espírito santo (???). Se isso acontece, então essas pessoas são filhos de deus e terão uma vida futura gloriosa. Quer a prova?
No versículo 16 diz:
“Porque o mesmo espírito (de deus) dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de deus”.
Porém como ele faz isso? Como provar que existe espírito santo? Isso Paulo não explica, mas diz que “julga” (opinião dele) que a glória vindoura será imensa (para os filhos de deus) e o que toda criatura (não convertida) deseja é ter o privilégio de ser filho de deus. E que essas criaturas, na ânsia de terem seu desejo satisfeito “gemem e estão com as dores do parto.” (Rom-8, 22).

Porém, os filhos de deus também “gemem, dentro de nós mesmo" (Rom-8,23) na espera da conversão dessas criaturas e na “redenção do nosso corpo”. (Note bem que isso é opinião pessoal de Paulo. Inferências, nada mais.)

Gemer, aqui, significa uma demonstração de angústia, as criaturas sem deus, estão angustiadas na espera de serem adotadas e os filhos de deus estão angustiados para que elas se convertam o mais rápido possível.

Continuando Paulo sofisma, dizendo que nessa angústia da espera é que se encontra a salvação. E, a esperança deve ser algo desconhecido, pois se alguém vê o que espera, isso não é esperança. Portanto, a esperança no acontecimento desses dois fatos deve ser algo não acessível ao filho de deus, ou seja, “se o que não vemos esperamos: por paciência esperamos” (Rom-8,25)

Essa espera no escuro é uma fraqueza e poderia desanimar o fiel. Nesse ponto, Paulo joga uma bóia de salvação, com o famoso Rom-8,26. Nele avisa que a espera não será feita às cegas, pois o espírito santo vem ajudar. Porém, como o fiel saberá que está sendo ajudado pelo espírito? Não saberá, nem precisa ficar preocupado com isso, pois o espírito “ora por nós com gemidos inexplicados”.

A tradução de “gemidos inexplicados” nesse contexto é “de forma desconhecida”. Ou seja, de uma forma que não pode ser exprimida com palavras. Assim, como se utiliza de “gemer” como uma figura para demonstrar a angústia, o autor agora utiliza a mesma expressão para demonstrar que a forma de atuação do espírito santo é inexplicável e não pode ser expressa com palavras. Tomás de Aquino corrobora essa explicação, dizendo inclusive que até a alteração dos batimentos do coração pode ser forma de expressão da atuação do espírito santo.

Salta à vista que Paulo está utilizando aqui o principal mote do cristianismo: “Não pergunte, apenas creia.” Ou seja, não queira saber como o espírito santo age. Apenas creia que ele está contigo e vai te ajudar, mesmo que você não perceba. Ponto final.

Portanto, querer justificar com essa epístola a logorréia que acontece nas “adorações” é pura falácia. Mesmo porque Paulo explica em outra epístola o que significa “línguas”, demonstrando que é sinônimo de idioma e instrui com todas as letras para que as palavras sejam pronunciadas de forma inteligível, sem transformar a assembléia em um circo. Veja:
(Cor-14)
“Segui a caridade, e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar. Porque o que fala em língua desconhecida não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala mistérios. Mas o que profetiza fala aos homens, para edificação, exortação e consolação. O que fala em língua desconhecida edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja."
(comentários: Em todas as epístolas, Paulo se refere a “falar em línguas”, aproveitando-se do fenômeno de xenoglossia - a capacidade da pessoa, em estado alterado de consciência, de falar em outras línguas que não seja a sua - para usá-lo como prova de que havia algo sobrenatural interferindo com os apóstolos. Assim, se alguém fala em idioma estrangeiro sem entender o que fala e sem que haja alguém por perto que o entenda, está perdendo tempo, pois nem sua consciência, nem seu espírito, têm noção do que foi dito.)
"Quero que todos vós tenhais o dom de línguas, mas muito mais que profetizeis; porque o que profetiza é maior do que aquele que fala diversas línguas, a não ser que ele também a interprete para que a igreja compreenda e receba edificação."
(comentário: Paulo deixa bem claro que falar idiomas estrangeiros – sem entendê-los, é claro – é um dom sobrenatural (um prodígio que prova que sua religião é a certa) porém somente tem valor se houver interpretação. Veja que o outro “dom” – profetizar – é o mais valioso. A atração por previsões para o futuro é fortíssima no vulgo e Paulo sabia disso. Então, deixa bem claro quais são as regras em sua igreja, que deve entender bem todas as mensagens transmitidas.
"E agora, irmãos, se eu for ter convosco falando em diversas línguas, qual seria meu valor para vocês, se não vos falasse ou por meio da revelação, ou da ciência, ou da profecia, ou da doutrina? Da mesma sorte, se as coisas inanimadas, que fazem som, seja flauta, seja cítara, não formarem sons distintos, como se conhecerá o que se toca com a flauta ou com a cítara? Porque, se a trombeta produzir um som confuso, quem se preparará para a batalha?"
(comentário: ou seja, alguém falando uma língua estranha sem ser compreendido, não tem nenhum valor para a comunidade)
"Assim também vós, se com a língua não pronunciardes palavras bem inteligíveis, como se entenderá o que se diz? Porque sereis como quem fala ao vento.
Há, como todos sabem, tantos gêneros de línguas no mundo, e nenhuma delas é sem significação. Se eu, pois, não entender o que significam as palavras, serei bárbaro para aquele a quem falo, e o que fala será um bárbaro para mim da mesma forma.
Assim também vós, como desejais dons espirituais, procurai abundar neles, para edificação da igreja. Por isso, o que fala em uma língua desconhecida, peça o dom para que a possa interpretar. Porque, se eu orar em língua estrangeira,
(sem entender, é claro!) verdade é que o meu espírito ora, mas o meu entendimento fica sem fruto. Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com a mente; cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente. Porém, se louvardes com o espírito, como poderá, o que ocupa o lugar de simples no povo, dizer “Amém’, sobre a tua ação de graças, visto não entender ele o que tu dizes? Porque realmente tu dás bem as graças, mas o outro não é edificado."
(comentário: veja bem que “louvar com o espírito” foi explicado anteriormente como produto de orar em língua estrangeira. Outro detalhe: orar com a mente é orar em silêncio)
"Dou graças ao meu Deus, porque falo todas as línguas que vós falais. Todavia eu antes quero falar na igreja cinco palavras na minha própria inteligência, para que possa também instruir aos outros, do que dez mil palavras em língua estrangeira."
(comentário: Pronto. Paulo aqui informa qual é o valor a ser dado para falar em língua estrangeira: Zero!)
"Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e perfeitos no entendimento. Está escrito na lei: Por gente de outras línguas, e por outros lábios, falarei a este povo; e ainda assim me não ouvirão, diz o Senhor. De sorte que as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis; e a profecia não é sinal para os infiéis, mas para os fiéis.
Se, pois, toda a igreja se congregar num lugar, e todos falarem em línguas diferentes, e entrarem então pessoas simples ou infiéis, não dirão porventura que estais loucos? Mas, se todos profetizarem, e alguma pessoa simples ou infiel entrar, é convencido por todos, é julgado por todos. (...) Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, se cada um de vós tem o dom de compor salmo, tem o de doutrinar, tem o de revelar, tem o de línguas, tem o de as interpretar, então faça-se tudo isso para edificação. Ou, se alguém tem o dom de línguas, não falem senão dois, ou quando muito três, e um depois do outro, e haja alguém que interprete o que eles disseram. Mas, se não houver intérprete, fiquem calados na igreja, e falem consigo mesmo, e com Deus. (...) Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar, e não proibais o uso do dom de línguas. Mas faça-se tudo com decência e com ordem.”
(comentário: Paulo, nesse trecho, deixa o esquema bem claro: se não houver intérprete, fique em silêncio. E dá uma importância mínima à capacidade de alguém falar em idioma estrangeiro, com relação à capacidade de profetizar.)

Porém, a pá de cal nesse assunto é colocada pelo próprio Jesus (o deus supremo do padre Jonas). Veja o Sermão da Montanha (Mt 6; 5-8):
"E quando orardes, não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa. Quando tu orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que tudo vê num lugar oculto, recompensar-te-á. Nas vossas orações, não faleis demasiado, como fazem os pagãos que julgam que serão ouvidos por falar muito. Não os imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós Lho peçais".
Aí está. Procurem na Internet as explicações sobre “falar em línguas” e descubra que os defensores dessa prática tola pinçaram apenas o que queriam nessas epístolas de Paulo e nos Atos dos Apóstolos para tentar justificar justamente o contrário do que Paulo e Jesus aconselham.

Mas, por que, então, essas cabeças coroadas vão contra Jesus, um deus, e contra o verdadeiro fundador do cristianismo – Paulo – desobedecendo a seu livro sagrado? A resposta é simples e pode se ter uma pista no que diz um pastor Rodolfo Bussinguer de uma certa “Comunidade Rama”:
“Quem fala em línguas desenvolve a intimidade com Deus, porque usa a fé (está falando uma coisa que não entende, mas Deus entende). Há um efeito sobrenatural muito forte.”
Veja que não há bom senso na coisa. Se você pode falar em sua própria língua, por que usar um ajuntamento de sílabas sem sentido? Afinal deus entende qualquer coisa. “Porque você não sabe o que pedir”, é a resposta cretina.

Primeiramente, garanto que todos sabem o que pedir; segundo, se o próprio espírito santo se apossou da pessoa, como faz parte de uma trindade “integrada” – 3 em 1 e 1 em 3 – todos os três deuses ou o único deus supremo, já sabem o que a pessoa precisa. Não há necessidade de pedir, de orar, de gritar ou de proceder como desequilibrados recitando mantras idiotas.
"(...)O povo todo louvando a Deus em uma voz muito moderada na igreja fica aquele barulho gostoso como a Bíblia descreve no Apocalipse, o barulho de muitas águas.” (...)Línguas estranhas é um dom louco que não tem razão nenhuma, mas por isto mesmo é necessário fé. Temos que crer que uma loucura aos olhos humanos é usada pelo Senhor para nos edificar, isto realmente precisa de fé."
Veja novamente a aplicação do mote maior: “Não pergunte nada, apenas creia!”. Isso é fé. Na verdade, o único barulho “gostoso” para esses sacripantas é o de moedas caindo no cofre. O dom pode ser louco, mas é lucrativo.
Esse “barulho” é o indutor de catarse na multidão. O sujeito, envolvido pelo clamor, entra em estado de suspensão, chora, grita, integra-se à manada de cabeças vazias de bom senso, saturadas de emocionalidade e de endorfinas. É o mesmo fenômeno que contamina os espectadores em um estádio de futebol. A manada compacta, reage como uma única massa, guiada apenas pelo seu lado emocional, ficando aberta para receber e cumprir qualquer ordem, por mais absurda que seja, estourando a qualquer sinalização.

Na congregação, o ritual foi cumprido seguindo uma meticulosa preparação. Cada passo é ensaiado rigorosamente para levar a multidão a esse estado de lavagem cerebral, infantilizada e idiotizada. Depois que o “louvor” passa, a pessoa sente-se aliviada e acredita que realmente foi incorporada por algo sobrenatural.

Está pronta para cumprir ordens que surgem como sugestões. Acha que foi curada (na realidade, não foi, e se a dor ou doença se manifestar depois, a culpa é dela que não está tendo fé suficiente.) Abre a bolsa alegremente e a carga de endorfinas, que a fez sentir-se tão bem, torna-se um vício.
Ela recebe quase sem refletir as explicações mentecaptas sobre a tal da língua desconexa que arengou, tem fé em tudo que lhes é dito e, como uma criança de tenra idade, não percebe o ridículo e, principalmente, o roubo que estão perpetrando contra ela.

Reflexo condicionado, o fiel fica cativo e voltará sempre, trazendo seu suado dinheirinho para receber sua carga de alívio emocional. Essa é a razão dos mentores fingirem ignorar o evangelho de Mateus e mandarem às favas Paulo e suas epístolas, deturpando-as e descumprindo-as. A grana fala mais alto.

Como dizia Maquiavel, em “O Príncipe”, “quem engana sempre vai encontrar alguém que queira ser enganado”. Esse é o povo. Esse é o preço a pagar pelo medo da morte total, pela angústia de saber que, ao nascer, se começa a morrer; e por querer uma imortalidade impossível.



A riqueza e o ouro dos "pastores"
Nesse caso, ele não somente quer ser enganado; ele PRECISA que seja enganado, pois a verdade é fria e extremamente cruel. E os enganadores se aproveitam dessa angústia mortal para – parasitas, incompetentes em produzir algo útil para a humanidade – enriquecerem e levarem uma boa vida terrena.

Esse ridículo “falar em línguas”, praticado nesses centros de alienação mental, que constrange as pessoas sensatas com espetáculo tão deprimente, insano e farsesco, é a prova cabal daquilo que Erasmo de Rotterdam já havia constatado, por volta de 1500, em seu “O Elogio da Loucura”:
“Já não falo de Minos, nem de Numa, que por meio de fabulosas invenções souberam tirar proveito da ignorância popular. É sempre com semelhantes puerilidades que se faz mover a grande e estúpida besta, que se chama povo.”




L Valentin
Agosto-2008

10 de ago. de 2013

As Diferenças

As Diferenças Entre Você e Eu

A vida é um contínuo aprendizado e, com os meios de comunicações modernos, as pessoas são bombardeadas diuturnamente com uma massa incrível de informação. “Informação é poder”, diz o velho ditado, que pode ser entendido de uma forma mais completa “Informação ‘verdadeira’ é poder”. Mas, aqui surge a pergunta: Quais as informações que cada um precisa ter? 
O cabedal de informações imprescindíveis de uma pessoa pode ser classificado, grosso modo, em 3 tipos:
  1. As informações que ela precisa para sobreviver em uma vida digna;
  2. As informações que ela precisa para manter e evitar o dano ao seu patrimônio e sua saúde;
  3. As informações que catalisarão as duas anteriores.
Sabendo disso, podemos classificar tal cabedal em outros três tipos, no que diz respeito à qualidade da informação:
a)    Verdadeiras
b)    Falsas
c)    Crenças
As informações falsas são aquelas que não afetam de modo significativo o andamento da vida da pessoa.  Por exemplo, achar que o sol gira em torno da terra ou se o homem foi ou não à lua. As crenças são informações que, além de serem falsas - ou não se poder provar o contrário - afetam a vida das pessoas. Por exemplo, acreditar que gato preto traz azar e tomar providências para não cruzar com um.

Porém o que se deve ressaltar é que o cabedal de informação de uma pessoa PARA ELA sempre representa a expressão da verdade. Ou seja, ela “crê” firmemente que tudo o que sabe é verdadeiro. L Hubbard, o criador da “cientologia”, deixou patente tal fato ao dizer que “a verdade é aquilo em que cada um acredita”.  Já Maquiavel ensinou que “quem pensa que sabe sem saber, é uma pessoa nociva”.  As pessoas úteis, segundo ele, seriam as que sempre estariam buscando adquirir mais conhecimentos, VERDADEIROS, diga-se de passagem. 

Na busca da qualidade da informação, existem aberrações, tais como um sofisma que ouvi certa vez. Em uma mesa, quatro pessoas que se conheceram naquele momento, em um almoço empresarial. Eu entre elas. Uma delas, psicólogo, para puxar conversa disse:
- Ontem comprei um livro. Com ele a minha biblioteca atinge 10 mil volumes.
Imediatamente, lembrei-me da biblioteca da cardeal da Cunha, no tempo de D. Maria I de Portugal, que alardeava ter uma biblioteca com 11 mil volumes, os quais o povo apelidara de “11 mil virgens”.
- Você já leu todos? - perguntei
- Para falar a verdade, li pouquíssimos, mas garanto que já li mais que muita gente, pois, de cada um, sempre li a primeira página. Assim, já li 10 mil páginas, o que dá, se considerarmos que um livro tem em média 250 páginas, 40 livros.
- Na verdade - disse eu - você realmente leu muito, mas dessa experiência somente aprendeu três coisas: primeira, como abrir um livro; segunda, que o livro tem uma primeira página e terceira, que sabe contar até 10 mil.

Essa pequena história, absolutamente verdadeira, exemplifica um sofisma misturando leitura e conhecimento. O psicólogo em tela nada aprendeu. Portanto, em tese, as pessoas deveriam buscar aprender sempre mais, de forma adequada e, principalmente, serem capazes de conferir a qualidade da informação que está apreendendo. Ou seja, se ela é verdadeira ou falsa.    

A ferramenta para isso é simples: ao contrário do que a maioria faz, quando busca encontrar provas de que seu conhecimento é verdade, o correto é procurar o contraditório dos conhecimentos do cabedal de cada um. Essa é uma das facetas de um processo chamado “reductio ad absurdum”, ou seja, tenta-se provar o fato que nega o conhecimento.
Por exemplo, alguém pode acreditar que a água não congela a 0º Celsius nas condições normais de temperatura e pressão (CNTP). Ao procurar fatos que provem esse seu conhecimento, encontra três argumentos “científicos” que o reforçam. Porém, quando, ao invés de tentar provar a veracidade dele, procurar provas que o neguem, encontrará, não só argumentações que simplesmente destroem as três “provas científicas” que o apoiavam, como também uma vasta literatura com provas cabais negando o seu conhecimento falso, ou seja, que na realidade, nas CNTP, a água congela a 0º Celsius. Dessa forma a pessoa fica de posse dos dois lados da moeda e pode, com sua inteligência e raciocínio, descartar facilmente a proposição falsa.

Aqui surge uma primeira diferença entre mim e você. Há décadas que aplico a ferramenta do contraditório sobre os conhecimentos que adquiro.  Com isso, além de manter conhecimentos saudáveis, aumento de forma fantástica o item 3 da lista acima. Você somente tenta comprovar a veracidade de suas ideias e recebe de volta falácias que acredita serem verdades. A má qualidade de seu conhecimento não muda jamais.

Outra diferença é a liberdade. Não possuo deuses a adorar nem gurus a seguir. Você tem sua vida regida por deuses e seu caminho balizado por gurus. Você é escravo deles. E não ousa buscar meios de contradizê-los com receio do que pode vir a encontrar.

Eu e você caminhamos na manada. A diferença é que eu caminho nela obrigado, esperneando, lutando por me libertar de seus limites, sabendo para onde ela me leva e procurando a todo instante uma chance de fugir. Você segue alegremente, cego, dominado, dócil, sem alma, fazendo o que os mestres mandam, abraçando um destino medíocre por eles reservado à manada.

Enfim, você pode ter bens e ser milionário. Pode ser alguém, ou até um político, que chegou com dezenas e agora está com milhões. Mas, duas gerações após sua morte, tais bens terão se diluído em diversas mãos e ninguém, mas ninguém mesmo, se lembrará de sua existência ou de seu nome. Você estará morto e extinto. Esse é o destino dos carneiros da manada.  A nossa diferença essencial é que deixarei um legado de ideias, que descendentes e amigos fiéis preservarão. São milhares de páginas de textos, artigos e ensaios. São livros, são filmes, são traduções de obras em inglês, francês e espanhol. Quando, em um futuro distante, alguém tomar conhecimento de algo de minha produção, se encantar e procurar saber mais informações sobre o autor, nesse momento, estarei vivo novamente.

Luis V Vallejo
31/12/2012

29 de jul. de 2013

In Memoriam

A Despedida de um Homem Livre

In Memoriam Dr. Felipe Jeremias Tortorella

Nesta sexta feira, 22 de março de 2013, nos deslocamos até Quatis, RJ, para participar das exéquias do amigo, Dr. Felipe. No cemitério da cidade, despojado e simples, entrou o séquito: Um grupo de cerca de cem pessoas acompanhava o féretro, que, sem qualquer luxo ou ostentação, abrigava o corpo do falecido.

Olhando em volta notei que acontecia algo diferente.   Pela pessoa do morto, pela qualidade da gente que o cercava e pela contrição que apresentava diante da cena que se ali se desenrolava.


Última foto em 13/03/2013 - Eu, Dr, Felipe e Wanda
 Não é intenção aqui de analisar, em suas várias facetas, a figura humana do extinto, mas sim destacar aquela que o tornou ímpar, que lhe deu notoriedade, e que lhe rendeu, afinal, a possibilidade de  montagem dessa última cena de sua vida. Essa sua característica sempre foi a independência e a liberdade. Uma pessoa que lutou na Faculdade de Medicina, numa época que  somente os mais capazes e mais competentes se formavam, sempre passando em primeiro lugar. Uma pessoa que amealhou um patrimônio razoável a custa de economia, parcimônia e suor do rosto.  Uma pessoa com conhecimentos profissionais incomparáveis. Um cidadão útil à sociedade. Um homem digno.

Mas, sua liberdade também lhe trouxe a desaprovação. Era desaprovado por ser simples, por andar com roupas puídas, por levar uma vida austera, sem luxos e sem ostentação, por não participar da vida social da cidade. Era reprovado por, sendo médico e ter posses, não pertencer a clubes como o Rotary, Lions ou à Maçonaria e muito menos se imiscuir com políticos e partidos em negociatas escusas.  Era reprovado por, mesmo obedecendo à ética médica, não se envolver com corporativismos da classe, não participar de associações médicas e não se pavonear em congressos.  Era reprovado por não fazer conchavos com a indústria farmacêutica,  laboratórios e planos de saúde.   Ele deu as costas ao sistema, mas o sistema não o ignorou  e sempre o sabotou.  Ele se recusou a andar na manada,  a trocar, como todos fazem, a honra e dignidade pelo aconchego das asas do poder.

As poucas dezenas de humildes que acorreram à derradeira despedida, porém, representavam os milhares que o respeitavam e nele confiavam. Um respeito nascido da comprovação de sua perene intenção de  lhes minimizar as mazelas e dor, sem, muitas vezes, nada exigir em troca. Respeito por se ver uma receita de chá de picão em lugar de um remédio caro de laboratório famoso, muitas vezes de eficiência menor que a prescrição caseira. Respeito por se ter um  diagnóstico baseado em seus excelentes treinamento e experiência médicas, sem  haver a necessidade de se recorrer a exames laboratoriais caros e, frequentemente desnecessários.  

Coisas que o sistema não perdoa. Como não perdoou a sua recusa em pagar para ter proteção, no melhor estilo mafioso, e, como castigo teve sua casa assaltada e foi massacrado a coronhadas. Mesmo assim, um dos bandidos encapuçado, com uma ponta de humanidade, ao vê-lo sangrando estirado no chão lhe disse: “Eu lhe conheço doutor e sei que o senhor não merece isso. Mas estamos cumprindo ordens. Desculpe doutor”. De nada isso adiantou.  Ele não mudou. Sua casa sofreu mais quatro assaltos, mas continuou com sua obra entre os desfavorecidos e a ignorar o sistema. 

Um homem livre,  pairando muito acima, separado da manada estúpida, que segue para o matadouro placidamente. Ele vivia em um nível superior, assombrando-se com aquilo que os amos faziam e fazem com os carneiros da manada. Ele era, no dizer de suas próprias palavras, um “livre pensador” aguardando a hora de voltar a ser poeira de estrelas.

E a hora chegou. Talvez o sistema tenha considerado que ignorá-lo na sua despedida final tenha sido uma boa providência. Engano de vocês, mestres da fraude e da escravidão.   E aqui a diferença foi esclarecida. Um funeral com apenas duas singelas coroas de flores, algumas dezenas de pessoas humildes à roda do jazigo e mais nada.  O momento, o local e a memória do médico não foram conspurcados. A presença dos humildes com sua sincera comoção e a ausência de engravatados foi a melhor homenagem que ele poderia ter recebido. 

Luis Valentin Vallejo
22/03/2013