CONTO
O Náufrago do Deserto Luis VC Vallejo O Príncipe Yazhed atravessava o deserto com um grande séqüito de soldados e camelos. Estava vindo de uma em sucedida empreitada contra um inimigo do sul e tinha conseguido uma gorda pilhagem. Estava levando para suas terras uma grande quantidade de cavalos, cabras, ouro e víveres. A caravana seguia lentamente, parando à noite para um merecido descanso. Num belo dia, já perto de seus domínios, Yazhed resolveu não desarmar o acampamento pelo amanhecer pois, pelos seus cálculos, aquele seria o último dia de viagem. Resolveu então colocar seus soldados para se preparem para entrar em sua cidade com toda pompa. Iria reservar esse dia para os preparativos e partiria no dia seguinte. O calor estava sufocante e o Príncipe ordenou que se fizesse um grande almoço para ele e seu estado maior. Todos estavam na grande tenda, desde cedo, bebendo e comendo. Na cidade, ele seguia a lei e se abstinha de tomar álcool, mas em campanha, todos bebiam, principalmente se nos despojos havia vinho. A tarde já começava quando seu ajudante de ordens entrou na tenda, onde todos os chefes estavam se regalando e chegou ao lado do príncipe, falando baixo.
Yazhed, meio embriagado, respondeu:
O ajudante, notando que o Príncipe não se zangara, animou-se a
continuar.
O Príncipe virou-se para seu general, que acabara de dar um imenso
arroto e perguntou-lhe:
Hassan, novamente com a boca cheia, assentiu com a cabeça e resmungou um
sim.
Hassan engoliu e, de olho em um resto de pernil de carneiro, respondeu
depressa quase sem pensar, segurando o osso do pernil que alguém já
estava tentando tirar da bandeja.
Omar saiu da tenda, passou as ordens do príncipe para a soldadesca,
montou em um cavalo e dirigiu-se até a duna, onde o pobre homem estava
caído. Em lá chegando, viu que o homem ainda não morrera, mas estava
próximo do fim. Saltou do cavalo, abaixou-se e sem tocá-lo indagou:
O homem moveu a cabeça devagar, reuniu suas débeis forças e murmurou:
O homem mexeu levemente a cabeça e olhou fixamente para Omar. Seu olhar
era de súplica. De uma doída e derradeira súplica. Omar, num gesto
inusitado, deitou-se ao seu lado e falou pausadamente:
Enquanto falava, Omar notou que um brilho fraco estava aparecendo no
fundo daqueles olhos, já quase sem vida. E continuou:
Lentamente o homem começou a arrastar-se e com ele, Omar, mas sempre sem
tocá-lo. Do topo da duna, iniciaram a descida, deslizando pela areia
quente e sufocante. A cada parada, Omar lançava um jorro de palavras de
incentivo e o homem recomeçava.
Os homens no acampamento ao verem que Omar estava se arrastando com o moribundo, correm até onde estão e começam também a incentivar e animar o náufrago. Este, como se retirasse forças das palavras que lhe eram dirigidas, continuou a se arrastar até chegar à porta da tenda do Príncipe. Atraído pela algazarra, este já se encontrava do lado de fora, bem como todos os seus convidados.
Omar, adiantou-se:
Fez-se um grande silêncio no acampamento. Somente
escutava-se o farfalhar do vento nas lonas das tendas. O homem, levantou
a cabeça, quase totalmente esgotado, reuniu suas derradeiras energias e
repetiu claramente:
Rapidamente apareceu um odre, que serviu para encher o cálice que o
Príncipe segurava. Este, ao ver a água, amarelada, que estava sendo
servida bradou:
O soldado que segurava o odre tremeu e desculpou-se.
Omar, rapidamente destampou outro odre exclamando:
Yazhed olhou por alguns instantes para a água suja em seu cálice e
recusou a oferta de Omar.
Os soldados levantaram o homem e deram-lhe a água do cálice, que o homem
bebeu de uma só vez. O Príncipe entrou na tenda e foi seguido por seus
convidados. Omar tomando seu odre, apressou-se a dar água limpa ao pobre
homem, que bebeu sofregamente. Em seguida levaram-no para uma tenda onde
começaram um processo para alimentá-lo.
No dia seguinte de manhã, levantaram acampamento e, à tarde, estavam chegando em sua cidade. O homem salvou-se e o episódio foi esquecido.
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Anos mais tarde, a cidade sofreu um assédio de tribos rivais. A mortandade foi grande e nosso náufrago morreu logo no começo do ataque. Uma semana depois toda cidade foi arrasada morrendo o Príncipe, Omar e todos os outros, depois de uma tremenda luta. Todos foram levados à presença do anjo Gabriel, que estava inspecionando a passagem pela ponte Al-Sirate, tão fina quanto um fio de cabelo, onde os justos por ela caminham sem problemas e os maus despencam, caindo no inferno. Ao chegarem na extremidade da ponte, Yazhed e Omar viram, do outro lado da ponte, perto da extremidade, o homem que tinha sido salvo no deserto. Omar logo o reconheceu e bradou:
O anjo, ao ouvir isso conversou com o homem e voltou-se para Omar.
Omar dirigiu-se para a ponte e, com passo firme, atravessou a ponte.
O anjo respondeu-lhe:
O Príncipe indignado e temeroso voltou-se para o náufrago:
O homem voltou-se para ele lentamente e, após um longo minuto, falou:
Yazhed, diante dessas palavras, calou-se e começou a caminhar pela
ponte.
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aviso texto
19 de mai. de 2013
Conto
18 de mai. de 2013
Nova Edição
Nova edição da tradução da conferência de Gerald Massey: "O Jesus Histórico e Cristo Mítico". Corrigidos erros, adicionadas TODAS as notas explicativas do editor inglês e acrescentadas notas suplementares do tradutor.
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