As
Diferenças Entre Você e Eu
A
vida é um contínuo aprendizado e, com os meios de comunicações modernos, as
pessoas são bombardeadas diuturnamente com uma massa incrível de informação. “Informação é poder”, diz o velho ditado,
que pode ser entendido de uma forma mais completa “Informação ‘verdadeira’ é poder”. Mas, aqui surge a pergunta: Quais
as informações que cada um precisa ter?
O
cabedal de informações imprescindíveis de uma pessoa pode ser classificado,
grosso modo, em 3 tipos:
- As informações que ela precisa para sobreviver em uma vida digna;
- As informações que ela precisa para manter e evitar o dano ao seu patrimônio e sua saúde;
- As informações que catalisarão as duas anteriores.
Sabendo
disso, podemos classificar tal cabedal em outros três tipos, no que diz
respeito à qualidade da informação:
a) Verdadeiras
b) Falsas
c) Crenças
As
informações falsas são aquelas que não afetam de modo significativo o andamento
da vida da pessoa. Por exemplo, achar
que o sol gira em torno da terra ou se o homem foi ou não à lua. As crenças são
informações que, além de serem falsas - ou não se poder provar o contrário - afetam
a vida das pessoas. Por exemplo, acreditar que gato preto traz azar e tomar
providências para não cruzar com um.
Porém
o que se deve ressaltar é que o cabedal de informação de uma pessoa PARA ELA
sempre representa a expressão da verdade. Ou seja, ela “crê” firmemente que
tudo o que sabe é verdadeiro. L Hubbard, o criador da “cientologia”, deixou
patente tal fato ao dizer que “a verdade
é aquilo em que cada um acredita”.
Já Maquiavel ensinou que “quem
pensa que sabe sem saber, é uma pessoa nociva”. As pessoas úteis, segundo ele, seriam as que
sempre estariam buscando adquirir mais conhecimentos, VERDADEIROS, diga-se de
passagem.
Na
busca da qualidade da informação, existem aberrações, tais como um sofisma que
ouvi certa vez. Em uma mesa, quatro pessoas que se conheceram naquele momento,
em um almoço empresarial. Eu entre elas. Uma delas, psicólogo, para puxar
conversa disse:
-
Ontem comprei um livro. Com ele a minha
biblioteca atinge 10 mil volumes.
Imediatamente,
lembrei-me da biblioteca da cardeal da Cunha, no tempo de D. Maria I de
Portugal, que alardeava ter uma biblioteca com 11 mil volumes, os quais o povo
apelidara de “11 mil virgens”.
-
Você já leu todos? - perguntei
-
Para falar a verdade, li pouquíssimos,
mas garanto que já li mais que muita gente, pois, de cada um, sempre li a
primeira página. Assim, já li 10 mil páginas, o que dá, se considerarmos que um
livro tem em média 250 páginas, 40 livros.
-
Na verdade - disse eu - você realmente leu muito, mas dessa
experiência somente aprendeu três coisas: primeira, como abrir um livro;
segunda, que o livro tem uma primeira página e terceira, que sabe contar até 10
mil.
Essa
pequena história, absolutamente verdadeira, exemplifica um sofisma misturando
leitura e conhecimento. O psicólogo em tela nada
aprendeu. Portanto, em tese, as pessoas deveriam buscar aprender sempre
mais, de forma adequada e, principalmente, serem capazes de conferir a
qualidade da informação que está apreendendo. Ou seja, se ela é verdadeira ou falsa.
A
ferramenta para isso é simples: ao contrário do que a maioria faz, quando busca
encontrar provas de que seu conhecimento é verdade, o correto é procurar o
contraditório dos conhecimentos do cabedal de cada um. Essa é uma das facetas
de um processo chamado “reductio ad
absurdum”, ou seja, tenta-se provar o fato que nega o conhecimento.
Por
exemplo, alguém pode acreditar que a água não
congela a 0º Celsius nas condições normais de temperatura e pressão (CNTP). Ao
procurar fatos que provem esse seu conhecimento, encontra três argumentos
“científicos” que o reforçam. Porém, quando, ao invés de tentar provar a
veracidade dele, procurar provas que o neguem, encontrará, não só argumentações
que simplesmente destroem as três “provas científicas” que o apoiavam, como
também uma vasta literatura com provas cabais negando o seu conhecimento falso,
ou seja, que na realidade, nas CNTP, a água congela a 0º Celsius. Dessa forma a
pessoa fica de posse dos dois lados da moeda e pode, com sua inteligência e
raciocínio, descartar facilmente a proposição falsa.
Aqui
surge uma primeira diferença entre mim e você. Há décadas que aplico a
ferramenta do contraditório sobre os conhecimentos que adquiro. Com isso, além de manter conhecimentos
saudáveis, aumento de forma fantástica o item 3 da lista acima. Você somente tenta
comprovar a veracidade de suas ideias e recebe de volta falácias que acredita
serem verdades. A má qualidade de seu conhecimento não muda jamais.
Outra
diferença é a liberdade. Não possuo deuses a adorar nem gurus a seguir. Você
tem sua vida regida por deuses e seu caminho balizado por gurus. Você é escravo
deles. E não ousa buscar meios de contradizê-los com receio do que pode vir a
encontrar.
Eu
e você caminhamos na manada. A diferença é que eu caminho nela obrigado,
esperneando, lutando por me libertar de seus limites, sabendo para onde ela me
leva e procurando a todo instante uma chance de fugir. Você segue alegremente,
cego, dominado, dócil, sem alma, fazendo o que os mestres mandam, abraçando um
destino medíocre por eles reservado à manada.
Enfim,
você pode ter bens e ser milionário. Pode ser alguém, ou até um político, que
chegou com dezenas e agora está com milhões. Mas, duas gerações após sua morte,
tais bens terão se diluído em diversas mãos e ninguém, mas ninguém mesmo, se
lembrará de sua existência ou de seu nome. Você estará morto e extinto. Esse é
o destino dos carneiros da manada. A
nossa diferença essencial é que deixarei um legado de ideias, que descendentes
e amigos fiéis preservarão. São milhares de páginas de textos, artigos e
ensaios. São livros, são filmes, são traduções de obras em inglês, francês e
espanhol. Quando, em um futuro distante, alguém tomar conhecimento de algo de
minha produção, se encantar e procurar saber mais informações sobre o autor,
nesse momento, estarei vivo novamente.
Luis
V Vallejo
31/12/2012