Você
sabe Conversar?
L Valentin
25/08/2013
O
uso da tecnologia está praticamente destruindo a característica que tornou
possível o homem dominar a maior parte da natureza: a consequência normal da fala, ou seja, a
conversa. A falta de preparo diante dos
celulares e dispositivos portáteis, que ao invés de servirem ao homem, o
escravizam e tornam-se senhores das suas vidas é o grande responsável por esse evento. O tom preocupante da coisa é
dado quando o servo do celular, idiotizado, declara, sempre com um sorriso boçal
nos lábios: “Não vivo sem ele”, como se fosse um vitorioso em algo.
Assim,
a conversa natural vai sendo substituída aos poucos pela conversa eletrônica,
feita por máquinas que deixam seus
operadores viciados e inaptos a se relacionar face a face, de viva voz.
Para
piorar, a conversação sempre foi uma arte difícil de dominar. Possui uma série
de regras que embora sejam simples, são sempre esquecidas e impedem que seja
levada adiante com bons resultados.
Então não custa lembrar aqui alguns pontos fáceis que vão permitir que
uma conversa se inicie e continue, dando prazer aos que dela participam.
Paradoxalmente,
o primeiro ponto crucial é saber escutar. A televisão, sendo inteiramente visual, atrofiou inapelavelmente o restante
processamento cerebral da imensa maioria
das pessoas, as quais entendem o que escuta se, e somente se, poucas palavras estiverem associadas à
imagens. Atualmente, um texto falado - mesmo no rádio - com 5 minutos de
duração não é entendido por 80% das pessoas.
O
ato de ouvir exige que se faça alguma coisa a mais do que deixar simplesmente
que entrem ondas de som pelos ouvidos, assim como o ato de ler exige que se
faça mais do que olhar a palavra impressa. Escutar bem requer participação
ativa
Um
dos problemas é que pensamos muito mais depressa do que falamos. Falamos em
geral na proporção de 125 palavras por minuto, mas pensamos quatro vezes mais
depressa. Isso quer dizer que, em cada minuto que alguém fala conosco, nós
temos normalmente disponíveis cerca de 400 palavras de tempo para pensar. Se o
que estamos ouvindo não é de nosso interesse, logo ficamos impacientes; nossos
pensamentos se desviam um momento para algo diferente, depois voltam rápidos ao assunto
falado. Mas, como não temos interesse, nosso pensamento começa a se desviar
novamente e nesse vai e vem acabamos por nos desligar completamente de quem
está falando. Quando voltamos a prestar
atenção, notamos que ela está muito adiante de nós. Afinal, desistimos; a pessoa continua falando,
mas perdeu toda a nossa atenção.
O
segundo ponto, também muito importante, é saber que existem diferenças enormes
entre o modo como o homem e a mulher falam.
A principal razão é que a mulher, por natureza, não é o que se pode
chamar de boa ouvinte. É notório que toda criança do sexo feminino começa a
falar mais cedo que os meninos. Outro ponto a considerar é que a média das mulheres fala mais depressa
que a média dos homens, que são mais
lentos e pensam mais antes de falar. Além disso, quando o assunto não
interessa, a reação do comum dos homens é parar de falar, ao contrário do que
acontece com a média das mulheres. A
média das mulheres ainda tem o hábito de interromper quem está falando, além de interromper, mudar abruptamente o
assunto, impedir que a outra pessoa fale
e ter pouca inclinação a guardar segredos.
Portanto,
sempre ter em mente que os homens gostam de conversar com mulheres, mas não
gostam de conversa de mulher e, é verdade, se fecham quando o assunto não lhes
interessa.
O
terceiro ponto é o não ter o pensamento dirigido pelo “raciocínio dilemático”
simplista. Os linguistas informam-nos que a estrutura de todas as línguas
indo-europeias tende a nos forçar ao raciocínio de dois valores. Somos
acostumados a pensar em termos de contrastes tais como: limpo-sujo,
comprido-curto, herói-vilão, corpo-espírito, verdadeiro-falso, bom-mau,
vida-morte. A sua utilização incorpora,
quase sempre, uma falácia lógica. Os eventos geralmente possuem várias causas e
não apenas duas. O pensamento não pode ficar preso a apenas dois valores
contrastantes, fato esse que prejudica inapelavelmente a justiça com que se
trata o assunto.
A
maioria das pessoas é mentalmente preguiçosa e adota o raciocínio dilemático
por comodidade e por um suposto estado de urgência que a vida moderna impõe.
Isso é fatal para uma conversa inteligente.
Quais
são então as características de um bom ouvinte, que irão se refletir na
qualidade de uma conversa?
- Tirar proveito da rapidez do pensamento
Enquanto ouve calado utilizar a
rapidez do pensamento para analisar o que está sendo dito. Os fatos apresentados são exatos? Quais são
suas fontes? Quais os objetivos de quem
fala? Qual é a sua motivação para estar falando aquilo? Que sei eu sobre o que
se está falando? Como me atinge? Etc.
-
Analisar quem fala
Quem fala nem sempre põe tudo em
palavras. A variação de tom e volume da voz podem ter significação, da mesma
forma que as expressões da fisionomia, os gestos, os movimentos do corpo. Estudos
demonstraram que numa apresentação diante de um grupo de pessoas, 55% do
impacto são determinadas pela linguagem corporal - postura, gestos e contato
visual -, 38% pelo tom de voz e apenas 7% pelo conteúdo da apresentação (Mehrabian e Ferris, "Inference of
attitudes from noverbal communication in two channels", in The Journal of
Counselling Psychology, vol. 31, 1967, pp. 248-52). Podemos concluir que
não é o que dizemos, mas como dizemos, que faz a diferença. Atualmente esse
estudo é posto em dúvida, mas não custa nada prestar atenção em quem fala.
-
Escutar mesmo quando o assunto toca em algum preconceito ou convicção especial
de quem ouve.
Enquanto ouve a pessoa apressada
começa mentalmente a planejar uma refutação, formular uma pergunta destinada a
embaraçar quem fala, ou volta-se simplesmente para ideias que apoiam seus
próprios pontos de vista. O bom ouvinte aprende a continuar escutando. Procura
não se excitar demais com as opiniões da pessoa que fala, enquanto não tem
certeza de havê-las ouvido até ao fim e compreendido de que se trata. Quando
tiver feito isso, verificará que sua resposta é muito mais eficaz.
-
Focalizar a atenção em ideias centrais
Geralmente a ideia central de uma
conversa ou palestra vem adornada por múltiplos fatos que servem de apoio ou de
dissimulação. Estando atenta à ideia central a pessoa não se deixa enganar e
sabe separar os fatos úteis do restante, podendo montar uma resposta sólida e
eficaz.
-
Não se distrair
A concentração é primordial. Um dos
motivos para prestar muita atenção ao que está sendo dito é simplesmente uma
questão de cortesia. E aqui vem a chave de ouro da conversa: a maneira de ouvir
influi muito sobre a maneira como as pessoas falam conosco. Sempre, a qualidade da resposta depende da
qualidade da atenção prestada por quem faz a pergunta ou por quem ouve. Um
modo de ouvir inteligente ajuda o interlocutor a exprimir as ideias que tem e
assim o habilita melhor a prestar as informações de que a pessoa possa
precisar. A maneira de ouvir tem, portanto influência direta sobre o que se
aprende.
-
Não interromper frequentemente
Somente interromper quando é
necessário esclarecer um ponto antes de passar a outro.
Quem
tiver dominado a técnica de ouvir obterá um dividendo extraordinário: o fato de
aprender aprestar atenção à palavra falada significará — automaticamente —que a
própria pessoa aprendeu a falar melhor e de maneira mais interessante.
Desse
aprendizado surgem as lições, como, por exemplo, reconhecer um mentiroso falando. Eis algumas
importantes:
a)
Perguntas que estimulam uma conversa:
- Quer me explicar isso ?
- Qual é sua impressão a respeito?
- O
quê você faria?
- Por
que você
disse isso?
- Por
exemplo?
b)
Perguntas que
"matam" uma conversa:
- Que
é que você
fez hoje?
- Como
foi seu dia?
- Como
foi o jogo?
- Aconteceu
alguma coisa?
- Você gosta
de mim?
- É
mesmo?
- Você
acha que vai chover?
- A
festa estava boa?
- Você
viu o carro novo do vizinho?
c)
Como perguntar:
- Aproveite
toda oportunidade
que houver para
fazer uma pergunta inteligente
e depois... cale a boca.
Quando se está falando, não se aprende nada.
- Uma
pergunta ponderada
vale por dez perguntas
inquisitivas. A curiosidade sem
propósito faz as pessoas
se fecharem
- As perguntas
que tocam o verdadeiro
interesse da outra
pessoa são as
que provocam as melhores
respostas, desde
que ela
perceba que quem
perguntou está realmente interessado.
- Esteja
preparado para
esperar. Um longo silêncio,
às vezes, vale
mais que
uma outra pergunta.
- Sempre, a qualidade da resposta depende da qualidade
da atenção prestada por
quem faz a pergunta.
- As
perguntas devem decorrer
de uma vontade sincera
de saber e não
de tentativas de elogiar
ou de esforços
para manobrar o pensamento de outra
pessoa.
- As
perguntas que
se referem aos sentimentos de outra pessoa são mais estimulantes que
as que se referem aos fatos.
d) Sinais de mentira numa conversa
Uma pessoa conta, em geral, três
mentiras a cada dez minutos. É o que afirma o estudo realizado por Robert
Feldman, professor de psicologia da Universidade de Massachusetts, nos Estados
Unidos, e autor do livro "Quem é o mentiroso da sua vida?". A pesquisa
indica que recorrer a inverdades é questão de hábito e uma forma de manter o
bom convívio social. Eis alguns sinais que o mentiroso apresenta:
- A pessoa fará pouco ou nenhum contato direto nos olhos;
- Desvia o olhar enquanto conta a mentira e depois passa a olhar atentamente, querendo observar se conseguiu enganar.
- A expressão física será limitada, com poucos movimentos dos braços e das mãos. Quem tem certeza do que diz gesticula muito
- Não há sincronismo entre gestos e palavras
- A cabeça se move de modo mecânico
- O corpo ficará encolhido. É improvável que permaneça ereto
- Observe para onde os olhos da pessoa se movem na hora da resposta de sua pergunta. Se olhar para cima e à direita, e for destra, tem grandes chances de estar mentindo.
- Morder ou lamber os lábios pode ser um forte indício de mentira.
- Coçar o nariz
- Erguer levemente um dos ombros
- Observe o tempo de demora na resposta de sua pergunta. Uma demora na resposta indica que ela está criando a desculpa e em seguida verificando se esta é coerente ou não. A pessoa que mente não consegue responder automaticamente à sua pergunta.
- Se a pessoa ficar tranqüila enquanto você a acusa, então é melhor desconfiar. Dificilmente as pessoas ficam tranqüilas enquanto são acusadas por algo que sabem que são inocentes. A tendência natural do ser humano é manter um certo desespero para provar que é inocente. Por outro lado, a pessoa que mente fica quieta, evitando a todo custo falar de mais detalhes sobre a acusação.
- Quem mente utilizará as palavras de quem o ouve para afirmar seu ponto de vista
- A pessoa que mente continuará acrescentando informações até se certificar de que você se convenceu com o que ela disse
- Em relação à história contada, o mentiroso, geralmente, deixa de mencionar aspectos negativos
- A pessoa que mente pode utilizar as seguintes frases para ganhar tempo, a fim de pensar numa resposta (ou como forma de mudar de assunto): “O quê?” “Quem, eu?” "Porque eu mentiria para você?", "Para dizer a verdade...", "Para ser franco...","De onde você tirou essa idéia?", "Por que está me perguntando uma coisa dessas?", "Poderia repetir a pergunta?", "Eu acho que este não é um bom lugar para se discutir isso", "Podemos falar mais tarde a respeito disso?", "Como se atreve a me perguntar uma coisa dessas?"
- Ela evita responder, pedindo para você repetir a pergunta, ou então responde com outra pergunta
- A pessoa utiliza de humor e sarcasmo para criar um ambiente de brincadeira
- A pessoa que está mentindo pode corar, transpirar e respirar com dificuldade e quase sempre muda o tom da voz (mais agudo) e fala mais alto.
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Fontes
Seleções
do Reader’s Digest: Nardi R. Campion
Internet