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20 de abr. de 2023

A verdade sendo desvirtuada e vilipendiada pela midia

 Os Vários Tipos de Verdade



“Quem engana sempre encontrará alguém para enganar”

(Maquiavel – “O príncipe”)

L Vallejo

Outono - 2023

Diariamente somos bombardeados pela mídia onde aparecem pessoas que pretensamente possuem conhecimento sobre um determinado assunto.

Isso acontece principalmente com religiosos e políticos safados. Eles possuem uma tática, ou seja, um modus operandi bem definido. Nada é feito ao acaso. Tudo foi encenado e protocolado para parecer justamente o contrário, ou seja, que aquilo que se está presenciando é uma entrevista, uma conversa informal, feita de surpresa. Essa tática é estudada por todos eles e posta em prática sempre da mesma forma.  

Existem dois tipos desses programas de entrevistas. O primeiro tipo é o que é produzido nas redes de televisão e o segundo são os famosos podcasts que são transmitidos pelas mídias sociais.  A diferença entre os dois é que na televisão existe certa norma que é seguida para que o programa dê certo, isto é fature comercialmente.

Os podcasts também precisam da parte comercial, mas de forma diferente. Eles precisam de que haja muita visualização para que possam lucrar alguma coisa. Diante disso não têm limites sobre os assuntos que abordam, geralmente sem obedecer qualquer parâmetro ético ou moral. 

Na televisão os programas de entrevistas são divididos em três tipos: o primeiro tipo é aquele em que o entrevistador precisa do entrevistado;  o segundo tipo é aquele em que o entrevistado precisa do entrevistador e o terceiro tipo é aquele em que nenhum dos dois precisam de nada, ou seja nem o entrevistador precisa do entrevistado nem este do primeiro.

O primeiro tipo, quando o entrevistador precisa de entrevistado, é aquele em que o entrevistador está tentando alavancar sua audiência e pega alguém que começou a ter fama e ainda não é uma pessoa muito famosa, mas essa pessoa aceita um pagamento para ir ao programa. Esse pagamento  é o famoso cachê. 

O segundo tipo é aquele em que um entrevistado precisa do entrevistador, ou seja, precisa do programa.  Por exemplo, o sujeito não tem fama nenhuma, é um desconhecido que escreveu um livrinho e está precisando vender a sua obra.  Então faz de tudo para aparecer no programa de entrevistas.  Esse programa será visto por milhares de pessoa e ele vai conseguir uma boa venda do seu livro. Esse é o caso de propaganda paga.  O entrevistador já tem uma tabelinha de cobrança que é o chamado famoso jabá. 

Pode acontecer ainda que o entrevistado seja um tapa buraco, ou seja, a produção precisa de uma pessoa qualquer, não famosa, que tenha algum interesse em participar, sem pagar ou receber nada, para completar a quota de entrevistados naquele dia. As vezes o entrevistado já se sente realizado em apenas aparecer na TV.

O terceiro caso é quando os dois, tanto entrevistador quando entrevistado, já são famosos. Podemos citar, por exemplo, o caso de um entrevistador famoso entrevistando um jogador de futebol famoso. Ambos são famosos, são ricos e tem grande fama.  Por nada precisarem a entrevista acontece pela boa  vontade de ambos e não há pagamento.

Vamos então verificar como é feita a coisa. Quando o entrevistado recebe cachê, geralmente,  essas entrevistas são todas dirigidas e encenadas e o entrevistado  tem que se submeter aos caprichos do entrevistador famoso e sua produção. 

Nenhum programa na televisão deixa de enganar você. Somente se pode assistir, com certa cautela, os programas policiais quando mostram o crime na hora que estão acontecendo. Se, por acaso, o programa for fazer uma reportagem investigativa sobre determinada ocorrência policial, você pode ter a certeza que vai ser 10% de realidade e 90% de encenação feita pela produção para atingir níveis altos de audiência. 

De novo, não existe um programa na televisão que não seja manipulado, em que não haja um exemplo de enganação do espectador. Veja por exemplo esses programas de entrevistas.  Este relato abaixo foi o próprio entrevistado que me contou, além de mostrar o vídeo da entrevista.  Ou seja,  fonte perfeitamente confiável.

Essa pessoa escreveu um livrinho dentro da sua área de atuação e esse livro teve uma fraca repercussão.  A produção do mais famoso apresentador desse tipo de programa soube dela e entrou em contato para que ela fosse tapar um buraco no programa.  Como ela sabia que o seu livro teria uma grande propaganda nesse programa ela aceitou. 

Numa segunda-feira a produção a levou para São Paulo, a colocou no hotel de quatro estrelas. Na terça-feira, logo depois do café, apareceram algumas pessoas da produção trazendo pastas com o script total do programa: como ia ser a entrevista, ou seja, todas as perguntas que iam ser feitas com todas as respostas que ela era obrigada a dar. No script inclusive existiam pausas, a piadinha que o entrevistador ia fazer para descontrair no meio da entrevista, a resposta que ela tinha que dar, a hora que tinha que sorrir, a hora que tinha que ficar séria. Tudo escrito.  Um script completo.  Na terça-feira ela decorou; na quarta, logo depois do almoço, chegou o pessoal da produção e fizeram um ensaio repassando tudo diversas vezes. Na quinta-feira houve a gravação.  Depois o programa foi ao ar e a pessoa voltou feliz por ter aparecido na TV.

No podcast a coisa é diferente. São pessoas, tanto entrevistado quanto o entrevistador, tentando conseguir fama através de visualização na rede.

Nesse caso nunca se sabe o que ocorre por trás dos bastidores. O que se sabe ao certo é que, por exemplo, quando há um assunto que tem interesse mundial, como no caso de mudança climática pelo aquecimento global (que é falácia) e surge uma entrevista com uma pessoa para falar sobre esse tema, pode-se contar que ambos – entrevistador e entrevistado - estão ganhando dinheiro das ONGs mundiais que tratam desse assunto. 

De outra forma, geralmente, há uma combinação entre o entrevistado e o entrevistador e eles acertam uma maneira de tornar o programa palatável para o espectador. Geralmente a combinação é feita com estudo sobre as perguntas que vão ser feitas e as respostas que vão ser dadas.  Tudo isso aí é acertado e estudado e quando você vê a entrevista não vai notar que aquela coisa foi adrede combinada e que é uma isca que está te fisgando.

Além dessa gama de artifícios para enganar o vidiota, existem ainda várias técnicas de convencimento pelas quais fazem com que a falácia passa a ser verdade. 

Vamos então verificar como é feita a coisa. Aparece um pretenso especialista, um pretenso cientista ou um "doutor" que começa a ser entrevistado nesses tais  Podcasts,  que agora estão fervendo nas mídias sociais.  Existem entrevistadores para qualquer assunto. Basta o cara por uma mesinha, uma câmera filmando e sair por aí jogando lixo para fora que os vidiotas estarão alegremente consumindo.

A combinação entre os dois é feita de tal modo que trazem consigo já decorado o modo de agir, as perguntas e respostas e qual é a tática ser usada na entrevista. Consiste em cinco pontos básicos, que podem ou não possuir alguma variação.

São eles: 

Apresentação do entrevistado

Pergunta configurada para ser direta e resposta idem trazendo consigo uma verdade categórica

Apresentação da defesa do ponto de vista do entrevistado com história ficcional

Uso da falácia ad hominem pelo entrevistado para desqualificar os opositores

Termino da entrevista com apresentação de história bomba falaciosa 


1 - Apresentação do entrevistado

No início o entrevistador lê todo o currículo do entrevistado, com os devidos floreios e comentários elogiosos.

2 - Pergunta configurada para ser direta e resposta idem trazendo consigo uma verdade categórica

Em seguida vem a entrevista. Uma pergunta direta e simples obtém também uma resposta direta e simples, fazendo com que a pergunta seja confirmada ou negada com uma verdade definitiva, ou seja, aquela  que não admite qualquer dúvida.  Veremos depois um exemplo de como esse procedimento funciona.

3 - Apresentação da defesa do ponto de vista do entrevistado com história ficcional

O entrevistador se finge de surpreso e curioso e pergunta se o entrevistado pode se explicar. Então ele tentará provar essa verdade contando uma história fictícia e mentirosa.  Vai procurar fazer com que essa história fictícia se passe como fato verdadeiro,  enganando todos os que estão assistindo aquilo ali. 

4 -Uso da falácia ad hominem pelo entrevistado para desqualificar os opositores

O entrevistador, sempre fingindo estar tomando conhecimento dos fatos pela primeira vez, então coloca na mesa o nome de várias personalidades que pensam o contrário do que o entrevistado. Este, como está mentindo, não tem argumentos para atacar as ideias desses opositores, então parte para o ataque pessoal para desqualificar tais pessoas. Esse é o mais comum modo de proceder pela maioria das pessoas.

5 - Término da entrevista com apresentação de história bomba falaciosa 

O último passo é contar uma ficção de fechamento da história. Esse fechamento deve ser para produzir um efeito mais pictórico.  Deve parecer como se fosse uma história  que está sendo lançada ali em primeira mão 


Vejamos o funcionamento dessa tática com um exemplo prático. As perguntas e respostas serão mostradas em vermelho.

Suponhamos que vai ser entrevistado alguém que  já criou fama nas redes sociais e no meio do seu trabalho. Então  apresentamos o Doutor João do Lápis Cristal.

Primeiro passo

Hoje temos o grande prazer de conversar com o Dr. João do Lápis Cristal. Grande Doutor formado em ciências sociais na universidade de Ponta Verde, com mestrado feito em Berna, na Suíça e doutorado em Harvard, nos EUA, blá, blá, blá.... 

Aqui começa o desfiar de uma série de títulos, cargos, instituições que abrilhantam o currículo do Dr. Cristal, sempre usando adjetivos superlativos, tais como o batido “grande”, famoso, respeitadíssimo, poderoso, gigante, etc

O grande trunfo do enganador é que menos de 1% da audiência vai ter a curiosidade de pesquisar para ver se tal currículo esplendoroso é verdadeiro. Se for feita uma pesquisa séria, na maioria dos casos, vai se descobrir que cerca de 50% dele é falso ou tendencioso.

Outra grande jogada, feita pela maioria desses doutorandos, é fazer um estágio como convidado ou participante de um plano de compartilhamento escolar, promovidos por grandes e famosas universidades.

Todo mundo sabe que estudar em Harvard ou fazer um doutorado ali, ou em outra entidade famosa como Oxford ou Sorbonne não está ao alcance da maioria, principalmente de caipiras brasileiros que não falam nem inglês, nem francês. 

Eles vão a essas entidades, a convite ou participando de programas de cooperação, fazem 15 dias de turismo dentro da faculdade e voltam arrotando “Fiz doutorado em Harvard”.  São esses o doutores dos podcasts para o aplauso da comunidade de vidiotas.

Segundo passo

Dr. Cristal,  o senhor é um pesquisador famoso respeitadíssimo internacionalmente e eu queria saber se realmente lobisomem existe

Atenção para a pergunta.  Esse é o tipo da pergunta que é preparada para ser respondida por uma verdade categórica.  

Ele poderia perguntar dessa forma: “eu queria saber se o senhor acredita em Lobisomem”.  Essa pergunta pode receber uma resposta como uma declaração que passa a sensação de que é uma verdade que pode ser  discutida, o que não acontece com a verdade categórica.  Então a pergunta “lobisomem existe” leva a um contexto totalmente diferente de “o senhor acredita em Lobisomem”.  

Diante da pergunta “lobisomem existe” o Dr. Cristal vai responder simplesmente “existe”. Sem meias palavras, afirmativo, categórico, pondo o peso de sua reputação na afirmação “lobisomem existe”.  Isso causa um impacto de credibilidade muito maior na audiência.

Caso a pergunta fosse feita de outra forma, como “o senhor acredita que lobisomem existe” mesmo que ele respondesse apenas “existe“, a pergunta deixa transparecer que o “existe” significa “eu creio que existe”.  Isso já lança no ar dúvidas. E, geralmente a resposta para tal pergunta é “eu creio que sim”, ou “existem estudos que mostram que o lobisomem existe”,  ou “sim, em alguns lugares existem lobisomens”.  Ou seja, todas essas são declaração que deixam a dúvida no ar.  São vagas e convencem menos  espectadores.  

Terceiro Passo

 Em quê o senhor se baseia para dizer que lobisomens existem? 

Dr. Cristal, agora, vai começar a contar uma história totalmente mentirosa, que  chamamos de fictícia para ser elegante, mas é mentirosa mesmo.  Vai desfiar mentiras uma atrás da outra. 

Veja bem. Na universidade de Keysland que fica no Oeste de Minnesota do Norte, nos Estados Unidos, quatro pesquisadores conseguiram capturar um exemplar de um mutante, que era metade homem, metade lobisomem, um tipo de chupa-cabra. Esse mutante quando foi encontrado já estava muito doente e morreu no laboratório da faculdade.  Mas, antes de morrer, se puderam fazer vários estudos com ele e comprovou-se que o seu DNA é uma mistura do DNA humano com DNA de um canídeo.  Esse estudo está disponível na internet e saiu nas revistas de biologia mais respeitadas do mundo.  Esses pesquisadores estão na fila para ganhar o prêmio Nobel por essa descoberta. O lobisomem continua na universidade, no laboratório, onde está sendo preservado congelado.  Está lá à disposição de quem quiser. Muitos cientistas do mundo inteiro vão lá estudar esse essa espécie. Em outra experiência, um cientista da Universidade de Krakoverych da antiga União Soviética, hoje Rússia, se não me engano, o  Doutor Petrusvobda, cientista muito famoso na Rússia,  colheu uma amostra de pele do espécie que estava na universidade nos Estados Unidos enquanto ele ainda estava vivo e transplantou essa pele para uma cobaia na Rússia.  Essa cobaia vive até hoje com esse transplante de pele que provou uma teoria que era muito pesquisada e muito discutida.  A pele parece pele humana, mas na noite de lua cheia - quando a lua cheia cai numa sexta-feira - nascem pelos, ficando a amostra coberta de enormes pelos que, no sábado, no outro dia, portanto, desaparecem. Isso já está comprovado. Existem vídeos, fotos e testemunhos atestando o fenômeno. Está tudo aí para quem quiser procurar.  Pode colocar no Google e vai ver a experiência do doutor Petrusvobda.

Pronto! Essa é a história ficcional que o Dr. Cristal conta. Mentira de cabo a rabo.  Você escutou tal história que foi contada como se fosse uma pura verdade.  Mas, diria você, será isso possível? Ele está tão seguro. Sim, mentindo com segurança.

A lógica do esquema é que ele está prevendo que você, sentado em sua cadeira, está confiante no que está sendo dito – e como está sendo dito -  e diante disso não vai procurar uma confirmação no Google. Pouquíssima gente que o assiste, talvez ninguém mesmo, fará isso. A preguiça e aversão de se informar por si próprio impedem tal atitude. Então é mais fácil, muito mais cômodo,  você acreditar no que cara contou, sem se levantar da cadeira. 

“Olha aí: eles são cientistas americanos e Russos. Olha aí:  eles estão comprovando a história. Não há dúvidas, mesmo porque o cara mandou a gente pesquisar para confirmar.”  

Esse é o modo moderno de se informar: conhecer as “verdades” pela televisão. 

Quarto passo

O próximo passo é uma pergunta que foi entregue ao entrevistador para que faça justamente para inserir o contraditório. Claro, isso não pode faltar.

Muito bem Dr. Cristal. Mas há um problema. Sei que o Sr. conhece o Dr. Philip Garlic, o Dr. Joe Onion e o Dr. Karl Carrot,  todos cientistas mundialmente famosos que dizem que essa história que o senhor contou aí não é verdade, não tem nada científico nela, não tem nada provado.  E fizeram vários estudos que foram publicados por revistas sérias mostrando que tudo isso não passa de uma farsa e que, definitivamente, lobisomens não existem.

Aqui está um ponto crucial. Essa pergunta foi dada pelo próprio entrevistado ao entrevistador para que ele possa defender sua história e contestar os estudos dos cientistas oponentes. Lógico que ele não tem argumentos para contestar tais cientistas, mesmo porque sabe que só contou mentiras. 

Então o que ele vai fazer agora é usar a arma preferida e usada ad nauseam por todos que não possuem argumentos para rebater a tese de alguém: o ataque ad hominem . Ele vai atacar somente a pessoa do cientista, nada vai falar dos estudos que os oponentes fizeram provando que essa história do lobisomem é falsa.

Você vai me desculpar, mas tenho que dizer algo: essas  pessoas não são sérias. O Dr. Garlic é um trambiqueiro;  já foi acusado duas vezes de bater na mulher; quando tinha 18 anos passou um cheque sem fundo e  teve o seu laboratório fechado pela polícia por falta de pagamento do aluguel. O Dr. Onion foi acusado de maus tratos; quando era jovem foi preso por embriaguez, teve também sua carteira de motorista apreendida por furar sinal de trânsito e foi expulso da república por fazer baderna na faculdade. O Dr. Carrot era um pobre coitado que nasceu na favela; mal estudou, vivia catando lixo quando era jovem e por sorte e caridade conseguir uma bolsa e se formou sabe-se lá como. Sua mulher está internada para se livrar do vício do álcool.  São pessoas que não merecem o nosso crédito, são mentirosos e são processados por tudo que publicam. 

É isso aí.  Ataques somente às pessoas dos cientistas. Nem uma palavra sobre os estudos feitos. E o pior é que isso causa um enorme no impacto no público crédulo. 

Pronto. Nosso amigo já completou mais um passo, ou seja, atacou as pessoas que são contra a história de lobisomem, sem tocar nos estudos. Ele não tem argumentos para ir contra os cientistas sérios.

Isso em religião é muito comum, ou seja, o “pastor” fala defendendo sua religião: 

O cara está falando que Arca de Noé não existiu porque ele não acredita em nada; ele é um ateu; é um cara que não vale nada; as ideias dele ninguém segue; é um cara mal humorado; é um cara que despreza a sociedade, é um nazista.

Anote aí: 

Sempre que você presenciar alguém atacando pessoas e não ideias, pode tomar partido da pessoa atacada. 

É ela que está certa.

Quinto Passo

Finalmente a entrevista está acabando.  Nosso amigo já disse a verdade definitiva, já contou a história mentirosa, já colocou para escanteio os cientistas que são contra ele e agora  vem com uma história bomba ou seja uma história que parece uma notícia de última hora

Muito bem Dr. Cristal. Esse assunto é realmente apaixonante e estamos honrados em ter uma pessoa de tal quilate aqui, como nosso convidado. Nosso público agora está sabendo dessa nova  informação de que a existência dos Lobisomens é real mesmo e poucos ainda terão dúvidas a esse respeito.

Mais uma deixa combinada com o entrevistador. Ela abre a porta para o final apoteótico da entrevista, com mais uma mentira grosseira. 

Na realidade, não pairam mais dúvidas. Para os céticos eu vou lhes dizer outra coisa. O cientista Dr Krocodyl Rabonovsky, um russo naturalizado americano, da Universidade de Nebraska do Norte, nos Estados Unidos, descobriu uma tribo de índios na Polinésia Ocidental Central que não tem contato algum com a civilização. Essa tribo é de canibais. Eles ainda praticam o canibalismo e mumificação de crânios humanos. Nenhum civilizado jamais fez contato com eles e não ser o Dr. Robonovsky que, com muito custo, conseguiu acessá-los. Pois bem, o que ele descobriu foi que ali eles criam lobisomens.  É de se espantar, não é mesmo? Existem lobisomens lá e eles os criam, mas não deixam ninguém se aproximar. O Dr. Rabonovsky gravou filmes e tem vários vídeos na internet em que ele mostra os lobisomens.  Estão vivos e são criados em cercados como se cria porcos e galinhas.  Isso também está em todas as revistas científicas do mundo e o Dr Rabonovsky mostra a quem quiser. É só você pesquisar que você vai ver. 

Está aí uma bela entrevista sobre uma história mentirosa, com exposição de verdades definitivas, ataque pessoal aos detratores e no final uma história bomba para confirmar o que foi dito.

Finalizando analisemos uma conversa real em um podcast – omitiremos nomes por motivos óbvios – que traz várias lições de enganação.

Eu queria dizer duas coisas para a galera que está vendo. Não quero dar “carteirada”. Não gosto de treta.  Eu falo com classe, pois não gosto de barraco. Eu gosto de trazer comigo a voz da razão.

Aqui o entrevistado faz uma espécie de apresentação. Veja o modo direto. Parece que são verdades definitivas e o público já começa a aumentar o seu nível de respeito e credibilidade com ele. Aliás, o cara é campeão de audiência e é convidado para dezenas de podcasts. Atenção, pois agora ele vai sutilmente dar carteiradas, que é nada mais do que se jactar de ter um alto conhecimento. Seguindo:

Na área do conhecimento tem onde você se especializa e tem onde você não se especializa.

Uma frase óbvia, redundante, mas que tem a função de preparar o público para saber as áreas do conhecimento em que ele se “especializou”.

Se eu fosse conversar sobre arqueologia, crítica textual do Antigo Testamento, sobre hebraico, empréstimos da língua persa no livro de Daniel, e outras coisas técnicas ele não entenderia...

Pronto. Deu a carteirada de forma disfarçada. O sujeito é um gênio. Mas vai continuar:

Ainda na semana passada, sem querer ser exibicionista, eu dei uma aula no curso de pós-graduação tal, tal, tal.

Sendo exibicionista e dando carteiradas. E continua com a demonstração de que é um conhecedor profundo de vários assuntos, carteirando sem dó nem piedade:

Se a pessoa não tem conhecimentos não adianta vir discutir comigo, por exemplo, sobre a escrita cuneiforme arcadiana, ou  como sei que a datação de uma cerâmica Romana é diferente de uma cerâmica bizantina ou do período de Ferro

Finaliza com outra “verdade definitiva”:

O próprio Darwin disse:  o olho que é a parte mais complicada da evolução pois você não pode explicá-lo pela evolução

O que acontece com esse sujeito? Simplesmente é um cego de olho só na terra de cegos dos dois olhos. E esperto. Ele jamais se deparou, nessas entrevistas, de leigos entrevistando sabichões, com algum cientista sério das áreas relativas aos assuntos que ele diz ser especialista. 

Você acredita mesmo que o sujeito saiba algo de escrita cuneiforme? Ou de persa? Ou de hebraico? Quem vai conferir se ele fala a verdade? Você acha que não existem dezenas de trabalhos de cientistas sérios, mostrando como foi a evolução do olho? Você sabe inglês para ler tais trabalhos? Não. 

E quem vê todas essas rodadas de enganação na TV, quem escuta sentadinho na cadeira, vai falar: 

“Caramba, eu não sabia disso”.  Não é que os lobisomens existem;  não é que as Sereias existem,  não é que  vampiros existem? E que sujeito inteligente é esse aí. Quantos cursos, quantas áreas de conhecimento. Ele, com certeza, fala a verdade. 

Ato contínuo, se levanta, vai tomar uma cerveja, ver futebol, acreditando que adquiriu novos conhecimentos pela televisão.

Coitado ingênuo! Pobre Brasil!