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28 de jul. de 2023

Sofismas de Cálculos

Sofismas de Cálculos

L. Vallejo

1995

Continuando a leitura de Malba Tahan,  tiramos mais alguns exemplos de aplicação da matemática em alguns sofismas dos livros “O Homem que Calculava” e “Matemática Divertida e Hilariante

 1 -  Emprestei a dois amigos (Alex e Roque) a quantia de R$ 1.000,00 (500,00 para cada um). Como são pessoas queridas, não cobrei juros.

 

Alex pagou assim:

Roque pagou assim:

Pagou

Ficou Devendo

200,00

300,00

150,00

150,00

100.00

50,00

50,00

0,00

Soma

500,00

500,00

 

Pagou

Ficou Devendo

200,00

300,00

180,00

120,00

30,00

90,00

90,00

0,00

Soma

500,00

510,00

 


Como explicar a diferença de 10,00 que aparece na forma de pagamento feita por Roque, já que eu recebi integralmente o total da dívida?

?????


2 – Paulo Silva trabalha numa multinacional e estava reformando sua casa. Precisando de dinheiro  vendeu ao Perneta, um barraqueiro da feira de Acari,  um relógio Rolex por R$ 6000,00. Recebeu um cheque nesse valor. Na transação teve um lucro de R$ 4000,00.


Silva, no mesmo dia, passou o cheque para um colega do escritório, João Santos, adquirindo dele um notebook. Santos também teve, nessa transação, um lucro de R$ 4000,00.

 
Santos, adquiriu de outro colega de escritório, Pedro Cunha, pelo valor de R$ 6000,00 um sistema de ar condicionado para o seu carro. Pagou com o mesmo cheque que recebera de Silva. Nessa transação, Cunha teve um lucro de R$ 500,00. Cunha, precisando do dinheiro, foi ao banco descontar o cheque e aí constatou que o mesmo era falso.

 
Procurou Santos e Silva e exigiu que o indenizassem. Silva, que havia ganho R$ 4.000,00, pagou metade do cheque, dando R$ 3000,00 a Cunha. Santos, que igualmente lucrara R$ 4.000,00, deu a outra metade. E rasgaram o cheque pirata.

Assim a transação ficou resumida em:
 

Silva lucrou

R$ 1000,00

Santos  lucrou

R$ 1000,00

Cunha  lucrou

R$   500,00

Houve um lucro de R$ 2500,00 e o Perneta, que passou o cheque falso, ainda ficou com um relógio Rolex de R$ 2000,00. Como pode uma pessoa proporcionar a três pessoas tal lucro e ainda ficar com o produto da fraude? Quem ganhou e quem perdeu na realidade?

 SOLUÇÕES

 1 - A coluna “ficou devendo” é uma falácia, pois, na realidade, não tem nada a ver com os pagamentos. No primeiro exemplo, a soma do restante da dívida foi igual ao valor da dívida por puro acaso. 

Alex pagou assim:

Roque pagou assim:

Pagou

Ficou Devendo

200,00

300,00

150,00

150,00

100.00

50,00

50,00

0,00

Soma

500,00

500,00

 

Pagou

Ficou Devendo

200,00

300,00

180,00

120,00

30,00

90,00

90,00

0,00

Soma

500,00

510,00

 

 Veja outro exemplo:

 

Pagou

Ficou Devendo

1,00

499,00

1,00

498,00

1,00

497,00

497,00

0,00

Soma 

500,00

1.494,00

 

=========================

2 – Existem, no enunciado, vários sofismas jogando com o valor do lucro. Para resolver questões como essa, sempre se deve partir, como no primeiro problema, pelo valor existente antes do negócio e passar a distribuir o que cada um realmente possui em cada fase da operação. Vamos ao quadro:
 

Pessoas

1- Valores antes do negócio

2 - Valores depois do negócio

3 - Valores do Patrimônio

Desconto

cheque

4 - Valores do Acerto

Cheque rasgado

 

5 – Depois do acerto Patrimônio

(3-1+4)

6 – Perdas

 negativos

7 – Lucros

 positivos

Perneta

0,00

Cheque frio

2.000,00 rolex

2.000,00

rolex

0,00

2.000,00

0,00

Cheque frio=0,00

2.000,00

Silva

2.000,00 rolex

2.000,00 laptop

2.000,00

laptop

-3.000,00

-3.000,00

-3.000,00

0,00

Santos

2.000,00 laptop

5.500,00

   ar

5.500,00

ar

-3.000,00

500,00

0,00

500,00

Cunha

5.500,00

   ar

6.000,00 cheque frio

Cheque frio=0,00

6.000,00

500,00

0,00

500,00

Total

15.500,00

15.500,00

9.500,00

0,00 

9.500,00

-3.000,00

3.000,00


Na coluna 1 está discriminado o que cada um possuía e o seu valor. Veja que o que cada um lucrou na venda não tem importância quanto ao patrimônio da pessoa, já que o cheque foi passado para frente. Somente o último, aquele que desconta o cheque é quem vai sentir os efeitos da má negociação. 

Na coluna 2 está o valor de cada objeto. Se Silva lucrou 4 mil numa transação de 6 mil, então o valor do bem é 2 mil. A mesma coisa para o valor do laptop de Santos. Cunha teve lucro de 500 numa transação de 6 mil. Então o bem valia 5.500.

Então, na coluna 3, mostra-se como ficou o patrimônio de cada um. Na coluna 4, o que cada um pagou para  “acertar” o negócio e rasgar o cheque falso e o valor que ficou na mão de Cunha.

Na coluna 5, está o valor do patrimônio de cada um, no final. 

Perneta, que tinha zero (cheque frio de 6 mil =0) ficou com o rolex, no valor de 2 mil. Silva trocou o rolex pelo laptop (sem lucro) e ainda desembolsou 3 mil. Ou seja, teve um prejuízo de 3 mil. 

Santos, pela negociação marota, baseada no lucro fictício, ficou com o ar que valia 5500, mas pagou 3 mil. Ou seja, entrou no negócio com 2 mil do lap top e ficou com 2500. Lucrou 500. 

Cunha, entrou no negócio com o ar, que valia 5500 e ficou com 6 mil. Lucrou 500. Então o lucro total (3 mil) tem que ser igual ao prejuízo. Assim, lucraram Perneta, Santos e Cunha. E Silva pagou o pato.

Veja agora, se o cheque tivesse fundos:

 

Pessoas

1- Valores antes do negócio

2 - Valores depois do negócio

 

 

 

6 – Perdas

(2-1) negativos

7 – Lucros

(2-1) positivos

Perneta

6.000,00

2.000,00 rolex

 

 

 

- 4.000,00

0,00

Silva

2.000,00 rolex

2.000,00 laptop

 

 

 

0,00

0,00

Santos

2.000,00 laptop

5.500,00   ar

 

 

 

0,00

3.500,00

Cunha

5.500,00   ar

6.000,00

 

 

 

0,00

500,00

Total

15.500,00

15.500,00

 

 

 

- 4.000,00

4.000,00

 
Se o cheque tivesse fundos, o Perneta levaria o prejuízo de 4 mil, Silva não perderia nem ganharia, Santos ganharia 3.500 e Cunha, 500.

Soluções elaboradas por L Vallejo.