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30 de set. de 2025

Soylent Green - Profecia que se cumpre

 

Infelizmente, um Filme Profético

SOYLENT GREEN

 
L Vallejo
25/09/2025


Em 2023, 50 anos após seu lançamento, Soylent Green (No Mundo de 2022) foi oficialmente adicionado ao National Film Registry. Ainda, o filme foi reconhecido pela Biblioteca do Congresso como culturalmente, historicamente e esteticamente significativo. 
 
Em 1970, 20 milhões de americanos participaram do primeiro Dia da Terra. Uma das previsões mais alarmantes daquele tempo foi a do biólogo de Stanford, Paul Ehrlich, que previu um futuro em que "a população inevitavelmente e completamente superará qualquer pequeno aumento no suprimento de alimentos que fizermos", resultando na morte por fome de centenas de milhões. Hollywood percebeu isso e lançou uma série de filmes sobre desastres ecológicos nos anos seguintes.

Erlich é conhecido por suas profecias apocalípticas que não se cumpriram, estando a serviço inteiramente do globalismo para implantar um governo mundial.

Nessa onda de “falta de água”, “falta de alimentos”, “mudanças climáticas”. “derretimento de gelo dos polos”, “aumento do nível do mar”, etc, desde a década de 1970 o mundo foi inundado de previsões destrutivas sem que, com o passar dos anos, houvesse acontecido qualquer catástrofe relacionada a tais previsões.

Mas muita gente ganhou dinheiro com esses vaticínios. Um deles foi Harry Harrison autor do romance de 1966, “Make Room! Make Room!”. O livro se passa em 1999, quando a população do planeta era de 7 bilhões e praticamente tudo, incluindo água, era racionado para todos, exceto para os ultra-ricos. E  a população vive amontoada nas grandes cidades, lutando para sobreviver, sem  casa, comida e água, enquanto os governantes vivem em áreas privativas, onde o povo não tinha acesso,  no luxo, sem qualquer racionamento, com víveres e água a vontade. Em Make Room! um dos alimentos populares eram aos "bifes de Soylent" feitos de soja e lentilha (soy + lentil). O livro pinta um quadro sombrio de desespero sobre a superpopulação e a pobreza

Uma produção de Hollywood, seguindo a onda do apocalipse, foi “Silent Running”, (Corrida Silenciosa) de 1972, um filme de ficção científica mostrando que toda a vida vegetal na Terra tinha sido extinta e os únicos vegetais existentes são cultivados em domos, grandes estufas supervisionadas por equipes de técnicos.

Isso deu material para o roteirista Stanley R. Greenberg criar o enredo para “Soylent Green”, 1973.  O roteiro teve a contribuição de cientistas de verdade. Greenberg consultou pesquisadores do Population Council e think tanks ambientais como o Clube de Roma, cujo relatório de 1972, "Limites do Crescimento", havia acabado de alertar sobre o colapso ecológico. Os cientistas ajudaram a moldar detalhes para o enredo, como a população de Nova York, de 20 milhões de pessoas, o calor da atmosfera e o esgotamento do solo que levou à produção de alimentos sintéticos.

Dirigido por Richard Fleischer a narrativa de Soylent Green  se passa em 2022.  Conta a história de Nova York no ano de 2022, quando a população aumentou para inacreditáveis 40 milhões, e as pessoas vivem nas ruas e fazem fila para receber suas rações de água e Soylent Green. Uma cidade totalmente poluída, sofrendo com a superpopulação e o desastre ambiental. O filme evoca uma visão aterrorizante do futuro, com uma revelação monstruosa em seu final. A Terra está sufocando, a poluição cobre os céus, os oceanos estão mortos, as terras agrícolas desapareceram e bilhões se amontoam em cidades em colapso. As pessoas sobrevivem com substitutos  dos alimentos normais  feitos pela Soylent Corporation.

Tudo é escasso; apenas metade dos cidadãos tem emprego. Pessoas pobres vivem em carros e nos corredores e escadas de cortiços. As mulheres são completamente oprimidas; se elas são jovens e bonitas, tornam-se amantes, que são “mobília” dos apartamentos dos ricos.  Elas fazem parte do imóvel. A disparidade de riqueza é tão grave que parece um personagem em si.
Os ricos vivem em um luxo absoluto, em áreas separadas e vigiadas, onde os pobres não podem acessar. A maior parte dessa classe são altos funcionários da Soylent Corp., que domina toda a sociedade da cidade.

Soylent Green é um tipo de biscoito verde; que alimenta os 40 milhões de habitantes da cidade de Nova York em 2022. As rações de alimentos são processadas pela Soylent Corporation. Ela produz também o Soylent Red e o Soylent Yellow. Eles afirmam ser "concentrados vegetais de alta energia". Mas é o novo, Soylent Green, que está causando o burburinho. A Soylent Corp. alardeia que é feito de plâncton oceânico e tem propriedades ainda mais benéficas. Saudável e sustentável! 
 

 

Nesse ambiente assustador a única experiência agradável é a morte, uma ideia perversa de eutanásia onde as pessoas decidem "ir para casa", o eufemismo do filme para morrer. A pessoa  é levada a um edifício e instalado em uma sala refrigerada, onde recebe uma poção (veneno); enquanto ouve lindas peças de música clássica ele vê um filme das maravilhas de como a Terra era antes da catástrofe, aguardando o veneno fazer efeito. Quando morre, o corpo é levado pela Soylent Corp. para algum lugar, desconhecido de todos.

Charlton Heston interpreta o detetive Robert Thorn, que, junto com seu parceiro professor Sol Roth, interpretado por Edward G. Robinson,  investiga o assassinato de um rico membro do conselho da Soylent Corporation.

Como o filme tem mais de 50 anos, o final já não é mais segredo, por isso pode ser analisado aqui. Escusado dizer que, assim como, por exemplo,  “Witness for Prosecution” (1957), “Planet of the Apes” (1968)  e “Invasion of the Body Snatchers” (1978), tiveram finais surpreendentes – eu mesmo fiquei chocado quando os vi pela primeira vez, sem spoiler – Soylent Green teve um final inusitado e controverso.

Na sequência final, o filme evoca uma revelação sombria: o canibalismo.  Soylent Green não é feito de plâncton marinho. Como Thorn  revela no momento mais icônico do filme: "São pessoas! O Soylent Green é feito de gente!"

O filme se esforça para mostrar o caos no mundo e a disparidade entre as duas classes existentes: as pessoas comuns e os que governam. A filmagem foi feita em Hollywood, que estava sofrendo uma onda de calor sem precedentes. Fleischer aproveitou isso e utilizou o calor do ambiente para infernizar o elenco. Outra ação de Fleischer foi contratar como extras pessoas desvalidas que encontraram pelas ruas: sem teto, desempregados, andarilhos, mendigos, todos foram contratados para formar a multidão de pessoas no filme, a um preço de banana. As vezes até em troca de comida. Isso deu um realismo exótico ao filme.

Cenas emblemáticas ficaram marcadas na mente dos espectadores, como quando Roth vê um pedaço de carne, chora e pergunta: “Como foi que chegamos a isso?” Ou quando Thorn, no apartamento do poderoso membro da Soylent que foi assassinado, entra no banheiro e como se estivesse no paraíso, se lava na pia – que tem água e sabonete.

Existe na cidade um local chamado “Exchange” uma mistura de tribunal e biblioteca onde velhos que guardam os últimos livros existentes, sabem da verdade sobre o que acontece no mundo. Roth é um deles e ao ficar sabendo que os oceanos morreram e que não existe plâncton, decide se suicidar. Para isso existe “The Home”, ou seja, a casa, um prédio muito parecido com uma agência do INSS, onde os velhos se encaminham para ter uma morte amena. O serviço de eutanásia é eficiente e fornece ao candidato, além do veneno, 20 minutos de prazer visual e auditivo, em que o moribundo pode ver um filme mostrando como a Terra era antes de ser destruída, ao som de músicas que ele escolheu.

    
Roth toma o veneno e está vendo pela última vez as maravilhas da Terra ao som da Sinfonia nº 6 de Tchaikovsky, da Sinfonia nº 6 de Beethoven e de partes da Suite Peer Gynt de Grieg. Thorn chega e, espantado, consegue ver o filme. E diz que jamais poderia ter imaginado que a Terra era assim. 
 
Houve uma onda de protestos por várias entidades religiosas, em vários países, pela mostra da eutanásia e o canibalismo. Em alguns países islâmicos a revelação do que compunha o biscoito foi cortada. A Metro resolveu então cortar a cena final com tal revelação, o que somente não foi feito pela intervenção firme de Charlton Heston, que não concordou de forma nenhuma com tal procedimento. Graças a ele a obra não foi desvirtuada e o canibalismo feito por uma grande corporação de alimentos ficou no  filme como uma profecia.

O público ficou horrorizado, mas descartou isso como entretenimento. Mas talvez não devesse ter feito isso. Em 1973 as pessoas achavam que era apenas mais uma fantasia apocalíptica. Ruas lotadas, escassez de alimentos e uma corporação alimentando as massas com bolachas verdes. Coisa ridícula!  O filme foi comercializado como ficção científica. Mas e se não fosse ficção somente? E se fosse um aviso? Porque 50 anos depois, o mundo do Soylent Green parece menos fantasia e mais a manchete dos jornais de amanhã.

Um consultor teria dito a Greenberg: "O que você está descrevendo não é ficção científica. Está  apenas dando um salto para o futuro." E o futuro deu ao filme uma precisão perturbadora. Em vez de alienígenas ou robôs, o terror surgiu de tendências reconhecíveis. Aglomeração, poluição, corrupção, racionamentos, classe com vida luxuosa, povo esfomeado e escravidão foi isso que o tornou tão eficaz. A linha entre ficção e previsão, em 2025, praticamente inexiste.
 
Entre em qualquer supermercado em 2025. Os corredores não estão com alimentos frescos, mas lotados de caixas, sacolas e garrafas cheias de substâncias desconhecidas e produtos químicos.  Sabores naturais que não são naturais. Óleos de sementes projetados em laboratórios. Corantes artificiais associados a problemas de saúde. Carne cultivada em laboratório vendida como o futuro. Grilos e minhocas transformadas em proteína sustentável. Passo a passo, a comida de verdade desaparece. Substituída por produtos projetados não para nutrir você, mas para controlar você. 
 
E quem os controla? Os mesmos conglomerados com laços com governos, cientistas e mídia. Eles dizem que é seguro. Eles dizem que é progresso.  Mas será mesmo? Em Soylent Green, os  ricos tinham comida de verdade e à vontade. As massas comiam bolachas e eram instruídas a serem gratas. E os protestos eram reprimidos com violência, com as pessoas sendo atropeladas por pás carregadeiras.  
 
Hoje, os preços dos alimentos frescos disparam, enquanto a porcaria processada continua barata. Uma família não pode comprar uma cesta de compras, mas batatas fritas ainda custam uma bagatela. Produtos orgânicos custam o triplo dos processados. A carne bovina se torna um luxo, enquanto governos promovem alimentos substitutos cultivados em laboratório. Eles vendem a escassez e depois vendem a solução. Exatamente o que o filme mostrou, um sistema alimentar de duas camadas onde as elites comem a coisa real enquanto o resto da população engole substitutos. E é aqui que fica mais sombrio. No filme, a revelação foi o canibalismo. Soylent Green era um biscoito feito de carne humana, restos de cadáveres.

Por décadas, Soylent Green foi descartado como ficção pulp sombria. Mas no final, ganhou a honra que seus criadores jamais esperaram. Um filme sobre consumo, decadência e humanidade esquecida, agora imortalizado pela história. O que Soylent Green imaginou está sendo quase copiado pelo mundo. A verdade não apenas imitou a ficção.  E agora, décadas depois, o mundo que ele imaginou parece desconfortavelmente familiar. Superpopulação, pobreza, fome, acumulação de recursos, alimentos industrializados, controle corporativo. O filme nunca foi sobre o futuro. Era sobre o que acontece quando passamos o presente aceitando sem reagir  a imposição de cada passo do controle que vai descambar na escravidão.

Cinquenta anos depois do filme, vivemos em um mundo que ele previu com assustadora precisão. Alimentos envenenados, corporações no controle, elites festejando no luxo enquanto as massas comem alimentos artificiais substitutos ou morrem de fome e doenças. E aqui está o pensamento arrepiante. Se Soylent Green acertou em cheio na primeira metade da profecia, e se a segunda metade ainda estiver por vir? E se a próxima revelação for ainda pior do que imaginamos?